Se és um homem fas parte da cultura da violaçom. Sim, sei-no… soa duro: nom és necessariamente um violador, mas sim perpetuas atitudes e condutas às que comummente nos referimos como cultura da violaçom.
Seguramente estarás a pensar: “Alto ai, Zaron. Nem me conheces, irmao! Que me parta um raio se permito que digas que som um fanático das violaçons. Eu nom som desses, amigo”.
Sei como te sentes. A minha reacçom foi exatamente a mesma quando me dixérom que formava parte da cultura da violaçom. Soa mui mal, mas imagina andar polo mundo sempre com a possibilidade de ser violado. Isso é ainda pior! A cultura da violaçom é horrível para as que estám mergulhadas nela.
Mas nom te obsessiones com a terminologia. Nom te enfoques nas palavras rechamantes e ignores o que querem dizer: A expressom “cultura da violaçom” nom é o problema; sim o é a realidade que descreve.
Os homens somos os principais responsáveis e sustentadores da cultura da violaçom.
Os homens nom som os únicos que violam, nem as mulheres as únicas vítimas. Mas o que converte os homens nos seus máximos responsáveis é que estes cometem o 99% das violaçons denunciadas por mulheres (e calcula-se que umha imensíssima parte nom se denunciam nunca) -nom digamos, os abusos sexuais-. Similar percentagem, mulheres e nenas, quem som vítimas.
E ti, como fas parte da cultura da violaçom? Pois ainda que ódie ter que dizê-lo, simplesmente por seres homem.
Quando cruzo um aparcadoiro pola noite e vejo umha mulher caminhando diante minha, fago todo o possível para que saiba que estou perto e 1) nom se sobresalte 2) tenha tempo para sentir-se segura/cômoda e, até onde seja possível 3) poida saber que nom som umha ameaça. Fago isto porque som um homem.
Nom sei vocês, mas eu nom me passo a vida sentindo-me vulnerável. Aprendim que as mulheres passam a maior parte da sua vida social com sentimentos constantes e inevitáveis de vulnerabilidade. Para a pensar um momento. Imagina sentir que estás em perigo constantemente.(…)
Como homens modernos estamos na procura do perigo; elegemos a aventura e praticamos desportos extremos. Fazemos da nossa vulnerabilidade um jogo. Tanto assi difire a visom do mundo dos homens do das mulheres. (Isto digo-o tendo perfeitamente claro que há umha comunidade de mulheres que praticam desportos extremos que decote e da mesma forma ponhem em perigo as suas vidas. Porém, elas nom tenhem que participar em deportes de aventura que aumentem a adrenalina para sentir que estám em perigo)
Quando caminho só de noite rara vez temo pola minha segurança. Muitos de vocês sabem exatamente ao que me refiro. Muitas mulheres nom sabem o que se sente: mover-se livremente polo mundo a qualquer hora do dia ou da noite e sentir que nom vai haver nengum problema. De feito, o que sentem muitas mulheres é exatamente o contrário.(…)
Sendo honestos, nom concebo a ideia de ter que pensar tanto sobre o que tenho que fazer para proteger-me a mim mesmo em cada momento da minha vida. Desfruto da liberdade da que disponho para erguer-me e ir dum lugar a outro, de dia ou de noite, chova ou faga sol, a qualquer parte da cidade. Como homens damo-nos o luxo de deslocarmo-nos com tranquilidade e liberdade. Para entender a cultura da violaçom há que lembrar que a metade da populaçom nom desfruta desta liberdade.
Por esta razom, esforço-me em usar umha expresom corporal transparente e de agir de forma que minimize o medo e demais sensaçons que as mulheres puderem sentir. Recomendo-lhes fazer o mesmo. A sério, é o mínimo que qualquer homem pode fazer num espaço público para que as mulheres se sintam mais cómodas neste mundo que compartilhamos. Chega com que as tenhas em conta tanto a elas como o seu espaço pessoal.
É lógico pensar que é injusto que tenhamos que contrarrestar e trocar os nossos hábitos polo mal comportamento de outros tipos. Sabes que? Tens razom. ´É culpa das mulheres? Ou é mais bem culpa daqueles tipos que agem de forma infame e nos fam quedar mal aos demais? Se che preocupam as questons de ecuanimidade, descarrega a tua raiva sobre aqueles que fam que tanto ti como a tua forma de agir sejam questionáveis.
Quando se trata de analisar aos homens, o que um homem é capaz de fazer, umha mulher poderá supor que ti és capaz de fazê-lo. Isto implica que os homens poderemos ser julgados com base ao nosso pior exemplar. Se pensas que esta classe de estereotipes é pura merda, como reagirias se topasses umha serpe no campo, eh? Trataria-la como umha serpe, nom? Isto nom é estereotipar: é reconhecer o que um animal é capaz de fazer e o dano que pode infringir. (…) És um homem e as mulheres tratarám-te como tal.
Esse medo aos homens, lógico e comprenssível, é responsabilidade tua. Nom o criache ti, como tampouco criache as autoestradas. Algumhas das cousas que herdamos da sociedade som geniais, outras fam parte da cultura da violaçom.
Como nengumha mulher pode julgar de forma acertada as tuas intençons a primeira vista suporá que és como os demais tipos. No 73% dos casos a mulher conhece o seu violador. Entom, se ela nom pode confiar e avaliar com precisom as intençons dos homens que conhece, que che fai pensar que pode fazê-lo contigo, um completo desconhecido?
Já que fas parte desta, deverias saber que é a cultura da violaçom
Segundo a página web de Marshall University´s Women´s Center:
“A cultura da violaçom é um entorno no qual a violaçom prevalece e na que a violência sexual contra a mulher se normaliza e se justifica, tanto nos meios de comunicaçom como na cultura popular. A cultura da violaçom perpetua-se mediante o uso da linguage misógena, a cousificaçom do corpo da mulher e de fazer da violência sexual algo glamuroso, dando lugar a umha sociedade despreocupada polos direitos e a segurança da mulher”
A primeira vez que umha mulher me dixo que eu formava parte da cultura da violaçom opugem-me. Como muitos de vocês quigem dizer: “Um momento, eu nom som desses”. Em vez de fazê-lo decidim escuitá-la. Depois fum ver a umha escritora à que admiro e pedim-lhe que escrevesse um artigo comigo no que me explicasse a cultura da violaçom a mim e a leitores homens. Deixou de responder os meus correios electrónicos.
Ao princípio amolei-me. Mais tarde, quando me quedou claro que nom ia obter umha resposta, rematei por enfadar-me. Por sorte, sei que é aconsalhável nom responder quando se está enfadado; os tronos causam abraio, mas é a chúvia a que dá vida. Assim que deixei que a trevoada amainá-se e detivem-me a pensar ao respeito.
Fum dar um passeio, um desses que fam que se me “acenda a lámpada”.
Várias ruas mais alá da minha casa, ocorreu-se-me. Se tanto me importava a cultura da violaçom precisava sair a descobri-la por mim mesmo. Nengumha mulher está na obriga de dedicar-me o seu tempo polo simples feito de que quero saber algo que ela inerentemente comprende. Nengumha mulher tem o dever de explicar-me a cultura da violaçom só porque quero saber o que é. Nengumha mulher me deve umha merda. Vim como o desejo de que umha mulher me satisfigesse corria profundamente dentro minha. Incluso a minha curiosidade, umha das qualidades das que sempre me enorgulhecim, estava contaminada dessa presunçom androcéntica que alimenta a cultura da violaçom. “Era de aguardar” que me satisfigeram. Essa actitude é um problema. Assim que comecei a ler e seguim lendo até que entendim a cultura da violaçom e o meu lugar dentro dela.
(Também me poderia travestir para que os demais homens vissem em mim externamente umha mulher e sentir outro ponto de vista da cultura da violaçom).
Aqui lhes fago umha listagem de exemplos da cultura da violaçom:
-Culpar a vítima.
-Trivializar as agressons sexuais.
-Fazer brincadeiras arredor da misoginia e do feminicídio.
-Tolerar o acosso sexual.
-Exagerar as cifras denúncias falsas de violaçom.
-Esquadrinhar publicamente a vestimenta, saude mental, motivaçons e historial dumha vítima.
-Violência de género innecessária em filmes e televisom.
-Definir a “masculinidade” como dominante e agressiva sexualmente.
-Pressom sobre os homens de “ter que deitarem-se com alguém”
-Pressom sobre as mulheres de nom serem “frias”.
-Supor que só as mulheres promiscuas som agredidas sexualmente.
-Supor que os homens nom som agredidos ou que só os “débeis” o som.
-Refugar tomar a sério as acusaçons de violaçom.
-Ensinar-lhes às mulheres como evitar ser violadas em vez de ensinar-lhes aos homens a nom violar.
Daras-te conta rapidamente de que a cultura da violaçom desempenha um papel importante na dinâmica social dos nossos dias: as nossas interaçons pessoais giram arredor dela. Forma parte de todas as nossas luitas sociáveis, sociais e ambientais. A cultura da violaçom nom só tem a ver com o sexo. É o produto da atividade generalizada de supremacia machista. A violência sexual é umha expressom dessa atitude. (…)
Agora que já sabes o que é, que podes fazer com respeito a esta cultura?
-Evita o uso da linguagem que desumanize ou degrade as mulheres.
-Di algo se alguém trata de fazer umha brincadeira ofensiva com ou trivializadora das agressons sexuais -sabendo ademais que isso nom é humor nengum.
-Se umha amiga che di que foi violada, toma-a em sério e apoia-a.
-Sé analítico com as mensagens que recebes dos meios de comunicaçom sobre as mulheres, os homens, as relaçons e a violência.
-Respeita o espaço alheio em situaçons informais.
-Mantem comunicaçom constante com as tuas parelhas sexuais, nom suponhas que sempre há consentimento.
-Define o teu próprio conceito de masculinade ou feminidade. Nom deixes que os estereotipes guiem os teus atos.
Que mais podes fazer em relaçom à cultura da violaçom?
- Os homens podem confrontar outros homens
Nom estou a falar de violência, isso é precisamente o que queremos evitar. Porém, às vezes um homem tem que confrontar outro homem ou um grupo de homens em determinadas situaçons.
Quando estou em público e vejo outro homem acossando umha mulher detenho-me e asseguro-me de que a mulher em questom me veja. A minha intençom é que se saiba que som perfeitamente consciente da situaçom e de que estou aguardando um sinal de ajuda. Às vezes a minha só presença fai que o tipo se vaia se é um desconhecido ou que cambie imediatamente de atitude se se conhecem de antes. Por isso sempre me detenho quando vejo que outro tipo molesta umha mulher em público seja qual seja a razom. Aseguro-me de que qualquer mulher, isolada de outras mulheres, no que poderia converter-se numha situaçom violenta, encontre a oportunidade para fazer-me saber que precisa ajuda. Tenho umha irmá pequena de forma que essa resposta é praticamente instintiva. Sempre que contemples umha situaçom que semelha sair de controlo, e especialmente se alguém está pedindo ajuda ou esteja sendo atacada, deves imiscuir-te, molhar-te, tomar nota da informaçom pertinente, alertar a grupos feministas ou outras autoridades. Fazer algo.
2. Os homens podem corrigir outros homens
Se outro tipo começa a fazer comentários ofensivos, de conteúdo misógeno, ergue a voz, corta-o, di-lhe a essa pessoa (poderá ser um colega, um vizinho, um companheiro de trabalho, etc.) que as lérias, palavraria, tentativa de brincadeira falando de violência sexual som umha merda e que nom os vas tolerar. (…) Quando um tipo diz cousas passadas de rosca -e sabe-lo, todos temos ouvido de todo- devemos-lhe fazer entender ao tipo que o que ele quer fazer passar por broma em relaçom às violaçons ou a sua analogia “é umha puta” som desagradáveis e parar-lhe os pés.
3. Os homens podem fazer que outros homens calem a puta boca
Pomo-lo assim. Estás com um grupo de homens e um deles começa-lhe a berrar algo a umha mulher. Mui singelo, di-lhe que feche a puta boca. Que nom te amole defender a mulher. Sempre e quando nom estejas tratando de ganhar pontos por “protegê-las”. Elas nom precisam redentores. Só estás a fazer o correto. Há que pôr-lhe fim à imbecibilidade que chamam “piropeio”.
Trabalhando no campo da construçom foi como aprendim a alçar a voz ante um grupo de homens. Tens que fazê-lo, sobre todo por respeito a ti mesmo. Doutra forma, nom és mais que um ser patético. Nom observes caladamente determinadas situaçons, se se dam. Um piropo de longe a umha mulher é tratar verbalmente como objecto sexual por parte dum homem ou grupo de homens. Cala-lhes a puta boca.
4. É o nosso dever estabelecer normas de conduta para nós mesmos e para os homens em geral.
Quando mulheres de todo o mundo compartilham as suas experiências, os seus traumas, as suas histórias e os seus pontos de vista pessoais, como homem, nom devemos imiscuir-nos nesse debate. Nesse momento o que temos que fazer, em todo caso, é escuitar e refletir, que as suas palavras cambiem a nossa forma de ver o mundo. O nosso trabalho está em perguntarmo-nos como podemos melhorar as cousas.
*Publicado originalmente em Hufington Post. Traduçom do Galiza Livre.