O fundador de WikiLeaks, Julian Assange, aguarda na prisom de Belmarsh a sua extradiçom aos USA, baixo graves imputaçons que poderiam supor a sua reclusom a perpetuidade. Assange, editor e jornalista australiano que ganhara fama mundial pola iniciativa WikiLeaks (filtraçom de documentos segredos dos USA que revelavam inúmeras ingerências imperialistas), enfrenta umha difícil situaçom penitenciária que motivou, nesta semana, a denúncia de mais de cem profissionais da medicina. Numha carta publicada na segunda feira em The Lancet, doutores advertem que existe negligência médica e “indícios de tortura psicológica”.

Julian Assange procurara protecçom legal refugiando-se na embaixada do Equador no Reino Unido, e trás sete anos de reclusom, a polícia británica, com cumplicidade ecuatoriana, arrestou-no. Assange tem que cumprir umha pena de um ano de prisom na Inglaterra, enquanto aguarda extradiçom. Os Estados Unidos acusárom Assange por violar a Lei de Espionagem de 1917, acusaçom que foi muito questionada em Norteamérica, mesmo por vozeiros do sistema.

As suspeitas dumha penosa nom condena nom som novas. No passado ano, o enviado da ONU, Nils Melzer, exigiu que parasse a “perseguiçom colectiva” do jornalista, e afirmou que estava a padecer tortura psicológica. Nesta semana, a denúncia demonstrou-se certa.

Prisom de Belmash, onde Assange aguarda extradiçom

Na passada segunda feira, 117 médicos publicárom um manifesto que exige actuaçons imediatas dos governos británicos e australianos em relaçom com a saúde do reporteiro, e com a sua situaçom penal. Na revista científica The Lancet, profissionais de 18 nacionalidades advertem que a saúde de Assange sofre um deterioramento progressivo desde 2015, quando ainda era um refugiado na embaixada de Ecuador. Na altura, o australiano submeteu-se aos primeiros exames médicos, que indicavam certas dificuldades físicas, mas, segundo os doutores, “as opinions dos expertos foram ignoradas constantemente.” Para os assinantes, o jornalista, vítima dum caso de perseguiçom política, está a ver negado o seu direito fundamental à atençom médica, “o seu tratamento está rodeado por um clima de medo”, e a confidencialidade doutor-paciente estaria a ser posta em causa. Médicos afirmam portanto que “a profissom médica nom pode pôr-se do lado da tortura”, em alusom ao possível mau trato psicológico que padece Assange, e que ainda agravaria os seus problemas de saúde física.

Jornalistas intervenhem

Por seu turno, parte da profissom jornalística continua a sensibilizar o mundo sobre o que consideram umha “injusta extradiçom” de Assange aos USA, onde se enfrentaria a um difícil panorama. A petiçom lança-a Reporteiros sem Fronteiras, e recorda que o “delito” de Assange foi revelar as chaves que movem a política belicista de Washington em todo o mundo. Assange valera-se neste labor investigador das informaçons fornecidas pola ex-agente de inteligência norteamericana no Iraque Chelsea Manning, que fijo possível a publicaçom de 750000 informaçons. Os informes confidenciais foram enviados posteriormente a The Guardian, New York Times e Le Monde, o que dera lugar a um escándalo mundial, e pugera a nu a vontade da administraçom norteamericana de curtar de raiz qualquer jornalismo realmente dissidente.

Reporteiros sem Fronteiras pom em causa que a difusom de tais conteúdos fosse “um acto de espionagem”. Antes disso, os jornalistas entedem-no como “um acto de interesse público”. Através deles, o público mundial puido comprovar o amplo leque de medidas alegais e ilegais que os Estados Unidos tomavam para vulnerar a soberania nacional de muitos povos do mundo, além de ratificar a normalidade com a que se utilizava a guerra suja dos cárceres segredos, a tortura e as desapariçons forçosas. Entre os milhares de abusos registados, salienta um de especial interesse para o jornalismo crítico: no video “Collateral Murder”, publicado por WikiLeaks, demonstra-se que o reporteiro Namir Noor-Eldeen foi assassinado em Bagdad em 2007 por um ataque estadounidense.

Entre as muitas revelaçons de WikiLeaks, salienta o da responsabilidade dos USA no
assassinato do jornalista de Reuters Namir Noor Elden em 2007.

A exigência de nom extradiçom de Assange pode ser um bom teste democrático para um Reino Unido que sempre secundou sem hesitaçom as grandes directrizes do seu aliado à outra beira do Atlántico. Reporteiros sem Fronteiras entende que a operaçom devesse ser blocada, e Assange libertado, em nome “da liberdade de expressom e a defesa do jornalismo.” Para a associaçom de jornalistas, a legislaçom británica e os compromissos internacionais em matéria de direitos humanos contradizem a extradiçom.

Inibiçom e cumplicidade

Porém, a defesa pública de Reporteiros sem Fronteiras nom é, nem de longe, a atitude dominante no mundo jornalístico. Em 2018, o director de Le Monde Diplomatique, Sege Halimi, manifestara que “o ensanhamento das autoridades estadounidenses com Assange reforça-se pola covardia dos jornalistas que o abandonam à sua sorte”. Halimi mesmo nomeou o caso extremo de Christopher Matthews, jornalista do canal MSNBC, que chegou a pedir aos serviços segredos do seu país “actuarem ao estilo israeli e sequestrar Assange.”

Mais perto de nós, o jornal espanhol em 2011 decidira-se a rachar publicamente com WikiLeaks, argumentanto que a publicaçom na íntegra das filtraçons, sem proteger o nome das fontes, punha em perigo a vida das pessoas e “transforma por completo a causa à que serve.” “A organizaçom de Assange pode converter-se num perigo para servir os direitos humanos”. El País rejeitou que WikiLeaks socializasse a sua informaçom sem contar mais com os grandes cabeçalhos da imprensa capitalista occidental, e chegou a afirmar que “Assange abandona a deontologia pola que se rege o jornalismo com o que estám comprometidos esses meios.” O calculado distanciamento de Assange pujo de destaque até que ponto os grandes jornais estám dispostos a deitar luz sobre os esgotos do imperialismo.