Fago desporto desde que tenho acordo. Quando era criança corria polos caminhos da minha aldeia, gaveava polas árvores para roubar fruta ou procurando ninhos, jogava ao futebol no médio da estrada tendo que interromper o jogo quando passava um carro –afortunadamente, a finais dos anos 80 e inícios dos 90 poucos carros passavam pola minha aldeia– e nadava nas pequenas praias que há na minha paroquia. Como qualquer rapaz da minha época, joguei numha equipa de futebol, e na escola também joguei ao basquete, ao voleibol, ao xadrez, ao brilé –embora o Estraviz diga que é um jogo de mulheres–, ao tênis de mesa, ao rúgbi e nom sei a quantos desportos mais. Gostava de todos eles e precisamente por isso os praticava. E gostava deles porque os fazia com os meus amigos.

Quando era adolescente comecei a remar e gostava, mas resultou que ademais, dava-se-me relativamente bem. Ao pouco tempo já era campeom galego e estatal. Isto, ter sucesso na competiçom, fixo que recebe-se muitos elogios e afagos, que recebe-se mais atençom, o qual sempre é agradável. De aí que continua-se praticando este desporto com mais “seriedade” para assim poder repetir os êxitos. Agora já levo mais de vinte anos a praticá-lo, e continuo a gostar. Nestes vinte e tantos anos os êxitos nom sempre acompanhárom. Houvo anos de vacas fracas, e naqueles anos muitos companheiros decidírom marchar a outros clubes da elite do remo, bem por “ambiçom” desportiva, porque teriam aspiraçons maiores que as minhas, bem por questons económicas, quer dizer, por um salário. Mas muitos, os parvos, como nos tenhem dito, por um ou outro motivo, ficamos.

Umha necessidade
Logo de mais de vinte anos a fazer desporto a diário, cheguei às minhas próprias conclusons. Nom me sinto identificado com o desporto-espetáculo: Imposible is nothing, superaçom, romper os límites,… Nada, o discurso dominante nom me representa. É possível que do desporto se tirem liçons para a vida adulta, nomeadamente para o mundo da exploraçom laboral: a disciplina, a capacidade de sacrifício, a auto-exigência de melhora constante. Podem ser aprendizagens valiosas para ser explorado mais eficientemente. Seguramente. Mas isto nom é o que me leva a fazer desporto. E o axioma que dize “se queres, podes”, é mentira. Nom é mais que umha enxurrada capitalista que fai que te sintas culpável por nom conseguir os teus objetivos.

O economista e ambientalista Manfred Max Neef estabeleceu que as necessidades humanas fundamentais som poucas, finitas e classificáveis, e som as mesmas em todas as culturas e em todos os períodos históricos. Podemos resumir estas necessidades em nove: subsistência, proteçom, afeto, entendimento, participaçom, ócio, criaçom, identidade e liberdade. Estas necessidades nom estám culturalmente determinadas, mas sim o estám o jeito de satisfazê-las.

Eu estou convencido, e isto é apenas um parecer pessoal, que o desporto é a atividade que mais necessidades satisfai: Ócio e participaçom? Obviamente, aqui nom há muita discussom. Liberdade? Acho que no sistema econômico e político atual, o desporto é um dos poucos campos nos que ainda temos algo de liberdade. Afeto? Como já dixem mais arriba, também, ainda que este afeto muitas vezes esteja modulado polos sucessos obtidos. Mas eu creio que a necessidade que melhor satisfai o desporto de equipa em geral, e nomeadamente o remo, e a identidade. O sentimento de pertença a um grupo, e os vínculos que nele se criam, som os que constroem a nossa identidade. Umha sociedade –saudável– nom é umha soma de indivíduos, e a identidade nom é a soma dos nossos gostos nem das nossas preferencias de consumo, como quere fazernos pensar o think tank liberal. Apenas os vencelhos fortes dumha comunidade e o compromisso dum projeto comum criam a identidade. E creio que é por isso que fazemos desporto, polo sentimento de pertença.