A tensom crescente no congresso espanhol nom passa desapercebida a ninguém. E mesmo para o observador mais desapaixonado significa que questons de releváncia se estám a jogar no ámbito institucional. Um dos vozeiros oficiosos do Regime afirma hoje na sua crónica política na imprensa maioritária que o modelo da Constituiçom dá mostras da sua “decadência irreversível”. Além de nos centrarmos no desafio soberanista das três naçons representadas em Madrid, e da resposta histérica da extrema direita, ponhemos hoje o nosso foco numha dissidência habitualmente esquecida: em Leom e Castela, o estado autonómico está a pôr-se também em causa.
No passado 27 de dezembro, umha moçom auspiciada polo alcalde do PSOE, José Antonio Díaz, aprovava-se no concelho de Leom. Pedia a constituiçom dumha autonomia leonesa formada polas províncias de Leom, Samora e Salamanca, fundamentada em razons históricas e sócio-económicas. Além de conservar umha língua de seu, o reconhecimento institucional leonês tivo lugar no século XIX, antes de se aprovar a definitiva divisom provincial. Por trás desta moçom está o trabalho regionalista desenvolvido por organizaçons como Unión del Pueblo Leonés, que animou iniciativas semelhantes desde meados da década de 90.
Canalizava-se assim um velho sentimento regional que nos anos 80, ao se pôr em andamento o estado autonómico, mostrou-se na rua com grande potência. Dúzias de milhares de pessoas ocuparam na altura as ruas de Leom trás a legenda ‘León sin Castilla, que maravilla.’ Os desenhadores da Reforma política, nomeadamente o castelhano Adolfo Suárez, pensaram na possibilidade dumha comunidade asturleonesa, mas nos seus cálculos, orientaria-se demasiado à esquerda. O projecto finalmente consumado dumha autonomia com Castela e Leom constituiria, a olhos dos estadistas, um contrapeso eleitoral conservador aos nacionalismos basco e catalám.
Debate na esquerda
O regionalismo está a desbordar os grandes partidos do Regime; parte dos quadros leoneses do PSOE e do PP votárom a favor da segregaçom, alheios aos mandatos das suas cúpulas. Dada a dimensom do desafio, parte da imprensa empresarial falou com preocupaçom, e muito exagero, dum ‘procés leonês.’ A organizaçom Agora País Llionés, enquadrada em plantejamentos soberanistas e de esquerdas, saudou a extensom das moçons como um início “ainda que tímido, da revitalizaçom do País Leonés”, à espera do reconhecimento total da sua especificidade nacional. Do ponto de vista desta organizaçom política, fundada em 2007, “o projecto ‘castellanoyleonés’ é um mero reflexo dos interesses da oligarquia agrária da conca do Douro, um dos núcleos do naconalismo espanholista, que é quem (…) empece o desenvolvimento normal do povo do leonês e do castelhano. Daí as as famosas ‘razons de Estado’ do fascista Martín Villa, ou que nos discursos de quem agora votam em contra destas moçons se fale da “unidade de Espanha.”
O castelhanismo político, porém, pom importantes pontualizaçons. Num comunicado feito público por Izquierda Castellana a raiz destas iniciativas, a organizaçom matiza certos argumentos leonesistas. Izca reconhece a legitimidade da moçom e a pertinência dum referendo, bem que duvida que a secessom de Castela seja ‘sentimento maioritário em Samora e Salamanca.’ Aliás, Izca teme que os argumentos pro-secessom derivem num anticastelhanismo simplório, que oculte a crise demográfica e económica do conjunto destas terras: “o processo de involuçom atinge também Ávila, Palencia, Segóvia, Sória, e em menor medida Burgos e Valhadolid”, diz Izca, que responsabiliza o modelo autonómico deste processo de decadência.
Para Izca, em qualquer caso, a constituiçom dumha ‘nova autonomia triprovincial’ nom seria mais do que ‘umha nova superestrutura sostida com recursos públicos’, e que favoreceria apenas “a cidade de Leom, que concentraria todo o aparelho burocrático dumha nova autonomia.” Izca aposta no seu comunicado pola superaçom definitiva do Regime de 78, o que exigiria ‘processos constituintes’ que superassem o conjunto do quadro autonómico. Do ponto de vista desta força política, “a organizaçom em deputaçons” seria a mais acaída para estruturar os territórios castelhanos e leoneses e para plasmar a legitimidade dos sentimentos históricos.
Consensos rotos
A rearticulaçom de territórios que popularmente, e sem maior análise, se consideram espanhóis, será outra das questons que irromperá numha hipotética crise do Regime do 78, quando esta se produzir de forma aguda. No entanto, e à margem das posiçons que suscitar, o caso patenteia que os espaços de consenso que sustentam a Constituiçom espanhola reduzem-se mais e mais.
Demandas regionalistas ou directamente nacionalistas que sobardam os clássicos exemplos galego, basco e catalám; divisons nos partidos do Regime ante o modelo autonómico, com a irrupçom dumha força de ultradireita, Vox, abertamente partidária de eliminar os estatutos; e finalmente, num plano mais amplo, fracturas nas próprias elites neoliberais e espanholistas, como vemos nestes dias no Congresso. Umha parte dos poderes fácticos nom está a permitir que a direita moderada do PSOE tente integrar os soberanismos num modelo de co-gestom ‘responsável’, e daí a crescente conflituosidade institucional.