Por Paul Kingsnorth (traduçom do galizalivre) /

Todo começou no passado ano com dous homens num pub. Todo arrancou alô, e chegou à juntança de milhares de pessoas do mundo inteiro a partilharem umha mesma visom. Isto está ainda a se expandir; até tal ponto, que os dous homens aqueles tenhem agora bem menos tempo para gastarem no pub; agora, muito do seu tempo devota-se para manter um pequeno movimento que eles, um pouco por acaso, trouxeram à vida.

Esta é a estória do projecto “Dark Mountain”, um novo movimento cultural para uns tempos de disrupçom global, do que eu fum um dos fundadores há pouco menos dum ano. Semelha muito tempo; e com efeito, muitas cousas aconteceram desde aquela. Semelha que tocáramos um nervo. E isto é para mim o mais interessante, porque o projecto veu à vida como umha resposta ao senso de desilusom com o que o ambientalismo rematou por ser.

Moços e zangados.
Durante quinze anos eu fum um activista ecologista e um escritor. Durante dous destes anos eu fum editor em funçons de “The Ecologist”. Participei de campanhas contra a mudança climática, a deflorestaçom, a sobre-pesca, a desfeita da paisagem, a extinçom, e todo o resto de problemáticas. Escrevim como o sistema económico global estava a deitar ao lixo o ecossistema global. Fixem todas aquelas cousas que os ambientalistas fam. Mas, trás um tempo, deixei de acreditar nisso.

Houvo duas razons para isso. A primeira foi que nenhuma das campanhas tivo sucesso, agás num ámbito muito local. Num plano mais amplo, as cousas pioravam. A segunda razom foi que os ambientalistas, assim o via eu, nom estavam a ser honestos com eles mesmos. Era cada vez mais óbvio que a mudança climátic nom poderia ser detida, que a vida moderna nom era compatível com as necessidades do ecossistema global, que o crescimento económico era parte do problema, e que o futuro nom ia ser brilhante, verde, confortável e “sustentável” para milhares de milhons de pessoas; senom que, mais provavelmente, ia achegar decadência, esgotamento, caos e dureza extrema para todos e todas nós. Embora todos nós pretendéssemos que, de seguirmos fazendo as campanhas de sempre, o impossível iria acontecer. Eu nom tragava mais com isso, e decatei-me de que eu nom era o único.

Quando eu topei Dougald Hine, o mesmo que eu, um ex-jornalista, topei alguém igualmente céptico sobre a visom do futuro cor-de-rosa que empapa a sociedade, e que mesmo se tem assente entre aqueles e aquelas que deveriam conhecê-la melhor. Nom era apenas o ambientalismo quem estava a vender falsas esperanças; nós vimos idêntica rejeiçom a enfrontar a realidade no mundo da cultura. Ambos os dous éramos escritores, e perguntamo-nos aonde se iam mover a literatura, a arte, a música, além das nossas estórias auto-satisfatórias sobre a nossa capacidade de gerir o futuro.

Um manifesto pola transformaçom.
Deste juntoiro nasceu umha brochura sintética, auto-publicada, que nós chamamos “Descivilizaçom: o manifesto “Dark Mountain”. Foi umha chamada de clarim a todos aqueles que, como nós, nom acreditávamos que o futuro havia ser umha visom melhorada do presente, e que almejávamos a forja dumha nova resposta cultural a este enorme apuro da humanidade. Fixemo-lo para umha visom esclarecedora do verdadeiro lugar da humanidade no mundo.

Nós nom tínhamos ideia de se isto havia ter eco, mas tivo-o: no mundo inteiro. Vendêmos centos de manifestos e atrazemos o apoio entusiasta de milhares de pessoas. Um movimento começou a se aglutinar. O que foi mais fascinante -e revelador- foi como umha sensibilidade comum se exprimiu através dele. Muitas das comunicaçons recebidas exprimiam um fundo sentimento de alívio. Todas essas pessoas também atravessaram a motivaçom sobre “salvarmos a Terra”, mas tinham deixado de acreditar há tempo. Topamos aliás outra gente que nunca acreditara em tal cousa, e que queria forjar umha nova maneira de olhar o futuro. Muitas pessoas sentírom-se entusiasmadas.

Para mim, isto é o mais salientável sobre o projecto “Dark Mountain”. Reuniu gente do mundo inteiro, de várias origens -escritoras, poetas, desenhadores, engenheiros, cientistas, trabalhadores do sector florestal, mestres, compositoras, labregos e granxeiras-, pessoas todas elas unidas por umha visom partilhada. Trata-se dumha visom que há uns poucos anos poderia ter semelhado herética para muitos ecologistas, mas que hoje está a ganhar pulo; no momento em que a falência da humanidade para respostar às crises que tem criado se revela óbvia. Juntos e juntas, nós somos quem de dizê-lo alto e claro: nós nom imos “salvar o planeta”. O planeta nom é nosso para ser salvado. O planeta nom está a morrer; mas a nossa civilizaçom quiçais si, e nem a tecnologia nem o consumo ético vai evitar um choque gravíssimo.

Umha nova esperança.
É bem curioso, mas aceitar esta realidade nom ocasiona desesperança, como alguém tem sugerido, senom um grande sentido de esperança. Umha vez que nós deixamos de fingir que o impossível vai acontecer, nós estamos libertados para enxergar o futuro com a maior das seriedades. Isto é o que o projecto “Dark Mountain” projecta fazer doravante. (…) Nós damos acolhida a reunions de pensadores e pensadoras, escritores, artistas, músicos e artesaos, que passam umha longa velada a responderem aos desafios postos no nosso manifesto.

No fundo, o que é mais interessante sobre o projecto “Dark Mountain” é que tem decolado porque muita gente de todo o mundo já partilhava umha certa visom do futuro que está bem longe do pensamento dominante. Todo o que nós fixemos foi dar-lhe nome. Aonde iremos a seguir é algo que entre todos e todas teremos que determinar. Mas com um mundo que se transforma tam às pressas, nom semelha que isto vaia esmorecer.

*Publicado originariamente em DarkMountainProject.