Como informávamos onte, novas pautas climáticas produto do quecimento global levam-nos a cenários de risco; entre eles, precipitaçons torrenciais às que nom estamos afeitas na Galiza, com acumulaçons de até 80 litros em poucas horas. A perigosidade aumenta quando o desprezo contemporáneo polo meio leva a construçons urbanas em zonas húmidas. Vimos em passados dias que áreas baptizadas polo povo como ‘Junqueira’, ‘Acea’, ‘Lago’ ou ‘Branha’ eram as primeiras em anegar-se. Hoje imos conhecer umha destas zonas húmidas por excelência, a branha, por vezes evoluída em turbeira. Antes da febre do betom e da sobre-exploraçom eólica, estes eram terrenos aproveitados pola gente em simbiose com o meio.

A branha é um espaço natural típico do occidente e norte da Europa, e muito presente na toponímia galega: recebe o nome de ‘branhal’, ‘branheiro’, ‘lameiro’, ‘tremedal’, ‘tremesinha’, ‘tremo’ (todos estes em alusom ao pouco firme do terreno) ou trolho. Dúzias de paróquias galegas levam este nome.

Segundo os biólogos, as branhas tenhem duas origens possíveis: pode tratar-se de velhas gándaras -terrenos lacustres- que se transformárom ao longo de milénios em branhas num processo de colmataçom, ao se inçarem de vegetaçom. Noutras ocasions, formam-se em zonas muito baixas nos que o chao tem umha camada de sedimentos, ou bem onde a água aflora do subsolo.

O nosso clima favorece a formaçom deste tipo de terreno: elevada pluviosidade e humidade ambiental, temperaturas mornas ou frescas. Estas condiçons, junto com o predomínio de rochas acedas, nomeadamente o granito, fam abrolhar um tipo particular de musgo. Chama-se Sphagnum, e é o elemento predominante de todas as branhas. O Sphagnum consegue medrar na água, e enquanto os seus restos descompostos se afundem, os vivos aboiam e sostenhem-se sobre os mortos, ganhando as típicas formas abombadas, semelhantes a esponxas. Se o alagamento é suficientemente persistente para provocar falta de oxigénio, entom nasce a turbeira.

Na Serra do Candám, com altos valores de humidade e temperaturas frescas, proliferam as branhas

Trata-se dum meio duro, quer para muitas espécies naturais, quer para o ser humano. Umha água enormemente acificada e empobrecida em nutrientes nom dá muita opçom ao crescimento de espécies vegetais que vemos em zonas do país de clima mais benigno. A botánica consumada, porém, pode dar com muitos exemplares das chamadas ‘orvalhinhas’ ou ‘rorelas’ (Drosera rotundifolia), umha planta insectívora que apanha as suas vítimas com folhas peganhentas. Para além da rorela, os juncos, os bunhos, as espadanas, as carrouchas, vivem e reproduzem-se a vontade no alagamento. Se há algum bosque que se desenvolva nas redondezas da branha, esse é o ameneiral ou bidueiral.

As turbeiras

Se bem as branhas som frequentes na Galiza enteira, é mais difícil darmos com turbeiras, se utilizarmos o termo estritamente. A turbeira mais típica é própria das zonas do norte da Europa, desde que o clima frio durante todo o ano evita qualquer seca estival, e favorece assim a descomposiçom da matéria orgánica. Há ou houvo, porém, turbeiras muito desenvolvidas na Galiza norte. Há-as cercanas à costa Ártabra, e nas Serras da Carba, Toxiça ou Gistral, e conformam essas paisagens desoladas e silenciosas que tam bem conhecia o labrego de antano, que as aproveitava para conseguir combustível ou, no verao, como prado para o gado. No tempo presente, e com o monte virado para usos recriativos para parte da populaçom, a montanheira ou montanheiro conhece o que é caminhar pola turbeira: um terreno esgrévio e dificilmente transitável onde os pés se enterram e é difícil pôr o pé.

A branha na cultura popular e letrada

Num país em que cada polgada de terreno estava nomeada e utilizada, a branha tinha também o seu papel e funçom produtivo: era muito importante para aquecer o lar -no caso de haver turba- e para manter o gado em etapa estival. E do mundo campesino a branha passou, ainda marginal ou anedoticamente, ao mundo letrado. ‘Branhas’ precisamente é o apelido dum dos pais do galeguismo político, rival e complemento de Murguia no século XIX; a primeiros do século XX, Xavier Prado, representante do galeguismo nom nacionalista e editor d’O Tio Marcos d’a Portela’ na sua segunda jeira, adoptou a alcunha de ‘Lameiro’ (isto é, ‘da Branha’).

Mas foi António Noriega Varela, natural de Mondonhedo e mestre em Abadim. Em 1926 foi destinado a dar escola a Santa Maria da Madalena da Granha de Vilarente, ao pé do Gistral. Ali, precisamente rodeado de branhas, sofreu invernias duríssimas, e escreveu o livro ‘Como falam os branhegos. Locuçons, frases, modos adverbiais, umha léria para os rapazinhos, refráns, cantares e adivinhas. Mais de mil exemplos’. O livro foi editado por Ánxel Casal em 1928, antes da fase de ruptura definitiva de Noriega com os nacionalistas, e supom um compêndio valioso da visom do mundo daquelas comunidades campesinas que subsistiam numha natureza inclemente, baixo névoas e chuvas quase perpétuas.