Os protestos começados a inícios de ano em Hong Kong ainda nom acabárom. Ainda que começaram em oposiçom à proposta de umha nova lei de extradiçom que permitiria que pessoas suspeitas de crimes graves fossem extraditadas para o seu julgamento na China continental, ao ser formalmente retirada a lei em Setembro, o foco mudou agora para outras demandas, incluindo a retirada de acusaçons contra as detidas durante estes protestos e a total oposiçom à integraçom de Hong Kong na República Popular da China (RPC). O caráter reacionário e pró-imperialista de umha parte das manifestantes foi expresso pela exibiçom de bandeiras britânicas e estadunidenses e as demandas para que a Gram-Bretanha ou Trump e os EUA “salvem” Hong Kong, assim como insultos chauvinistas contra a China continental.
Por mais de 150 anos, Hong Kong foi umha preçada possessom para o imperialismo britânico, tomada à China nas Guerras do Ópio de 1841, foi usada primeiro como porta de entrada para a exploraçom da China, trasformando-se depois em centro financeiro para o imperialismo britânico em Extremo Oriente. Finalmente, quando o Tratado Desigual imposto à China em 1898 terminou logo de 99 anos, a Gram-Bretanha foi forçada a deixar Hong Kong e devolver a soberania à RPC em julho de 1997. O acordo alcançado entre a Gram-Bretanha e a RPC, refletía a necessidade da China de ter acesso a tecnologia e capital estrangeiros, estipulando que, durante 50 anos, até 2047, Hong Kong manteria o seu sistema capitalista sob o princípio desenvolvido pela liderança chinesa em 1982 de um país, dois sistemas.
A proposta de umha nova lei de extradiçom foi motivada pelo fato de Hong Kong nom ter em vigor acordos deste tipo com Taiwan, Macau ou a China continental. Isso permitia que pessoas criminosas sediadas em Hong Kong pudessem escapar da justiça por crimes graves cometidos nessas jurisdiçons. A lei proposta incluía a extradiçom por crimes reconhecidos em todo o mundo, como assassinato, roubo, seqüestro ou violaçom; crucialmente, também incluía crimes económicos e financeiros.
Assim que a nova lei foi proposta em Fevereiro de 2019, os interesses capitalistas, incluindo a Câmara de Comércio Americana (AmCham), que representa mais de 1.200 empresas estadunidenses ativas em Hong Kong, manifestárom a sua oposiçom:
‘Qualquer
mudança nos acordos de extradiçom
que amplie substancialmente a
possibilidade de prisom e entrega … de executivas de negócios
internacionais residentes ou em trânsito em Hong Kong como resultado
de
acusaçons por crime econômico
feitas pelo governo do continente … minaria a percepçom de Hong
Kong como um lugar seguro e refúgio para operaçons comerciais
internacionais. ‘
Grupos de oposiçom em Hong Kong unírom-se para formar umha coalizom contra a proposta chamada Frente Civil dos Direitos Humanos. Vários desses grupos, incluindo a Confederaçom dos Sindicatos de Hong Kong (HKCTU nas suas siglas em inglês), têm vínculos abertos com a estadunidense Fundaçom Nacional para a Democracia (NED nas suas siglas em inglês), que é financiada pelo governo dos EUA e tem como missom apoiar e financiar grupos e organizaçons que promovem umha agenda pró-imperialista sob o pretexto de defender a democracia. O NED e as suas ramificaçons estám ativas em Hong Kong desde meados dos anos 90, financiando vários grupos que se opoem à unificaçom com a RPC. É este Grupo Civil de Direitos Humanos que está a organizar os protestos, incluindo as manifestaçons amplamente divulgadas no Aeroporto Internacional de Hong Kong, que assumírom um caráter mais violento e anti-RPC.
Embora o ímpeto político para os protestos anti-extradiçom venha de setores da classe dominante e da elite empresarial de Hong Kong, o tamanho dos protestos e a sua natureza prolongada no tempo refletem problemas sociais profundos na sociedade de Hong Kong causados pela enorme diferença entre ricos e pobres. 93 bilionários vivem em Hong Kong, um número atrás apenas de Nova York, enquanto um relatório recente da Oxfam sobre Hong Kong mostra 1,3 milhons de pessoas vivendo na pobreza de umha populaçom de quase 7,5 milhons . A renda mensal do 10% das rendas mais altas da populaçom é 44 vezes a do 10% mais pobre e a desigualdade de riqueza está agora no seu nível mais alto em 45 anos. O número de famílias pobres chegou a 530.000, com umha em cada três pessoas com mais de 65 anos e umha em cada quatro crianças vivendo na pobreza. No entanto, ao mesmo tempo, as pessoas mega-ricas recebem dividendos da bolsa no valor de miles de milhons de dólares de Hong Kong (7,84 dólares de Hong Kong = 1 dólar dos EUA) exentos de tributaçom.
Os preços dos terrenos em Hong Kong som aproximadamente o triplo dos do bairro mais rico de Londres, Kensington & Chelsea. Consequentemente, há umha escassez enorme de moradias decentes para a classe trabalhadora, com mais de 210.000 pessoas vivendo em condiçons miseráveis em pequenos quartos subdivididos e mais de 40.000 vivendo nas chamadas “casas gaiola” ou “cubículos caixom”. Hong Kong é oficialmente o lugar menos acessível do mundo para viver, sendo o preço médio da propriedade “normal” de 1,2 milhons de dólares dos EUA, claramente fora do alcance da maioria das pessoas pois o salário mínimo é de 34,5 dólares de Hong Kong. Os alugueres de quartos subdivididos aumentaram um 100% nos últimos dez anos.
Essa enorme diferença de riqueza entre pessoas mega-ricas e pobres tem sido fonte de algum apoio aos protestos anti-extradiçom, com a RPC sendo responsabilizada por essa situaçom e nom a natureza capitalista de Hong Kong. Um número crescente de pessoas em Hong Kong identifica-se como “Hong Kongers” em vez de chinesas e tem umha visom negativa da RPC. O fato de a República Popular da China ter ganhado soberania sobre Hong Kong em 1997, mas ter sido impedida de confrontar e desarmar politicamente a elite pró-imperialista deixou as forças da classe trabalhadora em Hong Kong em umha situaçom política aparentemente fraca.
*Este artigo foi publicado no mês de Outubro em revolutionarycommunist.org. Traduçom do galizalivre.