Imaginemos umha aldeia de 14 casas. Em umha delas vive o cura da paróquia e nas outras treze casas vive cadansua família. Cada família é à sua maneira: umha é um matrimonio sem filhos, outras estám formadas por matrimônios com filhos, noutras também vivem os avós que já estám reformados, outra é umha mãe solteira com duas filhas ao seu cargo, outra é um rapaz solteiro que cuida da sua mãe dependente, e assim até as treze famílias.
E cada família, como é óbvio, tem uns ingressos e uns gastos determinados: umha família tem dous salários generosos que lhes permitem ter carros de alta gama e ir de férias com o filho três vezes ao ano, noutra vivem do salário do pai e da pensom dos avós o que fai que vivam bem e ainda podam aforrar algo, noutra vivem do salário da mãe que é suficiente para ir tirando, noutra estám todos sem trabalho e mal vivem com a prestaçom do paro do pai, o que causa que nem podam pôr a calefaçom, e assim até as treze famílias. Logo está o cura que tem umha paga do bispado que lhe assegura umha vida sem apuros.
Agora imaginemos que o cura, pessoa que conhece bem todas as famílias da aldeia, e que vendo as diferenças económicas existentes entre elas, apela à generosidade das mais afortunadas para que as que estám em umha situaçom mais penosa podam viver melhor. O cura propom que todas as famílias, ele incluído, entreguem umha terceira parte dos seus ingressos e que ele e o bispado se encarregarám de administrá-los e repartí-los entre as famílias para que todas tenham umha boa qualidade de vida. Deste jeito, argumenta o cura, as famílias que mais ganham ainda podem manter um bom nível de vida por enquanto as mais desfavorecidas poderiam sair adiante sem tantos apuros. Assim, insistia o cura, as famílias mais pobres poderiam prosperar e num futuro ser estas as que mais dinheiro aportem à aldeia. Sempre punha como exemplo a família que estava formada pola mãe e as duas filhas adolescentes: se ajudamos a pagar-lhes os estudos às raparigas, em sete ou oito anos já terám a sua carreira rematada, um bom trabalho e um bom salário. Além do mais, com esta forma de gestom do dinheiro da aldeia, poderiam mesmo fazer-se investimentos para melhorar a aldeia.
As famílias aceitárom e o primeiro sábado de cada mês entregavam a sua parte ao cura e este repartia como considerava mais oportuno. Passárom os meses e a situaçom nom melhorava para ninguém com exceçom do cura, que agora tinha duas pagas. As famílias que mais ganhavam agora viviam menos confortavelmente, mas ao contrário do que prometera o cura, as famílias mais humildes também viviam pior: o que recebiam do cura era inferior ao que entregavam cada mês.
O cura, sabedor que a vizinhança poderia protestar, encarregou-se de criar conflito entre as famílias. “Olha para Joam que mercou carro novo e anda a queijar-se que nom lhe chega o que lhe dou”. “E tu vistes o relógio que mercou a filha?”. “Sabes que os Pinheiro vam outra vez de viagem ao Caribe? Nom vivem mal estes!”. “Sabias que os Fraga tivérom umha criança e queriam que lhes dera mais dinheiro. Dou-lho, e nom lhe mercam o carrinho mais caro ao pequeno? Nom lhe chegaria com um mais barato?”. Em pouco tempo, o conflito entre as famílias é aberto.
Por último imaginemos que o cura é a Comunidade de Madrid, o bispado é o Estado Espanhol, e as treze famílias som as outras treze comunidades autônomas onde é de aplicaçom o Regime Comum de financiamento. Umha delas é Galiza. É aquela que tendo dous bons salários nom chega a fim de mês. Continuando com a alegoria, a parte do salário que NOM lhe entregam ao cura, é dizer, o que é legitimamente deles, som os paradoxalmente chamados Tributos Cedidos. E a esmola que o cura lhe reparte às famílias é o Fundo de Suficiência Global.
Continuará…