Por Júlio Teixeiro /

Num texto de 1938, em plena invasom japonesa da China, Mao afirmou o que a seguir vem:

Na luita contra um inimigo nacional, a luita de classes assume a forma de luita nacional, manifando-se nisso a identidade dessas duas luitas.

Federico Krutwig, tradutor ao eusquera do Libro Vermelho, reflite a mesma ideia ao escrever:

Em Euskadi, a luita de classes toma a forma de luita de libertaçom nacional.

Este princípio teórico tem justificado, em contextos tam distantes como a China dos anos 30 ou a Euskal Herria dos 60, a articulaçom de alianças sociais para combater um inimigo nacional comum. Mas para que o princípio seja aplicável na prática é necessário que dous sujeitos opostos, reconhecendo-se como diferentes e mesmo contraditórios (luita de classes), partilhem a inimizade em relaçom como o ocupante, opressor, ou invasor estrangeiro (luita nacional). Sendo realistas, devemos reconhecer que, estas condiçons de aplicabilidade, nom se dam, nem agora nem historicamente, na Galiza.

Neste país, os três sujeitos envolvidos no conflito –maioria social, elites, e potência estrangeira- estruturam-se dum jeito diferente do que se presupom no princípio enunciado por Mao ou Krutwig. Aqui, a aliança, nom se produze entre elites e maioria social, mas entre as elites e os aparelhos de poder estatal/espanhol. De facto, o conflito nacional estabelece-se, nom entre a sociedade articulada numha frente patriótica e o poder estrangeiro, mas entre dous sectores da sociedade; por umha parte, umha aliança pola assimilaçom e, polo outro, as camadas populares na medida na que som capazes de resistir contra essa assimilaçom. Por isso, embora termos umhas estruturas políticas fracas, dispomos historicamente dum sindicalismo autóctone potente; por isso nom hai nacionalismo de direitas e, por isso, fracassa a estratégia institucionalista (decalcada de contextos onde se cumpre o princípio formulado por Mao).

Alguém poderia pensar que, a inaplicabilidade do princípio de Mao na Galiza, significa a inexistência dum conflito nacional. Na minha opiniom, a situaçom é justamente a contrária, o conflito nacional entre o povo galego e o Estado espanhol é tam profundo que, sem leva-lo em conta, nom se entende a evoluiçom das contradiçons sociais neste país. Mais ainda: na nossa história, a opressom de classe funciona como o motor dum processo de assimilaçom que tem, como horizonte final, a desarticulaçom do povo galego como sujeito político e, em última instância, a sua desapariçom. Quer dizer, nengumha luita social é, na Galiza, nacionalmente inócua. Por isso dizemos, em consequência, que a realidade galega permite verificar o inverso do princípio de Mao: na incontornável luita contra o inimigo social, a luita nacional toma a forma de luita de classes.

Ora bem, nom deveríamos esquecer o contexto doutrinal no que Mao formula o seu princípio. O texto, no que aparece a formulaçom que nos ocupa, remata cum epígrafe cuja teor é ”Tudo a través da Frente Única” é um erro. O objetivo último desta consigna nom é outro que transmitir a mensagem de que, ainda que a invasom japonesa figera impossível eludir a coligazom com o Kuomitang, os comunistas deviam preservar a autonomia e independência do seu partido em relaçom à Frente Única.

Pois bem, proponho ao leitor a seguinte reflexom para o caso galego: partindo do reconhecimento do conflito social como a forma que apresenta a questom nacional na Galiza, deve o soberanismo renunciar às suas ferramentas políticas próprias e dá-lo tudo por umha Frente Única Social?