Enquanto o desmatamento aumenta desenfreadamente e vivemos uma semana de intensas queimadas, que estão atingindo outros estados que não estão em chamas, o governo Bolsonaro e o Ministério do Meio Ambiente através da figura de Ricardo Salles, do partido Novo insistem em se esquivar do problema. Seguem no desmonte de órgãos e políticas públicas, a perdendo fundos e recursos internacionais que auxiliam políticas de cuidado e combate ao desmatamento na floresta. Colocam a responsabilidade em organizações não-governamentais, chegando a acusá-las de estar colocando fogo na floresta para poder prejudicar o governo.

Chefes de estado de outros países se posicionaram, dizendo que podem romper acordos com o Brasil por conta do descaso do governo. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre janeiro e agosto deste ano, as queimadas aumentaram 83% em relação ao mesmo período do ano passado — o que representa o maior número registrado nos últimos sete anos, com 72.843 pontos de incêndios.

Mas como chegamos a essa situação ? Confira alguns pontos que levaram o Ministério do Meio Ambiente e o Brasil ao ponto de vergonha internacional no quesito cuidado com a natureza:

1) Menos fiscalização:

Militantes da causa ambiental apontam o desmonte de equipes de fiscalização. O ministro Ricardo Salles demitiu 21 dos 27 superintendentes regionais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), promovendo exoneração coletiva inédita em 30 anos. Então presidente do órgão, Suely Araújo pediu demissão após Bolsonaro ter acusado “montanha de irregularidades” em licitação.

2) Clima:

Ainda em janeiro, o governo acabou com a Secretaria de Mudanças do Clima e Florestas. O esvaziamento da pauta é claro entre ministros de Bolsonaro, o que pode resultar na perda de recursos e no não cumprimento de metas firmadas em compromissos internacionais. No Acordo de Paris, o Brasil se comprometeu a, até 2025, reduzir em 37% suas emissões de gases de efeito estufa. O País também havia se comprometido a acabar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030.

3) Raposa no galinheiro:

O governo transferiu o Serviço Florestal Brasileiro para o Ministério da Agricultura e escalou para chefiá-lo o ex-deputado Valdir Colatto (MDB-SC), que integrou a bancada ruralista e apresentou projeto para liberar a caça de animais silvestres. O órgão é responsável pela gestão das florestas públicas e, antes de Bolsonaro, estava vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.

4) Paralisação de projetos:

Ricardo Salles congelou a aplicação de R$ 1 bilhão, oriundo de multas aplicadas pelo Ibama, que seriam utilizados em 34 projetos de recuperação das bacias do Rio São Francisco e do Rio Parnaíba – apenas porque não quer mais a participação de Organizações Não-Governamentais (ONGs) em ações federais.

5) Sem participação social:

O governo age para desmontar as estruturas de participação social no ministério, em especial o Conselho Nacional do Meio Ambiente.

6) Fundo da Amazônia:

A partir de tentativa de devassas nas contas, o governo tem paralisado e atrapalhado o funcionamento do Fundo Amazônia, por ser contra a participação de ONGs e negar as mudanças climáticas.

7) Mais veneno:

O Meio Ambiente atuou em conjunto com o Ministério da Agricultura na liberação de 86 agrotóxicos, incluindo substâncias proibidas em muitos países por serem cancerígenas e responsáveis pela morte de abelhas.

8) Caça com cão:

O Ibama flexibilizou as regras para a caça de javalis, permitindo também o uso de armadilhas e cães, o que, para muitos, configura maus tratos.

9) Ameaça a garantias:

O Ministério do Meio Ambiente está revendo regras para o licenciamento ambiental, sob o pretexto de agilizar a liberação de empreendimentos – o que pode significar grandes retrocessos em garantias socioambientais.

10) Avanço de transgênicos e mineração:

O governo estuda a liberação do plantio de transgênicos e da mineração, inclusive em terras indígenas. De acordo com o governo, os povos originais até serão ouvidos, mas não terão autonomia para vetar projetos.

11) Demissão no INPE:

O presidente Jair Bolsonaro exonerou o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão. Para o presidente, não havia mais “clima” para que ele continuasse no cargo. A demissão ocorreu após a divulgação pelo órgão de dados sobre o aumento do desmatamento da Amazônia neste ano. Bolsonaro confirmou que o ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, demitiu Galvão a seu pedido.

12) Fala jocosa em relação ao meio ambiente:

Em resposta sobre os efeitos da agropecuária para o meio ambiente no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro disse a um repórter que, para combater a poluição ambiental, deve-se comer menos e “fazer cocô dia sim, dia não”. Ele havia sido questionado se é possível fazer o país crescer com preservação, depois de destacar a necessidade de alimentar a população crescente e dizer que que a pressão internacional contra o desmatamento ocorre porque “eles querem a Amazônia.

13) Queimadas na Amazônia e a negação do óbvio.

*Publicado em midianinja.org