A secçom Domingo Cultural do Galiza Livre quer contribuir para o conhecimento de poetas galegas emigrantes através do Observatório da nova diáspora (ONDA) e dos materiais que este edita junto a Editora Positivas no livro Onda Poética 2018.
No primeiro encontro do Observatório da Nova Diáspora no verao de 2018, largou-se o tramalho no mar de fora na procura das vozes dos nossos que estám alá. Prendeu na rede de malha fina uma caldeirada de versos também. Peixinho fresco que salta vivo na areia, bailando ao som da polifonia de línguas que trazem as ondas.
Onda Poética 2018, Positivas
Nesta caldeirada de versos encontramos os do galego Martin Veiga. Professor no Departamento de Estudos Espanhóis, Portugueses e Latino-Americanos da University College Cork, onde também é diretor do Centro Irlandês de Estudos Galegos.
Ele publicou extensivamente sobre a vida e obra do poeta galego Antón Avilés de Taramancos e suas principais áreas de pesquisa som poesia galega e irlandesa contemporânea, traduçom literária e escrita de viagens no mundo hispânico, principalmente no contexto ibérico.
A seguir, reproduzimos as palavras de Martín Veiga e dous dos seus poemas:
“Os dous poemas inéditos que achego surgiram como resposta necessária ante a evidência da ruptura que acarreta qualquer movimento migratório. O primeiro texto, no qual ecoa a vivência da saudade revertida tal e como a formulou o poeta Avilés de Tarmancos, tenta situar a percepçom da migraçom como devir vital mas também como construçom ontológica. A percepçom destes processos impacta no âmbito formal do poema e deriva numa narrativa rota, truncada, mutilada. O segundo poema é uma crítica ao discurso neoliberal, tam amplamente estendido, tam cínico e paternalista, segundo o qual o gesto diaspórico nom encarna mais que valores positivos. Por isso está dedicado a Maria Alonso Alonso, autora do ensaio Transmigrantes. Filhas da precariedade, em que abertamente questiona estas idílicas idealizaçons da experiência da mobilidade”.
Partida ou partiçom
a emigraçom a partida
a fratura a partiçom a ruptura
que para sempre gera identidades
fendidas fidelidades novas rotas
como este poema
esnaquizadas bífidas
a vida a escoar por físgoas têmera
tronçada na partiçom ou partida
e nom há regresso
avoa
lembrou aquela voz na ausência
já para sempre ou quiçá já para sempre
no dúplice azar do contraponto
no devalo na deriva no trânsito
na partida ou aloulada partiçom
Mobilidade exterior
Denominam assim a chamada absurda
a abandonar os lugares da pertença
e arvorar os estandartes do baleiro
em praças geladas ermos descampados
nos lotes cinzentos em que a luz do sol
jamais arqueja e nom batuja nem lateja
o coraçom nunca na hora dos adeuses
no sol-pôr das despedidas nesse intre
que arreo arrinca espanto e arreguiços
que chanta mais profundas as raiganhas
os dedos rizomatosos que espreguiçam
filamentos roturados como ofídios
a estrar detritos de pele em terra alheia
ancoragem móvel que as ânimas sujeita
de quem fica que mantém asidas as ausentes
Adaptaçom ortográfica do Galiza Livre.