No final do verao passado, Joam –nome inventado– acudia a trabalhar na serraria de Unemsa, em Coristanco. Fazia labores de mantimento e aquela tarde, já passavam das seis, avariou-se umha máquina no parque de madeira. Os dias ainda eram longos e ao sair ainda teria tempo para ir até a praia de Razo. Mas quando meteu a mao, o mecanismo acionou-se e arrancou de golpe o braço de Joam. Entre berros foi trasladado de urgência ao hospital da Corunha onde morreria horas depois.
Mais sorte tivo José, –também nome inventado– um moço de apenas 27 anos, que o mês passado cobria o turno de noite na indústria conserveira que Jealsa Rianxeira tem no porto do Bodiom, em Boiro. Por volta das três da madrugada, quando realizava labores de limpeza, enganchou-se numha máquina e a chapa protetora amputou-lhe o braço. Aquela noite, enquanto isto sucedia, Juan Luis Alonso Escurís, diretor geral da empresa, que dormia placidamente estava a ganhar mais de 1.600 euros, pois tem um salário de quase 600.000 euros anuais, além do reparto de benefícios que cobrará a final de ano.
Estes dous acidentes reais nom abrirom os noticiários nem ocuparom os cabeçalhos dos jornais. Como muito, umha breve nota na secçom local.
Os dados
Em vésperas do 1 de maio damos conta dos dados que publicava esta semana um sindicato espanhol em relaçom aos acidentes laborais sofridos na Galiza durante o ano 2018. Neste informe destaca a cifra de 56 mortos, 50 durante a jornada de trabalho e 6 in itinere, é dizer, no caminho de ida ou de volta ao posto de trabalho. Fronte a esta cifra de 50 mortos, estám os 506 acontecidos no mesmo período em todo Estado. O informe evidencia que a Galiza tem o maior índice de acidentes mortais de todo o Estado, com um índice do 6,05, duplicando a média do Estado que se situa no 3,24.
Além dos acidentes mortais, aconteceram mais de 30.000 acidentes com baixa laboral dos que um total de 430 produzirom feridos graves. No informe também se recolhem os 1.456 casos registrados de enfermidades profissionais.
Diferentes classes de violência
As mortes que produze o trabalho nom som noticia. Mas nom sucede o mesmo com aquelas mortes produzidas por outros tipo de violência, especialmente aquelas que som consequência da violência protagonizada por pessoas migrantes, por pobres ou por aquela violência que tenha umha motivaçom política.
As vítimas da violência estrutural que provoca a exploraçom laboral nom geram a mesma empatia que as vítimas do “terrorismo” ou as vítimas de homicídios embora sejam mais abundantes. Por exemplo, durante o ano 2018 na Galiza produzirom-se 22 homicídios, menos da metade que as vítimas da exploraçom laboral. E mesmo se o comparamos com as vítimas de ETA, as vítimas mortais em todo o Estado quintuplica o ano de mais de mais atividade do grupo armado, 93 no ano 1980. Mas ao contrario do que acontece com as vítimas da luita armada, nenhuma abriu os telejornais. Contudo existem motivos que o explica.
É sabido que o poder mediático, o poder político e o poder econômico atuam coordenadamente, quando nom coincidem no mesmo sujeito. Assim, enquanto os médios escolhem os crimes especialmente cruéis para fazer-lhes um seguimento especial, oferecendo todos os detalhes do crime e da vida da vítima, com o propósito de criar um estado de alarma social entre a populaçom, o Estado aproveita para lançar medidas penais mais duras e a restriçon dos direitos fundamentais. A populaçom, que emocionalmente simpatiza com a vítima, reage tomando como próprios estes discursos reacionários. É o que se acostuma em chamar populismo punitivo.
Pola contra, nom interessa que a populaçom se alarme polo trabalho, e muito menos que se sinale aos empresários como os culpáveis desta violência. Para isto os acidentes laborais som noticiados discreta e rapidamente, sem aportar dados que podam provocar a empatia com a vítima, e se existe a possibilidade, tratando de incriminá-la: “O operário morto nas obras de Rande nom levava arnês de segurança”. As mortes relatam-se como dados estatísticos: “No ano 2018 morrerom 56 pessoas em acidentes laborais”, mas os seres humanos nom sentimos a morte dum cento de pessoas anónimas, sentimos a morte dumha pessoa em concreto, com nome e faciana, com família e amizades, com vida.
E assim, sem nós querê-lo, é como nos matam caladamente.