A guerra da OTAN contra a Jugoslávia culminara há vinte anos com 78 dias de bombardeamentos sobre cidades e infestruturas, que foram propagandeadas como ‘ajuda humanitária’ em favor dos albano-kosovares que luitavam contra Belgrado. Precisamente nestes dias, representantes do governo sérvio manifestavam que ‘o país jamais iria aderir a esta aliança militar. Podemos perdoar, mas jamais esquecer.’
Na realidade, a guerra contra a Jugoslávia tivera as suas origens numha campanha de desestabilizaçom económica que começara anos antes, com a pretensom de liquidar os restos do modelo socialista que se encetara em 1945, e que enveredara para rumos originais, com umha curiosa combinaçom de estatalismo, economia de mercado e autogestom. A aparente harmonia multinacional de povos historicamente enemistados chamava também a atençom do mundo.
Segundo as análises do pesquisador canadiano Michel Chossudovsky, que publicou estudos sobre a questom desde a décadas de 90, houvo um sério desenho para ‘liquidar de vez um socialismo multicultural.’ Para tal fim, os poderes occidentais promovêrom o endurecimento de velhas contradiçons etnonacionais larvadas fundamente na história. Estas vinhérom-se intensificando ao alento dum pioramento económico que poucas vezes se leva em conta. Segundo Chossudovsky, ‘os poderes occidentais nom fôrom publicamente responsabilizados polo empobrecimento dumha naçom de 24 milhons de pessoas ; porém, os Estados surgidos do esfarelamento da ex-Jugoslávia ficárom a mercê dos interesses da chamada ‘comunidade financeira internacional.’
O papel da economia.
Enquanto o mundo focava os movimentos de tropas e o cessar fogo, as instituiçons financeiras mundiais estavam interessadas em reclamar a dívida externa da Jugoslávia aos Estados nascentes, ao mesmo tempo que transformavam os Balcáns num refúgio seguro para a livre empresa. Os tratados de paz de 1995 submetiam a Bósnia a umha carência de soberania económica tam aguda como nom se via na Europa desde os finais da IIª Grande Guerra.
A constituiçom que se incluía como um dos apêndices dos Acordos de Dayton fazia possível entregar o ámbito económico às instituiçons de Bretton Woods e ao Banco Europeu pola Reconstruçom e o Desenvolvimento, dirigido polo poder británico. Os acordos possibilitavam que o primeiro governador do Banco Central de Bósnia, ‘nom deveria ser um cidadao de Bósnia ou dum Estado vizinho.’ No entanto, era o Banco Europeu pola Reconstruçom e o Desenvolvimento o que supervisava as operaçons do sector público, incluindo energia, auga, serviços postais, telecomunicaçons ou transporte.
Para os especialistas, ‘namentres os occidentais apregoavam o apoio à democracia, o poder real ficava em maos dum governo bósnio paralelo, cujas posiçons dirigentes eram mantidas por nom cidadaos. Os investidores europeus conseguiram inserir os seus interesses numha constituiçom escrita de parte deles. A neocolonizaçom da Bósnia foi o lógico passo seguido polos poderes decididos a finiquitar o ‘socialismo de mercado’ jugoslavo.
Umha olhada ao passado
Ainda levando em conta as críticas que, de posiçons de esquerdas, se tenhem formulado contra o fruto de tal socialismo de mercado, ou contra a assimetria nas relaçons multinacionais jugoslavas, em benefício da Sérvia, a paisagem daquela confederaçom socialista nada se assemelha ao retrato elaborado pola mídia occidental.
Previamente à guerra, a Jugoslávia era um poder industrial regional ; antes da década de 80, a sua economia medrava bem por diante da dos países occidentais. A sanidade era totalmente de graça, o 91 % da populaçom estava alfabetizada, a esperança de vida estava nos 72 anos, e a Jugoslávia era umha potência desportiva internacional. Após décadas de pressom económica occidental, guerras, boicotes e reconstruçons sob a tutela dos tubarons neoliberais, a situaçom mudou radicalmente.
Apesar do nom alinhamento de Belgrado com qualquer um dos blocos da guerra fria, e das suas extensas relaçons comerciais com o mundo occidental, a administraçom Reagan apontara a destruçom economia jugoslava num informe secreto e sensível de 1984. A ‘Directiva de Decisom em Segurança Nacional 133 foi desclassificada em 1990, e portanto já sabemos que nela se gizavam os ‘esforços para promover umha revoluçom tranquila’ que derrocara o socialismo, visando aliás integrar totalmente a Europa do Leste no livre mercado occidental.
Como se recolhe nas análises de Chussodovsky, os Estados Unidos impugeram nos fornecedores de crédito à Jugoslávia na década de 80 várias exigências a serem feitas nos Balcáns. Começárom assim fortes tensons sociais e económicas paralelas aos agravamentos da divisom entre naçons. As reformas económicas levaram à queda dos estándares de vida, e com esta, ao agromar de nacionalismos nom emancipadores. A medida que a situaçom piorava, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial endureciam as suas exigências. Em vésperas da guerra, o crescimento do sector industrial na Jugoslávia revertera em cifras negativas. O FMI impugera daquela a congelaçom dos salários, o que deu lugar a um colapso do consumo.
A falência económica e a urgência de Belgrado em pagar as dívidas aos seus sócios europeus conduziu à capital da Jugoslávia à suspensom de pagamentos às Repúblicas e províncias autónomas. As demandas nacionais contra o centralismo sérvio tinham já terreno adubado. As instituiçons federais estavam mortas, e as empresas estatais, em agonia. Também os Bancos Associados (um tipo de caixas de aforros) e as ‘Organizaçons Básicas de Trabalho Associado’ (emblemas da autogestom nas factorias) rematárom dissoltas a prol do sector privado.
Recursos naturais
A solidariedade occidental com a Bósnia -como antes com a Croácia e a Eslovénia- nom era de graça. Desde a independência, a capital formal, Sarajevo, estabeleceu vencelhos estreitos com Bonn, Londres e Paris através de investidores. Na altura, os depósitos de carvom e petróleo recém identificados em zona servo-bósnia passárom a várias firmas estrangeiras ; o mesmo aconteceu com poços petroleiros na parte sérvia da Croácia (do rio Sava a Tuzla), no coraçom da zona militar norteamericana.
Paralelismos
A história, segundo se afirma, nunca se repite. Mas com isso e contodo, os modelos de colapso económico induzido, tensons étnicas aguilhoadas do exterior e, quando cumprir, intervençom militar desde o coraçom do Império, repite-se aqui e alô nas últimas duas décadas. Aconteceu na Jugoslávia, para derivar numha selvagem e longa guerra civil mas, noutros formatos de ligeiras variantes, ensaiou-se na Síria, na Ucraína, e agora aponta-se na Venezuela.
*Informaçom elaborada a partir de Global Research.