Todo o mundo conhece a brincadeira. Um meninho em bicicleta di: “olha, mamá, sem pés!…, olha mamá, sem maos!…, olha mamá…”, o neno afocinha no chao e com a bíci escangalhada remata: “olha mamá, zem dentez!” Algo assim é o que lhe ocorreu a En Marea no Congresso quando, com a excepçom de Alexandra Fernández, as deputadas-os desse partido figérom caso omisso do acordado polos órgaos de direcçom; âmbito de decisom sancionado como competente para marcar a linha política do grupo parlamentar do Congresso precisamente —nom riam que o conto é triste— graças à emenda que Xosé Manuel Beiras —hoje um jerro chinês arrombado numha fundaçom— apresentou no último congresso da formaçom.
Após semanas de sobreatuaçom —mesmo com mini-gira a modo de marketing barato dos que finalmente entregárom o seu voto grátis et amore— arredor dumha suposta agenda galega que nunca se negociou com o PSOE, chegou a hora da verdade: o momento em que os malabarismos já nom avondam e há que decidir.
A mesma manhá do debate sobre os orçamentos, Yolanda Díaz, coma o neno do chiste, e para assombro dos seus companheiros de Unidos Podemos que baseavam o seu argumentário em convencer os independentistas cataláns de que a “agenda catalá” era menos importante que a agenda de Podemos, continuou levando a sua atuaçom ata tal estremo —olha mamá, sem maos!— que a ministra decidiu dar-lhe nom um senom dous cortes: o primeiro, sabotando o que probavelmente pactuaram (umha mençom a que depois da aproaçom se poderiam negociar melhoras para Galiza), ao incluir nessa hipotética negociaçom o resto de CCAA, desvirtuando assim a importância dos votos “mareís”. O segundo gesto, mais do que um corte foi umha machada: a ministra, seguramente amolada polo histrionismo de Díaz, dixo (ai… pobres deputadinhos do PSdG…) que c0m um 20% menos de investimento Galiza tinha o que lhe correspondia. Sem dúvda, desta volta a porta-voz de En Marea no Congresso nom medira bem o malabarismo. “Olha mamá, zem dentez!”
Sem deter-nos em se os orçamentos aprovados iam passar a peneira da Comissom Europeia, e que aconteceria com o PSOE quando chegarem os recortes daquela —ao fim e ao cabo aqui todo o mundo segue pensando que Espanha é um Estado soberano e nom é cousa de amargar-lhe a festa a ninguém—, o assunto é que, produzida a votaçom, e com Pedro Sánchez fechando-se na Moncloa, os mantras das distintas paróquias consistírom no seguinte: a direita espanhola, o raca raca do presidente ilegítimo e a necessidade de eleiçons; UP, o raca raca de que esses orçamentos eram, graças a eles, pouco menos que o Plam Marshall; o PNV, advertindo-lhes aos cataláns de que se deixem de independência, ou o concerto basco vai ir ao tacho; os cataláns, aturando liçons de antifascismo por votar a favor da sua emenda à totalidade quando tenhem pessoal no cárcere e se inicia o «juízo justo» que —como nos filmes do oeste— sempre se fai antes de enforcar o bandido; Anova, com o raca raca da Frente Popular esquecendo que no 36 a Unidade Popular nom levou consigo a supeditaçom do PG de Castelao à estratégia dos republicanos espanhóis. Unidade antifascista, sim; mas, em plena guerra civil, a aprovaçom do Estatuto de Autonomia era prioritária.
Quanto ao de que a nom aprovaçom dos orçamentos conduz inexoravelmente a novas eleiçons, cumpre dizer que é umha falácia e que se Pedro Sánchez as convoca é porque considera que é o melhor para ele e porque pensa distanciar-se, ainda mais, de qualquer ideia conducente ao reconhecemento da plurinacionalidade do Estado. Do mesmo jeito que era falaz o argumentário podemita —numha fase anterior da negociaçom dos orçamentos— segundo o qual a suba do salário mínimo no próprio projeto orçamentário justificava deixar de lado qualquer outra reivindicaçom (o salário mínimo podia-se aprovar por decreto e assim se fijo). Em qualquer caso, se toda a estratégia antifascista da esquerda se baseia em dilatar ao máximo umhas eleiçons porque tem medo de que esse fascismo receba apoios em forma de voto, estamos-che apanhados.
Neste momento, a pelota está no telhado da direçom de En Marea. O gesto dos deputados do Congresso constitui um desprezo absoluto por Luís Villares. Se todo se fiava a chegar às municipais e às europeias dissimulando o que já é indissimulável, a possibilidade de novos comícios desbarata esse caminho.
Umhas novas eleiçons gerais som, para quem isto escreve, a oportunidade de sondar umha candidatura galega que inclua a BNG e a En Marea. Chanço primeiro para levar a cabo o inevitável no meio prazo: a refundaçom do soberanismo galego.