No passado mês de dezembro, o movimento feminista de Gasteiz ocupava umha casona abandonada na zona velha da sua localidade. “Talka” (que quer dizer “bater/chocar” em euskera) veu para “abrir umha fenda no sistema” criando um espaço desde o que luitar contra o sistema capitalista e heteropatriarcal. Entrevistamos a umha das mulheres* que fam parte do projeto (por questons de segurança as mulheres* que participam de Talka nom aparecem com os seus nomes reais nos meios de comunicaçom)
Como nasce Talka?
Talka como ideia ou necessidade surgiu há já uns meses entre diferentes mulheres* que nos movemos no movimento feminista e no movimento popular de Gasteiz.
Nos últimos tempos estes dous movimentos tivérom grande força na nossa cidade, mas ainda assim víamos um baleiro quanto a um espaço de esquerdas, feminista e radical em Gasteiz, no que poder reunir-nos, mas que também fosse umha chamada de atençom em quanto ao sistema capitalista heteropatriarcal em que vivemos.
Considerávamos que este espaço devia ser construido por e para mulheres*, nom só para criar um espaço seguro fora do patriarcado, também porque víamos que era necessário como ferramenta de luita.
Por que surge a necessidade de criar um espaço liberado para mulheres*?
Gasteiz foi conhecida como umha cidade de curas, burgueses e militares, tivo fama de umha cidade rançosa e de direitas, mas nós temos claro a pesar de que esse setor existe e tem poder, também existe e é cada vez mais potente essa outra Gasteiz popular e revolucionária.
A necessidade surge polo tanto de querer bater de fronte com esse Gasteiz, com esse sistema, mas também de querer seguir dando passos na construçom dessa outra cidade da que si gostamos.Quais som os objectivos políticos e sociais de Talka?
O nosso lema é “umha fenda no sistema” e esse é também o nosso principal objetivo. Como dixem, Talka nom é só um espaço seguro, é sobre todo umha forma de aguilhoar o sistema, criar-lhe contradiçons e fendas para rematar com ele.
O espaço, a ocupaçom, som umha ferramenta muito útil, mas nunca o objectivo.
O atual sistema e as suas instituiçons nom nos servem, exploram-nos, usam-nos como objetos, menosprezam-nos… Como exemplo claro temos a justiça patriarcal, mas também o intento de comercializaçom e usurpaçom do feminismo, as condiçons laborais precárias das mulheres, a exploraçom das mulheres migradas, das jovens, a expeculaçom coas nossas vidas…
Entendemos que o feminismo é imprescindível para fazer-lhe fronte a este sistema, ao patriarcado, ao capitalismo, à heteronorma, ao racismo… e a ocupaçom é umha ferramenta muito válida e necessária para marcar às instituiçons que sustentam todo este sistema.
Que tipo de atividades organizades?
De momento a maioria de atividades fôrom dirigidas ao próprio edifício, já que depois de 15 anos baleiro, podes imaginar, é preciso arranjar e limpar para poder fazer qualquer atividade.
Muitas das atividades que fixemos até agora fôrom também para que as mulheres* de Gasteiz conhecessem o projeto: assembleias, jornadas de trabalho, jornadas de portas abertas, pintxo-pote…
Também fixemos atividades mais lúdicas como umha ceia com bertsolaris e outras mais formativas como um obradoiro de serigrafia e outro de software livre.
Diferentes coletivos feministas de Gasteiz e Euskal Herria também começárom a usar o espaço para poder realizar reunions e atividades.
O nosso objectivo doravante é seguir dando-lhe forma ao espaço, fazê-lo cada vez mais acessível para todas. Quanto às necessidades físicas do espaço, mas também quanto às necessidades políticas. Começamos umha reflexom partilhada, com o maior número de mulheres* possível para dar-lhe ainda mais forma e conteúdo a este novo projeto, que vista a acolhida social que tivo, era mais que necessário.
Como valoras a acolhida a nível social nestas primeiras semanas de funcionamento?
Fico curta se digo que a acolhida foi incrível, muito boa. Fôrom muitíssimas as mulheres* que se achegárom interessadas no projeto, que participárom das assembleias, nas jornadas de trabalho, nos obradoiros…
Muitas sublinhárom também a necessidade dum projeto coma este em Gasteiz e recebemos o apoio de muitos coletivos feministas e sociais de Gasteiz e Euskal Herria.
Isso si, e como nom podia ser de outra maneira, a resposta do concelho foi bem diferente, cousa que por outra banda também nom nos surpreende nem nos preocupa!
O concelho fixo um escrito na nossa contra num pleno, obviando o objetivo da ocupaçom e o feito de que somos mulheres*, e ficárom sós na defesa deste texto. Ao ver-se sem o apoio dos demais partidos políticos puxo-se em contato coa empresa dona do prédio para notificar-lhe a ocupaçom e anima-la a denunciar, conscientes de que eles nom podem fazer rem para desalojarnos se nom houver denúncia.
Diferentes meios dixérom que havia denúncia e por tanto podia começar o caminho para o despejo, mas de momento nós nom temos constância de isto seja assim.
Vendo que esse caminho está bastante parado seguem tentando meter-nos medo com identificaçons por parte da polícia local e a passada semana levárom material pertencente ao movimento popular que estávamos introduzindo na casa.
O mesmo dia que fazíamos um mês de vida Iberdrola cortou-nos a luz e estamos pensando como fazer para recuperá-la.
Porém, como dixem ao começo, a valoraçom destas primeiras semanas é muito positiva, e seguimos com força e muito ânimo com esta experiência que já por terem-se criado consideramos umha vitória.
- o asterisco detrás da palavra mulheres refere-se a que desde Talka nom entendem o termo “mulher” como algo estanco, já que consideram que som muitas as opressons que as cruzam e este termo nom as recolhe todas.