Venezuela conta com umha reserva de mais de 300.000 milhons de barris de petróleo, o que a converte no país com mais reservas de petróleo do mundo, incluso por acima de Arábia Saudita. Dados tirados da própria Agencia Central de Inteligência estadunidense (CIA).

Venezuela está dirigida desde o ano 1999 por um governo de esquerda progressista que, sem ser comunista nem ter iniciado o caminho rumo ao socialismo, está a evitar a transferência das principais riquezas do país, nomeadamente do petróleo, cara as economias centrais do planeta.

Estes dous dados deveriam ser suficientes para entendermos o processo de assedio à que Venezuela está submetida desde há duas décadas, e dentro da qual se enquadra a recente autoproclamaçom de Juan Guaidó como presidente da república, e o seu reconhecimento imediato por parte da OEA e do governo dos EUA.

A falta de democracia como escusa

Para explicar os últimos acontecimentos há que retroceder a 2016 quando a oposiçom ganhou as eleiçons legislativas e se iniciou um processo de negociaçom entre o chavismo e a oposiçom na República Dominicana. Desta negociaçom, mediada por agentes internacionais, entre eles o ex-presidente espanhol J.L. Rodríguez Zapatero, saiu um acordo para a convocatória de eleiçons presidenciais antecipadas e as garantias eleitorais desta.

Com todo pronto e a poucas horas para a assinatura do acordo, a oposiçom anunciava que nom assinaria. Isto sucede trás umha chamada do ex-secretário de Estado estadunidense a um dos representantes da oposiçom, Julio Borges. A oposiçom, logo de ser questionada nas datas seguintes por parte dos mediadores internacionais pola sua volta atrás a última hora, dividiu-se e enquanto a parte mais reacionária decidiu nom apresentar-se às eleiçons presidenciais, o resto de oposiçom apresentou três candidatos. O processo eleitoral foi realizado cumprindo as garantias que a própria oposiçom exigira no acordo, além das que já estabelece a constituiçom de 1999. Foi validado por mais de 2 000 observadores internacionais. Todas estas garantias fazem que o processo eleitoral venezuelano seja um dos mais transparentes do mundo, chegando a qualifica-lo Jimmy Carter, ex-presidente dos EUA, como “o melhor do mundo”.

Como resultado das eleicons, Nicolas Maduro ganhou com o apoio do 30,45 % do censo, percentagem superior ao conseguido, por exemplo, por Trump, Macron ou Macri, e com mais do 60 % dos votos emitidos. Por tratar-se de um sistema de eleiçom por sufrágio universal direto, o presidente é eleito diretamente polo povo e nom por acordos parlamentares. Nicolás Maduro foi finalmente investido presidente o 10 de Janeiro.

A reaçom do Império

Depois da eleiçom de Maduro, a direita americana, liderada por Washington, anunciou que aumentaria a pressom contra Venezuela. E na reuniom do Grupo de Lima feita o dia 4 de Janeiro deste ano foi onde se orquestrou o golpe de estado que se produziu esta semana.

O Grupo de Lima é um agrupamento de dirigentes de vários países americanos com o objetivo de desestabilizar o governo bolivariano. Nessa reuniom acordarom umha série de medidas de choque, que na prática era umha declaraçom de guerra: aumento da pressom diplomática, iniciar umha investigaçom no Tribunal Penal Internacional contra o Estado venezuelano, reforçar o bloqueio financeiro ao país, congelar ativos a personalidades do governo, e um longo etecetera.

A estas pressons “diplomáticas” há que acrescentar umha guerra suja para eliminar a Maduro de forma violenta. Lembre-se que o serviço de inteligência venezuelana descobriu mais de 700 mercenários que tinham como objetivo atacar bases militares colombianas baixo falsa bandeira para justificar umha posterior intervençom militar contra Venezuela. Também há que lembrar o ataque frustrado por médio de um drom carregado de explosivos contra o presidente, que aconteceu o 4 de agosto do passado ano e onde finalmente se demostrou que Julio Borges, o representante opositor mencionado mais arriba, estava implicado.

Embora o Império se esforça intensamente por tombar um governo legítimo, para o qual conta com enormes recursos militares e económicos, há que dizer que Maduro conta com o apoio do povo venezuelano, quem saiu massivamente às ruas, das forças armadas nacionais que já declararom publicamente que defenderiam ao governo legítimo, além de contar com o apoio dos principais sócios económicos do país, entre os que destaca Rússia. Fica aguardar como se resolve este pulso do Império ante um povo digno.

Liçons para a Galiza

O que esta a acontecer em Venezuela é umha nova mostra de que o Capital nom duvida em utilizar todos os médios à sua disposiçom para alcançar os seus fins. Se consegue fazer abalar Estados soberanos, equipados e protegidos com os seus exércitos, forças de segurança e serviços de inteligência, imaginemos o que podem fazer contra os movimentos de liberaçom mais modestos. Como já nos amossou a História, qualquer movimento revolucionário que ouse desafiar realmente a lógica do Capital sofrerá a repressom.

Solidariedade galega

As mostras de apoio ao governo legítimo de Venezuela desde o movimento popular galego som numerosas. Entre elas, vertemos um fragmento do comunicado de Mar de Lumes, Comité Galego de Solidariedade Internacionalista:

(…) denunciamos a tentativa da oposiçom política venezuelana de proclamar um de seus representantes, Juan Guaidó, como presidente interino do país. E denunciamos também a política irresponsável dos governos que, após semanas a alentar o golpe de Estado no país, hoje se apressurarom a reconhecer um presidente ilegítimo, nom eleito, e ao serviço de interesses espúrios e estrangeiros, em particular dos Estados Unidos e dos conformantes do Grupo Lima.

Somos cientes de que a Venezuela enfrenta problemas sociais, econômicos e políticos. Nenhum país do mundo está livre deles. Mas também somos cientes de que a mobilizaçom violenta, a reediçom das guarimbas e os chamados da oposiçom ao caos e desconhecer o governo do presidente Nicolás Maduro –que som umha reediçom dos penosos momentos que já vivemos em anos anteriores– nom respondem a esses problemas, mas à necessidade do grande capital de aproveitar os recursos e riquezas que a Revoluçom está colocando nas maos do povo venezuelano. Em outras palavras: a necessidade do grande capital para eliminar os obstáculos ao seu lucro.

O resultado da interferência estrangeira na América Latina já o conhecemos. O regueiro de morte e destruiçom semeada pelo imperialismo naquele continente e em todas as partes do planeta também. A desculpa para democratizar também nom é nova. Mas nom por isso deixa de ser umha desculpa.