“A Liga Gallaecia é um projeto auto-gerido com os seus pros e contras.”

Neste ano, um dos projetos insígnia do tecido popular galego, a Liga Gallaecia, celebra o seu quinto aniversário. O divertimento, o jogo justo, a integraçom e a procura da equidade som características definitórias do gaélico misto na Galiza, mas como nos amossam Eva e Raquel integrantes da Suévia, as que tivem oportunidade de entrevistar em nome da Liga, também o som a democracia e o assemblearismo, junto com a responsabilidade e participaçom coletiva.

A Liga Gallaecia foi apresentada na Gentalha do Pichel há já cinco anos, no agosto do 2013. Como é a evoluiçom e a atualidade da mesma?

Raquel: Pois atualmente somos oito equipas, em Ourense, Condado, Baixo-Minho, Corunha, Vigo, Pontedeume e Lugo. Imos pola sexta temporada e eu creio que a dia de hoje a Liga continua em construçom, fôrom-se dando processos de reflexom, desde a questom de género à desportiva.

Quáis forom os momentos chave, os intres de inflexom e de madurez da Liga?

Eva: Um dos principais pontos de inflexom já foi nos inícios da gestaçom da Liga, quando se clarificou que se tinham configurado duas linhas divergentes: umha delas, a que a dia de hoje representa a Liga Gallaecia, com um caráter marcadamente misto e a outra, a Liga Galega de Futbeol Gaélico com modalidades masculina e feminina independentes.

Também a criaçom da coordenadora como espaço assembleário de decissom entre todas as equipas ajudou a avançar em pontos relevantes como som umha maior seriedade nos aspetos técnicos, nas arbitragens ou na própria organizaçom dos eventos desportivos.

Outro dos pontos tivo lugar na anterior temporada com a adoçom dum regulamento de atitudes e valores, onde se recolhe umha definiçom dos valores a preservar pola Liga e que fazer quando estes se ponhem em perigo. Por colocar um exemplo está punido fazer comentários machistas, homófobos ou racistas e recolhe-se como se deve atuar se isso acontecer.

Raquel: (Em relaçom ao regulamento de atitudes e valores) Som este tipo de cousas que todo o mundo entende que nom se podem fazer mas que se nom estám recolhidas em nengum sitio nom se combatem com o mesmo rigor. No seu momento gerou dúvidas de até que ponto empregar o mecanismo de punir, mas nesta hora é o mecanismo que temos até que se nos vaiam ocorrendo outras alternativas, ainda que tentamos primar as medidas educativas.

Umha das cousas que mais me chamou a atençom foi o conflito entre a Liga Gallaecia e Federaçom de Atletismo Gaelico (GAA). Como se abordou a problemática e qual foi o pouso que deixou na Liga?

Eva: O conflito principal é que as mulheres e os homens nom podíamos jogar em igualdade de condiçons porque a GAA nom contempla que pratiquemos o mesmo tipo de modalidade. Foi aí onde se resolverom as grandes questons da gestaçom do futebol gaélico na Galiza que dérom em duas linhas diferenciais a dia de hoje.

De fato tenho entendido que foi umha campanha agresiva face a Liga Gallaecia, tendo que retirar mesmo símbolos.

Eva: Desde o intre no que decidem nom dar-nos cobertura por jogarmos mulheres e homens com as mesmas regras, sim há hostilidade.

Raquel: Partimos da base de que a GAA coloca que rapazes e rapazas nom temos as capacidades para jogar ao mesmo desporto. Desde esse ponto o que se faga nom pode ser de nenhum jeito amistoso já que o posicionamento de entrada é muito agressivo e coloca as moças como o foco do problema.

A ligaçom entre as equipas e o entorno associativo e cultural da contorna é um dos traços definitórios da Liga. Como explicariades este fenómeno?

Eva: Foi o agente impulsionador, rom os centros sociais os que virom umha oportunidade neste desporto. Era um campo novo onde provar novas fórmulas; nom só tinha o próprio atrativo da originalidade mas também o fato de que podia estar menos poluído das dinámicas doutros desportos mais assentados, dando pé a práticas desportivas de base, mais solidárias, colaborativas e em chave feminista.

Outra das novas que nos deixa a Liga é a criaçom da escola de futebol gaélico junto com a Semente o que amossa a saúde e implantaçom destas duas iniciativas do tecido popular galego. Qual é a impressom que tedes desta iniciativa?

Raquel: Eu penso que é um sucesso que se deixe de ver o futebol gaélico como algo alheio, já nom é tam estrano quando dis que praticas gaélico. O reto que vai ter este projeto é de cara a consolidar-se com mais escolas curso trás curso mas também quando estas crianças medrem já que a meirande parte das escolas desportivas a estas idades som mistas mas a medida que se vai avançando começa a segregaçom.

Nom é um reto polos postulados que tenhamos nós ou a Semente já que partimos dumha base bem clara, se nom porque interfirem outros agentes socializadores, alguns mui potentes, o reto está em estabilizar-se nas vindouras etapas.

Palpa-se umha contradiçom quando tantos agentes sociais e políticos do País difundem a seleçom de futebol gaélico perante o mundial de França. Por umha banda socializa-se este desporto mas desde uns postulados nom inclusivos. Vista a correlaçom de forças, temos oportunidade para que pola primeira vez se imponha como hegemónico na Galiza um desporto misto e de base?

Raquel: Eu nom o tenho mui claro, o pulo das ligas de futebol gaélico amparadas pola GAA e a Federaçom de Futebol Galego está a ser forte porque contam com o resguardo institucional. Há que decatar-nos de que nom só nos distinguimos no jeito de como se joga se nom também no feito de como nos artelhamos como organizaçom. A Liga Gallaecia é um projeto auto-gerido com os seus pros e contras e nom conta com o apoio de nenhum estamento político-institucional por tras.

Eva: Esse é um debate bem interessante no que nom falaria de rivalidade. As próprias posturas misto/segregado podem ser mui debatíveis mas para mim o problema principal radica em que justamente no futebol gaélico, a modalidade feminina da GAA ainda se mantém mui paternalista e condescendente com as mulheres, impedindo-nos realizar práticas que sim som permitidas aos homens. Claro que também entendo que essa seria umha batalha interna que devem decidir se dar ou nom as companheiras que jogam nessa modalidade. Nós simplesmente optamos por umha via que nom tendo os benefícios do amparo institucional, também nom padece mais imposiçons que as nossas próprias decisons assembleárias. As próprias potencialidades também agem como debilidades em muitos casos, e viceversa.

E também é um problema que nós como tecido político e social nom tenhamos assimilado completamente qual é a nossa aposta. Eu nom o tenho claro, é bom socializar os sucessos da Estrela Vermelha ou da seleçom nacional?

Raquel: Louvar os sucessos desportivos doutras equipas é bom. Eu penso que nom é um problema de concorrência. Nós decidimos um projeto e outras apostárom noutro.

Sim que me paresce preocupante que nom se assuma política e socialmente qual é o projeto de referência, se pensamos só no plano desportivo, na competiçom com as regras que nos marcou o futebol británico sem dar-lhe nenhum tipo de matiz claro que nom nos supóm nenhum problema ideológico: é um partido e ponto. Mas se ampliamos a nossa visom e pensamos: que implica o desporto? Que implicam as competiçons desportivas amparadas por instituçons? Que implica que esse tipo de instituçons lhe estejam a dar pulo por exemplo às casas de apostas? Que implica que nos encontros desportivos ainda a dia de hoje exista a figura da ‘azafata’ dando os trofeus e molhando-se com o champam?

Creio que no que erramos é em ver os projetos desportivos como o momento do jogo, ao final o momento do jogo é nada, é umha hora o que dura um partido de gaélico, mas pola volta há muitas cousas e essas cousas som as que marcam.

Joga um papel importante o futebol gaélico misto na construçom de novas masculinidades?

Raquel: Jogar na modalidade mista implica por umha banda que nós nos empoderemos e também para os rapazes que tenhem que deconstruir a sua masculinidade hegemónica e desaprender certas habilidades e atitudes em prol do coletivo. Que há malas atitudes e reproduçom de roles imperantes é obvio, sobretudo de entrada. Mas o convivio e ir entre nós matizando questons vai gerando mudanças ainda que é dificil calibrar o seu alcance.

A nível de transmissom de saberes e conhecimentos. Como se plasma todo isto num adestramento?

Eva: Aqui cada equipa tem o seu método, por exemplo na Suévia digamos que a estrátegia dos últimos anos das equipas treinadoras é fomentar dinámicas participativas e fazer exercícios técnicos onde se impossibilita o jogo hegemonizado por umha única pessoa ou se minimizam os momentos de destaque individual. A adoçom de vestiários mistos acho que também tivo um impato muito positivo no avanço da consciência igualitária da equipa.

Umha pessoa que se incorpora ao mundo do desporto pode nom ter assimilado a responsabilidade de gerir o seu próprio ócio. Como é a Liga em termos democráticos?

Raquel: A nível de estrutura temos umha coordenadora que está integrada no mínimo por duas pessoas de cada equipa. Também temos três assembleias gerais por ano, som abertas e é onde se tomam decissons como o calendário, a incorporaçom de novas equipas e aspeitos que afetam à filosofia da Liga.

A ideia da coordenadora é que seja umha comissom de representantes das equipas, ao final som o enlace que comunica os debates e decissons que se tomam na coordenadora. Também há um organismo de arbitragem e de redes sociais.

A Liga contribue para criar umha cultura participativa, de debate e de toma de decisons.

Eva: Sim. É a sua principal potencialidade e ao mesmo tempo o principal foco de problemas porque pode dar lugar a discrepáncias de menor ou maior calado.

Por último, que lhe diríades a alguém para animá-lo a incorporar-se a umha equipa da Liga Gallaecia?

Raquel: Que é umha Liga onde temos muito por construir e onde cada pessoa que entra nova tem algo que aporta e algo que aprender.

Eva: Tanto aos homes como as mulheres diria-lhes que é um espaço de aprendizagem enorme. E às mulheres ademais diria-lhes que tenhem a oportunidade de praticar desporto num espaço seguro, sem paternalismos nem auto-limitaçons.