No passado domingo celebrou-se a 40ª ediçom da Carreira Pedestre Popular de Compostela. Esta corrida, junto com a tradicional Sam Martinho, que se celebra cada mês de novembro na cidade de Ourense, e a Carreira da Mulher que se celebrou o passado 17 de Setembro na cidade d’A Corunha, som possivelmente as carreiras mais multitudinárias de Galiza. O domingo juntárom-se nas ruas de Compostela mais de 4.000 pessoas se somamos a categoria de adultos e a escolar, na Corunha forom mais de 7.000 as mulheres que sairom a correr e para a prova ourensá ja há inscritas mais de 5.000 atletas. À margem dos próprios resultados desportivos e das marcas feitas cumpre analisarmos este fenómeno social.
A evoluçom
Se bem dende a primeira década do século XX se tem constáncia de provas atléticas em diferentes vilas galegas, a massificaçom nom se produz até bem entrado o século XXI. Na Galiza, as primeiras provas de atletismo fôrom produto da relaçom entre grupos de trabalhadores británicos e alemaos que se assentavam nas cidades portuárias galegas com a populaçom local. Estas eram publicitadas na prensa local para atrair o interesse dos seguidores do sport –termo que utilizava a imprensa–, polo que graças a isto sabemos por exemplo, que em 1907 o C.D. Compostela, que se constitui esse mesmo ano, organiza provas ciclistas e pedestres ou que o clube corunhês Alltheweek, constituído um ano depois, organiza umha carreira de 10.000 metros. Estas provas som dominadas maioritariamente por populaçom estrangeira1.
A nível internacional, a popularizaçom do atletismo começou nos anos 70 nas grandes cidades norteamericanas com a organizaçom das primeiras maratonas populares, que pronto de estendeu também às cidades europeias até converter-se em provas massivas, nas que participam dúzias de milhares de atletas. Foi precisamente em 1970 quando se celebrou a primeira maratona popular onde participárom apenas 127 atletas. Hoje em dia, o número de carreiras pedestres multiplica-se e quase que cada cidade e vila galega organiza a súa própria prova de atletismo. Como dado, no Estado espanhol celebram-se mais de 4.000 provas anuais do que resultam mais de 75 cada fim-de-semana.
Mercatilizaçom
A pesar de haver também provas benéficas, solidárias ou a favor de diferentes causas sociais ou culturais, como pode ser o Correlingua, detrás da maioria das competiçons há um gran negócio. A priori, correr pode ser o desporto mais austero já que nom precisa de grandes gastos em equipamentos especiais, nem umhas sapatilhas de desporto som imprescindíveis para praticá-lo –lembre-se o atleta Abebe Bikila, o corredor que ganhou descalço a maratona masculina dos Jogos Olímpicos de Roma em 1960– mas na realidade existe um negócio que move milhons de euros cada ano. Apenas em Estados Unidos o sector facturou mais de 3.000 milhons de dólares no 2016.
Com a assistência massiva ás carreiras populares todos os sectores empresariais buscárom tirar proveito, e nom só as grandes marcas de roupa desportiva fam negócio. A venda de sapatilhas de atletismo disparou-se (é habitual a mesma pessoa disponher de 3 ou 4 pares de diferentes características em funçom do tipo de firme sobre o que seja a carreira ou incluso da meteorologia) e ir equipado com complementos desportivos como rológios com GPS ou com pulsómetro, óculos de sol e roupa térmica especializada é a tónica geral em qualquer aficionado.
Também é fonte de benefícios para todas aquelas empressas que formam parte da organizaçom, como o aluguer de infraestruturas, as que prestam serviços (assistência médica, árbritos, segurança privada, serviços de fotografia, cronometragem) a fornecimento de augas e bebidas energéticas, e de forma indireta o setor turístico (agências de viagens, hoteis, restaurantes). E todo isto vê-se reflectido nos preços das carreiras que pode chegar aos mais de 300 dólares que custa a inscriçom na maratona de Nova Iorque.
Componhente ideológica
Mas há algo mais trás esta nova moda? Vivemos um momento em que o prestígio está no individual e desacreditam-se cada vez mais os projetos colectivos. Nom se precisam sindicatos quando eu só, individualmente, com o meu trabalho pessoal podo atopar um bom emprego e melhorar a minha situaçom laboral. Mesmo seria possível, com umha boa ideia, criatividade e esforço, fundar a minha própria empresa. O romanticismo idealista, em oposiçom ao materialismo histórico, apoia-se na compreensom dum mesmo para transformar o mundo desde a subjectividade. O capitalismo posmoderno apropria-se desta ideia e tem como expressom mais recente a ideologia do emprendedor.
Neste sentido o running é funcional à lógica neoliberal. O discurso associado a esta lógica é o do corredor como ente individualista, em concorrência com o mundo, em luita interna para lograr a máxima produtividade, mesmo fora da jornada laboral. De aí que a imagem coa que se ilustram os livros de management, e em geral o discurso do emprendedor como exemplo de superaçom pessoal, seja o dum atleta que corre só. O runner é perseverante, apoia-se no pensamento positivo, marca-se metas e busca constantes elementos de motivaçom.
Nom se trata de fazer umha crítica a quem pratica este desporto senom em entender por que o sistema apoia esta nova moda.