Por Alejandro Ávila (traduçom do galizalivre) /

‘O Burka como excusa. Terrorismo inteletual,religioso e moral contra a liberdade das mulheres’; eis o título dum dos livros mais famosos de Wassyla Tamzali,feminista argelina militante, que deixa pouco lugar ao imaginário. Tamzali leva décadas a erguer a voz pola igualdade e a liberdade da mulher árabe.

A sua história, narra no livro ‘é a conquista da rua, que desde a infáncia puidemos percorrer, com os cabelos ao vento, baixo a olhada cúmplice das nossas avós, vestidas de brenco. A nossa história é a do desvelamento (…) Eu, que nunca estivem velada, levo a história do velo escrita na minha pele.’

Advogada na Argélia antes de dirigir o Programa de Igualdade da UNESCO durante vinte anos, Tamzali continuou o seu trabalho a prol dos direitos da mulher através de artigos, livros e palestras, nos que se rebela contra a ideologia do véu, o feminismo islámico e um tipo de esquerda ‘condescendente’, que ela risca de ‘adepta do relativismo cultural’.

Ainda que Wassyla entende que a sua é umha ‘posiçom incómoda’, ao se apropriar a direita xenófoba do discurso contra o véu (por motivos diametralmente diferentes), lembra que ‘o que está em jogo aqui nom som anacos de trapos, de cores, formas e larguras diversas, senom visons do mundo, projetos de vida radicalmente opostos’. Dumha banda, os direitos humanos, e do outro, um islamismo que fijo da dominaçom da mulher ‘o coraçom desta religiom, que vive um período de obscurantismo e de absolutismo sem precedentes na história do Islam’.

Nom se posicionar contra o véu, sostém a feminista, é oprimir a mulher no nome da cultura, e ‘nom cumpre sulinhar todo o que pode transmitir de racismo, orientalismo e hábitos ruins essa posiçom’; pois como mantém o escritor libanês Amin Maalouf (Prémio Princesa de Astúrias das Letras em 2010), ‘as tradiçons apenas merecem ser respeitadas na medida que som respeitáveis, isto é, na medida exata em que respeitarem os direitos fundamentais dos homens e das mulheres’.

Num encontro com este jornal na Fundaçom ‘Tres Culturas’ de Sevilha, a escritora septuagenária fala sobre feminismo, véus e racismo.

Que significa para você o feminismo islámico?
É um oxímoron, umha contradiçom absoluta. Pode-se ser mussulmana feminista, até mesmo se pode luitar pola igualdade no interior do Islám, mas nom é abondo para que isso chegue a ser feminista. O feminismo é a deconstruçom do patriarcado, algo que nom fam elas. Acho que estas mulheres tenhem direito a existir, mas o que me zanga nom é o que dixerem ou o que fixerem, senom que o seu discurso se construisse para deslegitimar o discurso feminista. Isso si que me molesta.

É perigoso que no imaginário ocidental a mulher mussulmana vaia com véu?
Eu defendo os imaginários livres. Ocidente nom tem cultura abondo para saber o que é o mundo árabe. É o que ocorre com os orientalistas. Com a globalizaçom, qualquer um pode saber perfeitamente o que está a acontecer na Argélia, mas há jornalistas que nom fam esforço nenhum por se informarem, e ao cabo ficamos com imagens orientalistas que nada tenhem a ver com o verdadeiro mundo árabe.

Por quê no debate sobre o véu nom aparecem mais mulheres como você?
O problema é que no imaginário do que você fala eu nom ocupo lugar, porque a gente nom conhece a nossa história. No meu livro ‘A minha terra argelina’, vê-se como passamos dumha imagem da mulher árabe combativa, com o cabelo solto e a trabalhar no campo, a essa imagem do véu. O que você diz é muito importante,porque eu sempre digo que, quando se debate, a gente nom me vê. Se ao meu carom há umha mulher com véu, vai ser escuitada, vai-se-lhe ver, nom me vam escuitar a mim.

Qual é a raiz do problema?
A relaçom com Ocidente está poluída polo colonialismo e polo seu complexo de superioridade cara outros povos. Ocidente tem dificuldade para fugir desta ideia de domínio. Vê o mundo exterior através dum prisma onde domina o pitoresco, a diferença com o outro, quando a diferença nom é o primeiro que se devesse evocar ao dialogar com o outro.

Por quê a esquerda europeia semelha ter problemas para criticar o burka, como você fai?
Porque já nom há esquerda europeia. Já nom há pessoas de pensamento progressista e convertêrom-no em post-solidariedade. Deixárom de luitar.

Entra em jogo o tabu do racismo?
Entra, nom querem ninguém a riscá-los de racistas. Som decadentes, vivem de ideias decadentes. A liberdade vive-se como um produto de consumo, como vestir ou fazer o que a um lhe apetecer. Porém, nom reflectem sobre o que a liberdade é, e rematam por dar-lha a quem nom a respeita. Esse nom é o senso da liberdade, nom se pode dar carta branca aos islamistas, para fazerem com ela o que quigerem.

Piorou a situaçom da mulher após a Primavera Árabe?
A situaçom da mulher vencelha-se às melhoras do resto da sociedade. As sociedades mussulmanas e árabes precisam fazer a sua revoluçom. Porém, ao ocorrer tal cousa, também há umha contra-revoluçom. Isso é o que nos ensinou a história. As ideias que nascem dumha revoluçom rexurdem umha e outra vez, namentres que as revoluçons perdem-se. Na Praça de Tahrir (Egipto), as mulheres e os homossexuais saírom a luitar pola liberdade, enquanto os islamistas e os militares saírom para os prenderem. Prendêrom uns e outros, mas as ideias nom morrêrom, senom que rexurdírom. Quando umha sociedade compreende o senso da liberdade nas suas entranhas, na sua mente e no seu coraçom, já nom há ninguém que lho puder arrebatar.

Há esperança dumha revoluçom feminista no mundo árabe?
Nom, a revoluçom há de ser global. Se o fam os obreiros pola sua conta é umha revolta de obreiros; se o fam os estudantes polo seu lado, é umha revolta estudantil. Se, em troca, se unirem os estudantes, os obreiros e as mulheres, entom haverá revoluçom.

*Publicado originariamente em eldiario.es.