Como as cifras indicam, a Galiza encabeça sempre as estatísticas do Estado espanhol no que a medicaçom e casos registados de depressom diz respeito. Polos vistos, a incidência desta suposta enfermidade mental aumentou nos últimos cinco anos, tanto em diagnóstico como em medicaçom, até chegar à cifra de 135 000 pessoas afetadas na Galiza. Em dados mais globais, a OMS estima que no ano 2020 será a causa mais habitual de discapacidade. As pessoas jovens estám a padecer com maior incidência esta realidade, ao verem-se aumentado até em um 70 % os casos nas faixas de idade mais novas.

Mulheres e depressom

Também acontece que som as mulheres as mais afetadas por síntomas de tipo depressivo. As cifras que oferece a imprensa comercial oscilam sempre, mas vem-se a dizer que a sofririam umha de cada cinco mulheres frente a um de cada dez homens. Numha de estas reportagens publicada recentemente, a mesma paciente assinala como fonte de depressom a sua vida laboral e as altas exigências que se lhe apresentavam para compatibilizar trabalho e cuidado das filhas : “A primeira vez que caim coincidiu que me cambiárom o horário de trabalho. Tinha jornada reduzida e obrigárom-me a trabalhar a jornada completa. Isto desquadrou a minha vida (…) “. Porém, a explicaçom do grémio da psiquiatria coloca o foco no aspecto individual. Maria Díaz Marsá, presidenta da Sociedade de Psiquiatria de Madrid, adverte que as mulheres adoitam ter mais sintomas depressivos e somáticos do que os homens. Entre outras cousas, deve-se à influência das hormonas gonadais sobre os neurotransmissores. A dupla cárrega de trabalho que aturam as mulheres na sociedade capitalista aparece como última causa.

Víctor Pérez Solá, investigador do Centro de Investigación en Salud Mental, fala de que o factor genético tem umha influência do 30 % e o entorno até um 40 %. Por entorno entenda-se sempre a família, relaçons com a mesma e primeira infáncia, nunca sociedade ou sistema económico. De estes relatos e descriçons de caso parece entender-se que a pessoa é a última responsável do que lhe acontece internamente, dentro do seu organismo e, pola mesma, deverá adaptar-se e ser funcional a um mundo que parece estar correctamente organizado.

Outras visons, outros modelos

Afortunadamente sempre há quem ponha outro contaponto e diferentes maneiras de ver a realidade. Carlos Castilla del Pino, neurólogo e psiquiatra andaluz que escreveu um estudo sobre o teor, assinala que a depressom é umha espécie de perda do projecto vital e de esperança no futuro, que gera tédio e desesperança. Para ele, os processos neurofisiológicos que desencadenam a enfermidade depressiva “nom o explicam todo.”

Por sua vez, um professor da Universidade de Liverpool centrado em atençom primária e saúde mental, Christopher Dowrick, assinala nos seus trabalhos que as questons genéticas e biológicas da depressom nom som nada definitivas.  Aliás, o valor da medicaçom antidepressiva também está em questom. Para ele existem muitas interesses médicos e académicos que sostenhem o conceito de depressom como conceito académico. Nom por casualidade, muitas das notícias que acompanham as cifras de depressom na Galiza vam continuadas por parágrafes de texto que recordam as baixíssimas taxas de psicólogos com as que contamos em comparaçom com o Estado e a Europa. Realidade que nom deixa de ser certa, mas visto o lugar e a forma também tendenciosa.

Galiza: crise demográfica, emigraçom, abandono do rural… é depresosm ou que é ?

Afortunadamente desde a sociologia apontam-se chaves que nos ajudam a debulhar o que se nos conta será a pandémia vindoura. Em declaraçons para La Voz de Galicia, o sociólogo Santiago González Avión opina que Galiza tem traços diferenciais com respeito ao resto do Estado. Entre eles “temos falta de autoestima colectiva e actuamos em consequência. Tendemos, comparativamente ao resto de Espanha a emigrar mais porque pensamos que fora da nosa contorna há umha vida mellor”. O sociólogo aponta a que esta insatisfacçom pode ter a ver também com baixas taxas de natalidade e pouca expectativa demográfica. Como sabemos Galiza é, comparativamente com o resto do Estado, umha das zonas mais castigadas a nível demográfico, tanto pola baixa taxa de natalidade como pola forte e persistente emigraçom. O sociólogo adverte que este tipo de valoraçons sobre a situaçom da contorna pode levar a pensamentos do tipo : “isto remata-se”. É umha situaçom típica, embora pouco estudada do rural galego, onde a realidade social de falta de gente produz tristeza e pouca confiança no futuro. Carlos Losada, psicólogo clínico entrevistado também na imprensa comercial, adverte de que em Galiza, sobretodo no ámbito rural, existe umha alta taxa de alcolismo que associa a problemas de este tipo. Ele liga depresom a estrês e a pobreza.  “É a gente com menos dinheiro a que está submetida a mais estrês. Na Galiza hai uns índices de pobreza e exclusom social mui altos e isso está relacionado com a depressom.” Nom em balde, polos vistos, Galiza tem umha taxa de alcolismo de novo mui por cima da média estatal.

Na Psicopatologia de Jaspers adverte-se que na enfermidade depressiva o sentimento de insuficiência é das queixas mais habituais. Em parte conciência de insuficiência real e em parte sentimentos primários infundados. De novo, saltando dos problemas pessoais para os colectivos, na Galiza sabemos muito de sentimento de insuficiência, real e infundada também. Muitas vezes, esta insuficiência imaginada leva-nos a entregar-nos a todo tipo de terápias e auto-interpretaçons.

O trunfo da psicologizaçom : a personalidade terapéutica

Empatia, escuita activa, autocontrolo emocional… esta linguagem fai parte da narrativa e o desenvolvimento de técnicas psicológicas que tam inserido está hoje nas nossas conversas e relaçons. Para Eva Illouz, socióloga marroquina que desenvolve as suas investigaçons em Jerusalém, tal linguagem fai parte da intençom capitalista de invadir todas as esferas das pessoas. Esta operaçom na cultura emocional reproduz rasgos de intercámbio e relaçons económicas.

A estudiosa parte de duas focagens para a sua tese: a extensom da psicanálise na sociedade norteamericana do S.XX, que introduz um novo estilo emocional ( estilo emocional terapéutico) caracterizado por umha determinada concepçom do eu e umha produçom de linguagem que patologiza a vida das pessoas. E, por outro lado, analisa a linguagem criada em manuais de autoajuda. Desde os anos 30 até os 70 a psicologia estará exclusivamente pendente de descrever comportamentos e técnicas para gerir o trabalho colectivo das pessoas. (Volvemos, curiosamente, ao estudo já citado na anterior entrega de Elton Mayo). A autora está precisamente interessada em saber como nos afecta isto a nível pessoal. Para ela, o desplegamento de toda umha linguagem “emocional” é umha das expresons. O auge e consumo de livros de autoajuda, outra. A autora também interpreta esta literatura, advertindo que o femismo coincide perigosamente em linguagem e tecnologia com este “capitalismo emocional.”

Finalmente, a socióloga considera que esta cultura patologizante funciona porque oferece um componente regulador no caos de relaçons sociais da modernidade. O psiquiatra asturiano Guillermo Rendueles é mais crítico e chama a ser responsáveis perante a queixa, assegurando que “a sobriedade e a configuraçom de uns gostos e satisfaçons à margem das pseudonecessidades criadas desde a ideologia capitalista som o primeiro passo para adquirir umha difícil saúde mental.”

Esta cultura psicologizante tem também a sua expresom no mundo da psicoterápia. De novo o psiquiatra asturiano mostra-se muito crítico, assinalando a impossibilidade mesma da existência deste  “oficio” (psicoterapeuta) entendido como tal. Para ele a psicoterapia actual actua como ajudante de um sujeito posmoderno que se move através de umha espécie de “contabilidade afectiva”. Expresa-o em um artigo sobre o particular publicado no livro colectivo Antipsychologicum. El papel de la psicologia académica. De mito científico a mercenaria del sistema, editado por Virus. A psicoterapia responde perguntas do individuo reforçando respostas intimistas “receitando quanto sacrifício solidário e quanto de egoísmo é conveniente.” Todo colado a um contexto de sustituiçom e grande metamorfose dos esquemas tradicionais de vida das pessoas até a época moderna. Segundo ele passamos do cultivo da vontade, expressada em colectivo, ao calculo afectivo individual. Desde logo, um grande desafio humano e umha mudança de paradigma difícil de digerir.