Por Marcos Abalde Covelo /

O 25 de julho de 1936 ia viver-se com especial emoçom. Acabava de ser aprovado o Estatuto de Galiza. Mas, poucos dias antes, o fascismo instaura o terror e ocupa militarmente a maior parte das cidades e vilas galegas. Na Baixa Límia há um moço irredutível que redige e distribui umha brochura para encorajar os vizinhos e vizinhas de Grou a comemorarem o Dia da Pátria. Será aquela freguesia de Lóbios o último lugar da Galiza onde se reivindique esta data unida ao sonho democrático da República Galega.

Este homem de vinte e seis anos chamava-se Bieito Fernández Alonso. Recebera aulas de Alexandre Bóveda, emigrara a Argentina e incorporara-se à Sociedade Nacionalista Pondal, da qual chegou a ser presidente em 1934. Assinava os artigos n’A Fouce com os pseudónimos “Heraldo” e “B. F. do Palheiro” onde propugnava a necessidade dum Partido Arredista. De volta à Terra suma-se à Federaçom de Mocidades Galeguistas. O núcleo de Celanova tornara-se especialmente ativo e avançado com dirigentes tam carismáticos como José Velo Mosquera ou Celso Emílio Ferreiro.

Bieito Fernández sobreviveu ao genocídio de 1936. Participou na assembleia de Coruxo que rearticula o Partido Galeguista, no Comité Arredista Revolucionário Galego e também na fundaçom da Sociedade Cultural Auriense. Em 1998, com noventa anos, Galiza Nova rendeu-lhe umha homenagem em Lugo. Ao ano seguinte, poucos meses após a sua morte, o Clube Cultural Alexandre Bóveda inaugurou em Grou um monólito na sua memória.

Guarda florestal de profissom, contava com umha biblioteca de mais de 10.000 volumes, hoje custodiados polo IES Lucus Augusti graças à doaçom da sua filha, Teresa Fernández. Alguns deles de extraordinário valor que tivo que agochar para os salvar da barbárie. Um ato humilde e heroico que permitiu a Isaac Diaz Pardo editar em ediçom fac-símile A Fouce, vozeiro da Sociedade Nacionalista Pondal, e a Alonso Montero o Cancioneiro da loita galega. Duas joias bibliográficas fundamentais que só conservava este veterano independentista.

Ciente da importância histórica da brochura, Bieito Fernández também a guardou como última mostra de esperança dumha etapa que despertou a consciência nacional das classes populares. O “Manifesto de Grou” expressa com clareza o estado de ânimo daquela mocidade entusiasta.

Ao povo de GROU

Galegos: Hoje, 25 de julho, data consagrada desde há tempo como Dia da Pátria, queremo-nos dirigir aos nossos vizinhos para lhes lembrar a obriga que temos todos, como galegos, de dedicar o dia de hoje à exaltaçom de todos os valores da Naçom Galega, tanto espirituais como materiais.
Parelha com essa exaltaçom patriótica é mester também que afirmemos a nossa vontade decidida de libertar totalmente a nossa Pátria da tirania estrangeira que a tem avassalada desde há quatro séculos e meio.
Que hoje, amanhá e sempre, só ressoem no âmbito da Pátria o Hino Nacional Galego e as nossas fermosas cantigas populares; que se bailem e respeitem as nossas danças nacionais como a moinheira, a redondinha, a ribeirana, etc.; que se leiam os jornais e livros escritos no nosso idioma; que se consumam com preferência os produtos galegos; e por último que hoje, amanhá e sempre, só se fale, pense e escreva em idioma galego.
Galegos: Por enriba de todos os partidos políticos e de toda crença religiosa: GALIZA, GALIZA e mais nada que GALIZA.
VIVA A REPÚBLICA GALEGA!
Grou Dia de Galiza 1936