Por Jorge Paços /
Enquanto os partidos dinásticos aproveitam a condena a prisom de Iñaki Urdangarín para falarem da “igualdade ante a lei de todos os cidadaos”, as forças independentistas e de esquerdas assinalam que o regime sacrifica um pequeno peom para salvar as peças principais da monarquia, que ficam livres de toda responsabilidade. A decisom do Tribunal Supremo pode ser umha boa ocasiom para deitar umha olhadela na instituiçom que vertebra Espanha e que portanto consagra a unidade inamovível do Estado.
Há seis anos, com motivo do estoupido do caso Nóos, o estudioso da mída empresarial Pascual Serrano publicava um completo artigo sobre a blindagem oficial e oficiosa que protegia a monarquia espanhola de qualquer fiscalizaçom cidadá. Serrano fazia também um repasso da escassa bibliografia crítica com a dinastia borbónica, e que dava conta dos numerosos escándalos que rodeiam a casa real.
Segundo a Constituiçom espanhola, “a pessoa do Rei é inviolável e nom está sujeita a responsabilidade” Esta frase lapidária explica o muro de silêncio que rodea o monarca e a sua família, mesmo nestes tempos, onde a sua crise de legitimidade alcançou quotas muito altas. Segundo narra Serrano, o poder da censura espanhola chegou aos meios foráneos. A finais da década de 80, o jornalista Jon Lee Anderson viu como censuravam no Estado espanhol um seu artigo em The New York Times ; até começos deste século, o texto nom saiu à luz, mas fijo-o num pequeno dossiê dumha associaçom de jornalistas. A surpresa de Anderson foi grande ao se enteirar da censura, pois o artigo, na tradiçom anglosaxona, nom era crítico com a instituiçom, apenas claro e transparente. Anderson assinalava que o avô de Juan Carlos, Alfonso XIII, era um vividor preocupado apenas com as mulheres, o jogo e a caça ; salientava também a ligaçom estreita entre o anterior monarca e o ditador Francisco Franco, e a recorrente tendência de Juan Carlos de protagonizar escándalos sexuais.
Achega galega
Entre a enxurrada de apologias monárquicas, encarregadas de vender o papel do rei numha ‘transiçom política’ pacífica que nunca existiu, e de heroizar o seu papel no muito escuro golpe do 23F, o pensamento crítico foi abrindo-se passagem. Um contributo importante devemos-lho à jornalista galega Rebeca Quintáns, que com o pseudónimo de Patricia Sverlo e o apoio da editorial basca Ardi Beltza, deitou luz na figura de Juan Carlos I a inícios deste século. Sem se distribuir nas livrarias e recorrendo apenas a circuítos de distribuiçom alternativos, Un rey golpe a golpe punha em primeiro plano a fortuna do rei emérito, a sua relaçom com as ditaduras petroleiras do Golfo, o tráfico de armas, e as suas amizades com umha porçom importante da burguesia espanhola que rematou condenada à cadeia por corrupçom. Quintáns utilizou o pseudónimo por motivos de segurança, e nesta obra deu continuidade à pesquisa que encetara na sua tese de doutoramento na Universidade Complutense de Madrid. Em 2016, a autora deu a lume umha ampliaçom da primeira biografia, Juan Carlos I : la biografía sin silencios.
Numha entrevista concedida em 2014, Quintáns afirma que ainda que a situaçom quanto ao tratamento mediático da monarquia melhorou desde o ano 2000, “no fundo mudou todo muito pouco”. Recorda também que no processo de elaboraçom do livro, quase clandestino, os jornalistas celebravam reunions sem telefones móbeis e fora dos locais da redacçom.
Críticas internas
Quem desconfiar das pesquisas realizadas desde a esquerda e os movimentos sociais, pode ter acesso a achegas mais próximas ao Regime que, ainda com linguagem mais comedida, ratificárom algumhas das críticas colocadas no seu dia por Sverlo. Em 1999 Jesús Cacho editou El negocio de la libertad, um certo ajuste de contas contra a dirigência político-económica da pretensa democracia espanhola desde as suas origens. Cacho afirmava do rei, entre outras cousas, que “em datas prévias ao golpe de Estado do 23F tinha jogado a duas bandas”. O autor nom duvidava em confirmar que o monarca amassara umha enorme fortuna pessoal através de relaçons políticas internacionais de primeira orde, nomeadamente com sátrapas árabes e persas, e cobrando abundantes comissons.
O retrato que fai Jesús Cacho do monarca, segundo o extracta Serrano, é ilustrativo : “O rei nem lê livros nem jornais : limita-se a falar por telefone as vintequatro horas do dia, o que conforma em ocasions na sua testa coroada um grande sarilho. Em todas as ocasions, as muitas vozes que pretendêrom dotá-lo dalgum tipo de assessoria ou conselho de notáveis, umha simples tertúlia com a que se reunir de forma periódica para se falar com fondura de certos temas, fracassárom. O monarca gosta mais dos gajos divertidos, falangueiros, ricos melhor do que pobres, habelenciosos no trato com as mulheres e nos negócios”.
Amarelismo cala
Num país que apregoa dumha maneira impúdica a sua baixeza moral através do dixo-me dixo-me promocionado pola imprensa ‘do coraçom’, tradicional ferramenta alienante das classes populares, o amarelismo esquiva o relacionado com o monarca. Ainda que nos últimos tempos, a raiz do desgastamento da monarquia, ocasionalmente aparecêrom na mídia controvérsias sobre namoriscos e infidelidades do rei emérito, a sua difusom é sempre limitada. Independentemente de nom julgarmos ético que a imprensa se inmiscua na vida privada de ninguém -for trabalhador, político ou rei- parece evidente que também neste ponto a monarquia tem mais direitos que o resto da populaçom, pois consegue manter a salvo a sua vida privada.
Militares dissidentes
Nom faltam vozes críticas saídas da instituiçom militar, como as do coronel Amadeo Martínez Inglés, que foi expulsado em 1990 das forças armadas. Martínez, que pagou prisom por indisciplina em Alcalá de Henares, implica directamente Juan Carlos I na tentativa de golpe de Estado. Fai-no na obra El golpe que nunca existió ; no seu livro Juan Carlos I, el último Borbón, diz que o sistema político que padecemos é “umha ditadura na sombra por parte do monarca”. O desencantamento de Martínez com o Regime levou-no a aderir a teses republicanas e a participar de maneira efémera em Izquierda Unida.
A corrupçom do poder
Sem sermos exaustivos, si que cumpre deter-nos nas acertadas linhas que o jornalista basco Iñaki Errazkin adicou à monarquia na obra Hasta la coronilla. Autopsia de los Borbones : “a degeneraçom que causa a contínua endogamia, a sobérbia e a impunidade inerentes ao poder, for absoluto ou relativo, som elementos que nom ajudam precisamente a forjar um carácter virtuoso, e os Borbons nom som umha excepçom”.
As palavras fôrom certeiras. Seis anos depois de estoupar o chamado ‘caso Palma Arena’, sabemos que Iñaki Urdangarín aproveitou Nóos, instituiçom sem ánimo de lucro, cobrou facturas da entidade e da imobiliária Aizoon, também participada por Cristina de Borbón. A condena a Urdangarín salva a monarquia em pleno de ficar baixo o foco e da indignaçom. Só resta agora por comprovar como o marido da infanta atravessa a sua etapa penitenciária com suavidades e privilégios que nom conhecem nem os presos sociais nem as presas e presos políticos.
Ainda apodrecidos, o Regime mantém os seus pilares.