Por José Manuel Lopes Gomes /
Podemos dizer que umha representaçom da Galiza inteira, sem muitos exageros, voltou cenificar nas ruas de Compostela o arraigo social da defesa da Terra. Pessoas de todas as geraçons e ofícios, da terra e do mar, da urbe e do rural, seguírom o chamado da Plataforma Mina de Touro-O Pino nom ! e a Plataforma em Defesa da Ria de Arousa, para dizer alto e claro que resistirám o projecto de Atalaya Mining, avalado pola Junta e as suas teses extractivistas.
Desde a mobilizaçom em defesa das terras ameaçadas de Corcoesto, há justo um lustro, o nosso país nom vivia umha convocatória tam massiva relacionada com a luita ecologista e a defesa do território. Há que remontar a Nunca Mais, naquele chuvioso outono de 2002, para topar algo que o supere ; e de feito, a lembrança do próprio Nunca Mais, com o seu carácter transversal e o seu berro unánime contra a destruçom da riqueza colectiva, estivo presente na manifestaçom de hoje.
Por riba das previsons
Parte das pessoas convocantes queixavam-se nesta manhá no passeio central da Alameda do que demorava em começar o acto. Na realidade, a manifestaçom começara muito antes, mas antes de sair na sua totalidade, milhares de pessoas estavam a entrar na zona velha. Quando o discurso de feche começava na Praça do Obradoiro, ainda havia pessoas a procurarem o seu espaço ao pé da catedral.
A ameaça real que para a saúde das pessoas e para as possibilidades produtivas supom a reabertura da mina -agora com capital chinês e suíço- tivo peso abondo para mobilizar vizinhança relacionada com o sector agrogadeiro, com o marisqueio, e até mesmo com o turismo (a voadura de partes importantes do território vai deteriorar áreas cercanas ao caminho de Santiago). Também estivo presente essa parte de populaçom sensível com o expólio natural que sofre historicamente a nossa terra, fornecendo recursos e matérias primas a empresas transnacionais, e recebendo em troca desfeita, poluiçom e destruçom de postos de trabalho nos sectores produtivos. As bandeiras patrióticas estivérom presentes, como também foi manifesto o apoio do nacionalismo institucional do BNG, das Mareas, e de sectores do poder local vencelhados ao PSOE. O independentismo, por seu turno, recuperou consignas clássicas da defesa da terra, como a clássica ‘Governe quem governe, Galiza nom se vende’. Causa Galiza desdobrou faixa de seu com a legenda ‘Contra o expólio colonial, independência nacional’. A consigna ‘A luita é o único caminho’ foi amplamente secundada.
No discurso final nom só se pujo o acento na poluiçom de rios e regatos por mor da actividade mineira, já testada em anteriores exploraçons no Ulha, senom o ‘perigo mortal’ que suporiam as duas enormes balsas que Atalaya Mining pensa erguer, carregadas de minerais pesados, acarom das aldeias de Arinteiro e dos Torreis. Em caso de accidente, assinala-se no manifesto, ‘a cárrega mortal chegaria à Ria de Arousa em apenas 12 horas’.
Poder mobilizador
O acto de hoje representa um sério desafio a um dos projectos estrelas da direita espanhola e a popularmente conhecida como ‘Lei de Depredaçom da Galiza’, que agiliza os trámites para as empresas instalarem projectos depredadores no nosso território, reduzindo as possibilidades de autodefesa popular. O PP terá que pensar muito -mesmo em termos eleitorais- se quer passar por riba da vontade das 60000 pessoas que (segundo a organizaçom) desfilárom hoje polas ruas da nossa capital.
Noutra orde de cousas, se encardinamos esta mobilizaçom nos massivos protestos contra a vaga incendiária e contra o patriarcado (começadas pola greve geral de 8 de Março), ambos decorridos nestes últimos meses, patenteia-se que o nosso país é um viveiro de iniciativas de auto-organizaçom e luita que desafia o tópico da passividade.