Cada semana confrontamo-nos com sucessos que confirmam o estado decadente do sistema político e económico, com o pano de fundo dum deterioramento ambiental que também na Galiza, em forma de mudança climática e voracidade extrativista, condiciona as nossas vidas. Em tempos de guerras, ultradireita em ascenso, curtes de liberdades e supremacismo, oferecemos algumhas notas apontadas por Dennis Meadows, um dos poucos cientistas que, do interior do sistema, advertiu em 1972 do beco civilizatório ao que caminhávamos. As reflexons fôrom extrazidas dumha longa conversa do autor com Ferran Puig e Juan Bordera.

Com cincuenta anos de antecedência, um seleto grupo de cientistas críticos, nom precisamente anticapitalistas, apontárom cenários para o Clube de Roma no tam conhecido “Os limites do crescimento”. Com a perspetiva que dam as décadas, Meadows pom o foco nas questons mais candentes da multicrise.

1. Ciência e prediçom.

“Nós nom fixemos prediçons. Já dixemos que é impossível “predizermos” com exatitude nada no que o comportamento humano for um fator, o que fixemos foi modelar 12 cenários consistentes com as regras físicas e sociais. 12 futuros possíveis. Um deles, o standard, como sabes, amossava que o crescimento se ia deter perto de 2020. Entom todas as variáveis (…) tocavam teito e nuns 15 anos começavam a desabar inexoravelmente. Parece-se isto ao que estamos a viver? Eu diria que si. O mundo está a mostrar cada vez mais consequências dum choque contra os limites.

2. Caos, incerteza, criatividade

“Depois do pico de qualquer variável todo torna mesmo mais impredizível, porque entram em jogo factores que nom podiam ser representados no nosso modelo. Umha vez chegados a este ponto é óbvio que imos ser dirigidos mais por fatores psicológicos, sociais e políticos que por limitaçons físicas.”

3. A mudança climática, um sintoma

“Nom se pode soster o crescimento, digamos, enfrentando-nos a problemas um por um. Ainda que solucionarmos a mudança climática, topariamo-nos com o seguinte problema, ao sermos tam testudos como para seguirmos medrando, já for escasseza de água, de alimentos ou de outros recursos cruciais. O crescimento vai-se deter, por umha razom ou por outra.”

4. Ingenuidade científica.

“Eu era muito ingénui nos setenta, ao lançarmos o livro. Fum formado como cientista, e tinha a impressom de que ao empregarmos o método científico, iríamos produzir dados inquestionáveis, e se os ensinávamos à gente, entom isto ia abondar para produzirmos umha transformaçom na mirada e as açons das pessoas. Isto foi, quanto menos, ingenuidade.

5. Os riscos do curtopracismo.

“O único jeito de compensar (o curtopracismo) é ampliarmos o horizonte temporal e espacial. (…) Como ampliarmo-lo? Com as seguintes geraçons. As mais das pessoas tem preocupaçons legítimas, genuinas, sobre o futuro dos seus filhos, sobrinhas, netas.”

6. Podem as classes dominantes ser racionais?

“A nossa história durante milheiros de anos mostra que os poderosos procuram mais poder, e tenhem-no mais doado pola sua situaçom para o topar, é um bucle de retroalimentaçom positivo. Em dinámica de sistemas, chama-se “êxito para os já exitosos”. Rara vez nos desviamos deste fenómeno.”

7. Os perigos das pressas.

“Estamos como num tapete rolante que se acelera mais e mais. Já sabes, esses tapetes nos que corres sem ires a nenhures. (…) Assim que imos tomando más decisons, isso aboca-nos a crises que por obriga acurtam a nossa perspetiva temporal, todo torna reactivo enquanto aceleramos. Isto à sua vez ajuda a tomarmos piores decisons, porque estreitamos mais e mais o nosso horizonte temporal. É um círculo vicioso.”

8. Um ponto de inflexom positivo?

“Estamos mais perto dum ponto de inflexom social positivo, mas, por outro lado, temo que teremos que aguardar o agravamento das crises para reagirmos. E é mesmo pior: se nos descrevessem a nossa situaçom atual em, digamos, o ano 2000, pensaríamos que isto é já umha crise catastrófica. Somos a ra que nom salta da pota, cozida demais a lume manso. Malfadadamente, acho ser esta a nossa situaçom.”

9. Emergência de novos valores?

“Nom penso que exista açom ou lei nenhuma que poida desfazer este sarilho. Numhas poucas culturas, porém, vírom-se mecanismos evoluídos de redistribuiçom. No Noroeste dos USA há algumhas tribos que tenhem o costume do “Potlach”, umha cerimónia na que os chefes da tribo, os mais ricos, presenteavam parte das suas posessons (estou a simplificar, certamente). No budismo também há umha tradiçom de desapego ao material em muitos dos seus praticantes. Mas som raras excepçons. No nosso mundo, a tendência é a acumular poder, e isso ajuda a estar desvinculado da realidade. Entom acaba produzindo-se um colapso, também do mesmo poder, e tudo volve a começar de novo.”

10. Novos horizontes.

“Que a atual forma de vermos o mundo está obsoleta é óbvio com só assistirmos às notícias. Quase ninguém pode estar contente com o estado do mundo (…)

(um novo sistema) que funcionar tem que reconhecer a interaçom e dependência que temos com o mundo natural. Já temos comentado o extendido mito de que a tecnologia nos vai levar a superar qualquer obstáculo. (…) É umha fantasia total.

Acho que imos ver mais mudanças nos vindouros 20 anos que os que vivemos nos últimos 100. (…) Haverá desastres significativos por causa do caos climático e o esgotamento dos combustíveis fósseis, isto devolverá a humanidade a estados mais descentralizados e desconetados. A modo, vam evoluir culturas mais preparadas para a situaçom. Apenas asi poderá aparecer umha “nova cosmologia” ajeitada.”

*Dennis Meadows é um cientista estadounidense especializado em teoria de sistemas e formado no MIT de Massachussets. Os extratos procedem dumha conversa com Ferran Puig e Juan Bordera no jornal CTXT. Traduçom do Galiza Livre.