No passado 15 de novembro, o parlamento autonómico aprovou por unanimidade reconhecer Daniel Castelao como “primeiro presidente” do país, condiçom derivada da sua máxima autoridade no Conselho da Galiza, depositário da legitimidade autonómica no exílio. A proclamaçom, conseguida após a iniciativa lançada por um manifesto na Terra e na argentina, foi matizada, ou até mesmo criticada, por vozes que defendem que existiram, previamente ao rianjeiro, presidentes da naçom proclamados com apoio popular.
A jornada parlamentar do 15 de novembro foi celebrada por distintas vozes, e nomeadamente polo BNG, que a considerou “um avanço institucional, polo que supom de reconhecimento do Conselho da Galiza”. O historiador Antón Mascato, nas páginas do Nós Diario, salientou que a decisom supom aliás “um reconhecimento ao nacionalismo anterior à guerra civil”. A sessom institucional deu a voz a diferentes relatores, entre elas a Rosario Álvarez, presidente do Conselho da Cultura Galega, o catedrático Ramón Villares, ou o autor da grande biografia de Castelao, Miguel Anxo Seixas.
Questionamento radical
O consenso, porém, nom foi total, e vozes independentistas pugérom em causa a decisom. Num comunicado publicado nas suas redes sociais, a organizaçom Agora Galiza pujo em causa “que se considere como um triunfo o consenso atingido no parlamentinho autonómico”, e considerou especialmente grave que a formaçom nacionalista lá representada suscrevesse a decisom: “o BNG esquece que no 27 de junho de 1931, na capital da Galiza, umha greve geral de orientaçom revolucionária promovida polo proletariado, proclama a I República galega.” Para a formaçom, “trata-se dum erro gravíssimo negar que foi Antom Alonso Rios o primeiro presidente republicano galego e último presidente do Conselho da Galiza”. A decisom tomada, encaixaria portanto, segundo Agora Galiza, num “consenso envenenado com os partidos do Regime de 78, da UE e da OTAN”.
Aliás, numha brochura repartida na manifestaçom pro-língua do passado 17 de novembro, difundida também nas redes sociais de Agora Galiza, pede-se “rigor histórico” e dam-se nomes de outras autoridades da Galiza soberana: o ainda pouco conhecido Pedro Cisneros de Castro e Ulhoa, conde de Ximonde, que foi o representante do Reino da Galiza na Junta Suprema Central durante a Guerra do Francês, e importante defensor da cultura galega; Pio Rodrigues Terrazo, presidente da Junta Superior Provisória do Governo da Galiza na revoluçom de 1846; e o próprio Alonso Rios, citado no comunicado, líder agrarista e arredista na Galiza dos 30, e logo representante do galeguismo no exílio.
“Reconhecimento insuficiente dos anceios populares”
Semelhante crítica foi formulada polo Partido Comunista pola República Galega, com o que contatou este digital. Carlos Botana, dirigente desta formaçom, considera que a decisom do passado dia 15 enquadra-se “na mesma operaçom que já se fijo com Castelao com o translado dos seus restos em 1984, mais umha vez quer-se submeter umha figura com carácter revolucionário ao corselete do Estado burguês, que leva muito tempo querendo domesticar o que representa, o seu patriotismo de classe.” Por outra parte, o fundamento principal da discrepáncia, afirma Botana, “é Alonso Rios, que foi “o nosso primeiro presidente, na República de 1931, tivo realidade histórica, diga-se o que se dixer”. Aliás, continua o militante, “se se quer reconhecer o valor histórico do Conselho da Galiza, o que nos parece muito bem, há que reconhecer o seu derradeiro presidente Alonso Rios, e sulinhar que o Conselho sempre mantivo umha posiçom crítica com o galeguismo de patacom, logo abandeirado por Manuel Fraga e sucessores.” Foi portanto a declaraçom institucional do passado dia 15 um facto negativo? Carlos Botana concretiza do ponto de vista do seu partido: “tem duas caras, é matizável. Certamente, se das instituiçons se fam concessons a umha figura como Castelao, é porque sabem que a sua figura representa as aspiraçons populares, e vem-se na obriga de gestos assim; ora, nom se nos oculta a intençom perniciosa dos grandes partidos do Regime, e suprende-nos que as forças que deveriam ser mais críticas, por ingenuidade ou conformismo, aceitem.”
“Esquecemos umha parte importantíssima”
Contatamos também com César Caramês, filólogo e militante nacionalista que prepara um monográfico sobre a revoluçom galega de 1846, trabalho que simultanea com a difusom em redes de conteúdos inéditos do processo liderado por Faraldo. Para César, “o nomeamento parlamentar é induvitavelmente positivo, já que reconhece um governo autonómico que na terra nom puidemos ter, e resgata o Castelao mais político, que no ensino está ausente, camuflado apenas como um artista, segundo a imagem que potenciara o franquismo. Por essa parte, o nomeamento é umha maravilha.” Ora, Caramês reconhece sérias insuficiências: “falta a figura de Alonso Rios, que dúvida cabe; e nom se reconhecem na declaraçom nem a República do 31, nem a proclamaçom independentista de facto de 1846 que, recordemos, literalmente “declara anuladas todas as medidas do governo de Madrid.” O investigador destaca a necessidade de ubicarmos os facto naquele contexto: “a historiografia que minimiza aqueles factos diz que os rebeldes eram leais a Isabel II, a “rainha livre”. Si, eram-no nominalmente para ter o apoio dos militares sublevados, também os independentistas argentinos de 1808, na Revoluçom do Cabido, se declaravam leais a Fernando VII, assim se fazia nas coordenadas do século XIX”.
Quanto à pertinência de nos retrotraermos à Guerra do Francês, Caramês é cauto: “podemos falar de que na Junta do Reino da Galiza” há umha afirmaçom nacional, certo, e daí o peso de Castro e Ulhoa, mas eu aí falaria dum tempo onde nom existe ainda o Estado-naçom, e considero que som as derradeiras arquejadas do Antigo Regime. O que me parece fundamental é vindicar Rodrigues Terrazo, como representante dos galegos em rebeliom de 46, e também de Alonso Rios como fio condutor entre a proclamaçom da independência de 1931 e a legitimidade do Conselho da Galiza.”