Em 1876, Lamas Carvajal lançou ao público “O Tio Marcos d’a Portela”, a primeira grande experiência de jornalismo monolíngue, central para a difusom dumha identidade galega baseada no labrego, e primeiro grande ensaio anticaciquil. Nom era, nem muito menos, umha publicaçom de combate, continha críticas abertas ao republicanismo mais avançado, e cuidava-se de professar umha lealdade nacional galega nom espanhola. Estava muito, muito longe, do que os primeiros arredistas de Antolim Faraldo proclamaram trinta anos atrás, até a sua derrota na Revoluçom de 1846. Com isso e contodo, hoje ninguém nega que supujo um dos alicerces da nossa afirmaçom como povo.

Em 1950, um fato de significados galeguistas, os mais deles de costas viradas às demandas de Castelao e ao governo legítimo no exílio, o Conselho da Galiza, fundavam a Editorial Galáxia e abriam um espaço para a língua na longa noite de pedra. O seu setor dominante chegou a negar o nacionalismo, e enfrentou-se activamente à nova promoçom juvenil que pretendia reactivar a luita galega, agora em coordenadas de esquerda. Galáxia foi um formidável adversário (nom inimigo) da construçom da naçom política, e com isso e contodo, hoje ninguém nega que supujo umha achega valiosa à recuperaçom da nossa dignidade coletiva.

A primeiros do século XXI, aproveitando a grande maré da globalizaçom tecnológica e da ideologia neoliberal da promoçom dum mesmo, um setor do movimento pro-língua entendeu que o reintegracionismo poderia ser umha ferramenta de promoçom profissional do setor da classe média aberto ao mundo, e com expetativas de ascenso social e cultural no amplo mundo lusófono. Isto passava por desvincular-se das posiçons arredistas que levaram esta filosofia linguística às ruas da Galiza. Tal visom utilitarista do idioma nom é, como é evidente, ferramenta demasiado operativa para a maioria de galegas e galegos abafados por chegar a fim de mês ou na beira da exclusom, aqueles homenajados nos versos de Celso Emílio da “Língua proletária do meu povo”. Mas em qualquer caso, hoje ninguém nega que é mais um recurso entre os vários que podem promocionar o nosso idioma em agonia.

Bem entrada a centúria que andamos, fanadas as perspetivas insurrecionais e distintos projetos de luita armada em ocidente, umha parte importantíssima dos nacionalismos e da esquerda volcárom o total das suas energias e ilusons na monocultura eleitoral, obviando o caso, demonstrado pola passada experiência catalá e o fim da “nova política”, que o Estado tem sobrados recursos punitivos e mediáticos para espezinhar qualquer desafio, por legalista que este for. No caso galego, a hipótese dum governo galego apoiado num dos dous partidos-Estado de Espanha (o PSOE), nom é difícil imaginar o alcanço transformador desse executivo. Com isso e contodo, praticamente ninguém questiona que a presença de elites políticas nacionais na autonomia iria ser um passo à frente para a construçom do país.

Nenhum dos exemplos de tais propostas, que podemos chamar reformistas, gradualistas ou progressivas existiriam na realidade sem a presença própria de decididas propostas rupturistas ou, se se quer, utópicas: o exemplo de Faraldo inspirou o Rexurdimento, quadros fogueados no arredismo como Fernandes del Riego fixérom possível Galáxia, o independentismo marginal dos 80 e a sua aposta na grafia histórica fijo que nos fosse familiar a unidade da língua; e finalmente, nas origens primeiras dum grande poder eleitoral nacionalista, com as suas engrenagens de marketing, burocracia e demoscopia, está umha base de trabalho popular e voluntário, militante, sostida nas difíceis condiçons dos anos 70. O pai do sentidinho é em realidade o atrevimento.

Reformismo ou rupturismo? O primeiro nunca teria existido sem a pressom do segundo, fazendo assomar ideias escandalosas que, aos poucos, alcançam a consideraçom de razoáveis. Ambos campos existem para confrontar, conviver em tensom, e por vezes para retroalimentar-se, numha dialética que nunca cessa. Nalguns processos históricos, também na Galiza, militantes exaustos reciclam o seu velho radicalismo em opçons pragmáticas com o fim de “poder ver algum fruto” logo de anos de duríssimos choques e desgaste. Mas da aposta no doado, contra o que puder parecer, nom nasce nem reforma nem ruptura.