A mae de Antelo vive numha residência. Comparte txabolo, TV e tabaco às vezes, Cada semana recebe a visita do seu filho.
Pouco há a fazer na residência, mais que dar voltas e voltas. Algumha excecional erudita, que tem a cabeça mui aclarada, lê novelas e livros de outro tipo, outro adoita ir a fazer bicicleta ao ginásio e outras jogam às cartas todo o dia.

A mae de Antelo adica-se a regar as prantas do pátio.
Quando Antelo conta à mae o que fam com a gente mais nova no seu trabalho, nom o pode crer. Nos seus tempos havia certos direitos laborais que hoje estam em questom, como as férias, o direito à saude, o direito a sindicar-se… Que duro fora conseguir todos esses direitos e que rápido remataram com eles!


Sabe Antelo que ele nom pode tensar muito a corda no seu trabalho, pois do seu soldo depende também em parte a residência da sua mae. Mas sabe tambem que ele é um busca-vidas e que nom deixamos de viver numha sociedade da abundáncia e hipocrissia. Sabe-o por essas mulheres que conhece vam cuidar doutras pessoas maiores sem serem familiares, e que nem contrato podem ter por nom terem nem permiso de residência. Sabe-o pola rapaziada que vive ainda do soldo dos pais ou dos avôs com 30 anos, e que desfalcam tudo em alcol e farlopa cada fim de semana. E sabe-o também pola quantidade de dinheiro que se gasta na êpoca do natal em artilúgios tecnológicos, móveis, vestiário… quando ele o que quer é poder mercar um bilhete para fugir de todo isso ao fundo dum poço.

Quando caminha baixo a chuva pensa sempre no absurdo de certas possessons materiais e no doado que seria vivermos com o básico, rindo e dançando um pouco mais. Sente que aquele terror franquista ficou bem adentro das mentes e dos coraçons, e que ainda muitas tebras acompanham a noite de pedra. Também sente que o mundo dos diversos blocos imperialistas deixará ainda mais atrapadas muitas comunidades como aquela com a que ele sonha quando quer colher o melhor do passado e o melhor do imaginado. Mas Antelo vem de volta de utopias, sente-se velho e cascado e nom está para aturar discusons programáticas, retóricas éticas nem épicas de ninguém. Algo fará Antelo algum dia, quando alguém pida a sua ajuda, porque sabe de idiomas, de fontanaria, de eletricidade e de argalhadas, como sabe também dos açoutes amargos da vida.