Há vidas celtistas que pola sua plenitude merecem ser contadas e destacadas; a de Marta Souto foi umha delas. Poucas celtistas condensam na sua trajetória vital umha síntese tam acabada e admirável de lealdade e paixom polo Celta e de amor e compromisso com a nossa língua e com o país. O singular em Marta Souto é que viveu e gozou o seu celtismo e a sua condiçom de galega como duas caras dumha mesma identidade.
Foi pioneira em muitas cousas e abriu caminhos e espaços que hoje nos parecem normais e consolidados. Foi aluna das primeiras promoçons de licenciadas em filologia galego-portuguesa pola Universidade de Santiago e umha das primeiras técnicas de normalizaçom lingüística da Galiza, nuns tempos em que ainda estava tudo por fazer. Sendo umha rapaza de mais de vinte anos frequentava a bancada de Rio Baixo a acompanhar as Xuventudes Celestes. Tinha alma de docente e talvez por isso a ninguém lhe estranhava mirá-la falando com os mais novinhos e novinhas sobre a importáncia de falar galego naquele Vigo já tam castelhanizado.
No seu gabinete do departamento de Língua do Concelho de Vigo a sua mente nom tinha acougo e pariu mil ideias para pular pola presença e vitalidade do galego na nossa cidade. Umha das suas teimas era comprometer o Celta nessa tarefa, ciente dum Celta mais galego iria redundar numha Galiza mais celtista. O que o Celta nom podia fazer era desfigurar-se e traiçoar a sua identidade. Celtista de berço, de longa tradiçom familiar, a Marta Souto nom houvo que lhe explicar nada disto porque desde muito novinha medrou nos valores da velha soberania celtista, aquela que proclama com firmeza e rotundidade que o piar fundamental da centenária identidade do Celtinha é a sua antiga e sólida conexom com a galeguidade, o que nos fai únicas e diferentes.
Marta Souto nom era refém de nenhum localismo paifoco, mas estava namorada da sua cidade e participava com orgulho das festas e celebraçons da identidade local. Como seareira seguiu o Celta por todos os campos da Europa e apoiou o desporto de base em múltiplas disciplinas e as equipas da nossa contorna. Tinha umha especial querência polas rapazas do celta de basket e polo Clube Balonmán Cangas. O Morraço era o seu segundo lar. Por todo o dito e por muitas cousas mais Marta foi umha celtista senlheira, dessas que passam à memória do celtismo.
Quando tocou assumir responsabilidades políticas e de gestom fijo-o com competência e com paixom, com rigorosidade e proximidade. Falou e acordo com todas, a um lado e ao outro, arriba e abaio. Para ela isto todo nom era difícil pois havia um poderoso motoro que a impulsionava, a crença firme na importáncia da cultura galega e do desporto como vetores de transformaçom, de coesom social e de igualdade na nossa sociedade. Lançou as seleçons galegas femininas em várias disciplinas quando o desporto feminino ainda topava com muros mais altos que os que hoje começam a fender-se.
Há apenas umhas semanas ainda puidemos escuitá-la no faladoiro feminino e celtista de Rádio Vigo. Estava contente. Semelhava feliz com a nova sintonizaçom do clube com a galeguidade e a reactivaçom do celtismo e, sobretodo, com a aposta definitiva pola canteira e a criaçom de As Celtas. Ela, que tanto sonhou com um Celta vinculado à terra, galego e inclusivo. Aquele era o seu último sonho, o seu sonho de sempre.