Antelo caminha baixo a chuva como um dia mais de Outono. Nom é umha estaçom da que goste especialmente. Sendo criança ele, lembra a cozinha da casa chea de fume por causa do vento de fora, e da avoa mal-humorada. Com a chegada do inverno, os avôs, ela e ele, sempre enfermavam. Quando nom era um, era a outra. E aí estava a sua mae, incansável, coidando dos dous.
Antelo às vezes imagina-se percorrendo o ocêano numha barca, como naquele filme que viu. Olhar o céu e sentir a soidade no meio da nada, fora de todas as contradiçons que acompanham a vida social. Volver conetar com os antergos através das estrelas.
Conversando no bar, há quem diz que o Outono trai de todo: que se castanhas, que se cogomelos, que se colheitas, que se vinho…. Ele, que abandonou a vida produtiva ligada à terra há muitos anos, e nom distingue setas boas de alucinógenas ou velenosas, só valora a posibilidade de caminhar polo resto dumha fraga com a sua cor castanha, verde e gris, e com algumha raiola de sol. É, como milheiros de galegues, umha pessoa que enche o refrigerador cos produtos que vem do supermercado, ou dalgum familiar com horta, e o seu apego está mais ligado ao espiritual. “Nom se pode ter todo”, pensa, e para poder manter o seu alugueiro no centro da vila e poder viver sem o gasto dum automóvel, tem quase obrigatoriamente que viver assi. Olha as hortas urbanas com ilusom, mas como um jogo para crianças. A aldeia onde ele se criou tinha a terra como o centro, e nom como um espaço terapêutico, pensa ele. Ou será que pensa de mais em outras cousas como a política ou outras questons mais ligadas ao ámbito urbano. Seja como for, é consciente da sua distáncia com o mundo sensível, e da mercantilizaçom à que está submetido entre trabalho e consumo. “Mas aqui nom se livra ninguém”-reflete.
Por vezes pensa em que gostaria de ter a força de vontade daquele vizinho seu da aldeia, solteiro ele, que botava as manhás e as tardes passando a gadanha pola leira, e que nunca saira apenas da paróquia, como muita gente ainda hoje. Mas logo pensa Antelo que de ter ficado cumha casa ali e ter vivido assi teria conhecido menos realidades, e teria sido mais estafado dumhas maneiras e outras. “Que contradiçons da vida!”- Pensa ele, e reflexiona sobre um rural castrado que noutra época tivo umha animada vida coa gente trabalhando, parolando, fazendo o amor, bailando, imaginando, sofrendo também e argalhando outras realidades entre as leiras de milho, das patacas, as branhas, as eiras…