Investigador posdoutoral na USC especializado em Economia Política, Pedro Rey Araújo é um dos membros do Espaço Clara Corbelhe envolvido numha nova ediçom da Jornada de Estudo, que se celebrará no 5 de outubro em Ponte Vedra. Com a legenda “Um novo Marx para a Galiza de hoje”, académicas, militantes e ativistas dedicarám um dia inteiro à reflexom multidisciplinar desde o Marxismo. Falamos com Pedro Rey dos objetivos e as expetativas postas nesta nova iniciativa de formaçom e diálogo.

Poderias explicar como nasceu no Espaço Clara Corbelhe a ideia de organizar umha jornada de estudo anual?

Enquadra-se na lógica do próprio projeto. Constituímos este espaço pensando que podíamos servir de nexo entre distintos ámbitos do conhecimento: o que se produz na academia, e o que generam os movimentos sociais. Este conhecimento ficava muitas vezes confinado em campos estancos, bem na instituiçom, bem em cada um dos espaços políticos que o elaboravam. Nós o que pretendemos é que estas ensinanças em comum se sintetizem, se socializem, e poidam ter utilidade política prática.

Vam já duas ediçons organizadas. Como valorades a acolhida?

A nossa expetativa era tratar um tema monograficamente para trabalhá-lo a fundo, de distintas óticas; quem o apresentam som pessoas com qualidade na matéria, e isto acompanhou-se nestes dous anos por umha assistência de público razoavelmente boa. Há satisfaçom.

Este ano o centro da sessom é o marxismo, e a sublegenda que o acompanha, “teorias, métodos, práxis”. Por quê esta escolha?

Caiuo Muro de Berlim e a tradiçom marxista foi caindo no esquecimento, quer na produçom inteletual, que nos movimentos. Até o ponto de que em boa parte da açom política a obra de Marx começou a estar ausente de maneira flagrante. Justificava-se esta ausência com aquela ideia generalizada de que o marxismo era um economicismo, ou bem que retratava um capitalismo que já nom é o nosso…e esta é umha verdade muito parcial. Certamente que existe um Marx assim, que foi o dominante no movimento obreiro e nomeadamente fomentado desde a URSS através dos partidos comunistas que lhe foram afins. Mas pensamos que Marx vai além disso, e com ele imos dialogar sobre assuntos menos considerados, tais como a reproduçom social, a ecologia ou o género, até o de agora desconsiderados pola tradiçom hegemónica.

Como pesquisador da USC, que espaço achas tem o marxismo na academia ocidental, e particularmente na tua área, a economia?

A realidade da USC, neste ámbito, é a de todas as ciências sociais ocidentais. Dominam paradigmas já nom apenas nom marxistas, mas plenamente antimarxistas. O marxismo foi encolhendo nos planos de estudo, e a pesquisa do marxismo nos planos de financiamento. O que ficam som margens ativas, e redes, com publicaçons de seu e pequenas estruturas, mas carecem de qualquer apoio oficial. Infelizmente, neste ponto a Galiza nom é umha exceçom na Europa, segue o modelo geral.

Do teu ponto de vista, que influência tivo o marxismo neste último médio século na esquerda nacional galega, e como evoluiu esta presença?

A influência foi muito grande, nomeadamente nos anos 60, quando veu de maos dadas com o pensamento anticolonial. Tratava-se dum pensamento relevante no ámbito internacional, e tratou-se de pensar o país nessas coordenadas. Ora, do meu ponto de vista, tratava-se dumha receçom mais nominal do que objetiva. Há leituras que hoje conhecemos e que daquela nom estavam disponhíveis, textos em alemao aos que nom se podia aceder nem em espanhol nem em galego; também contava que aquele era um contexto sem liberdades, sem acesso fácil a informaçom. E daí que na Galiza se acedesse a um Marx pobre e limitado, a explicaçom é essa. Logo, quando as condiçons políticas som mais abertas, produze-se um certo esquecimento da tradiçom marxista. Começam a ganhar espaço as teorias poscoloniais e decoloniais. Ditos movimentos foram “culpáveis”, ponhamo-lo entre aspas, da perda de peso do marxismo entre nós, mas por outra parte também é certo que o Marx vigorante na altura tinha essas eivas que se lhe recriminavam. Que acontece realmente? Que o problema de Marx nom era o problema deste autor, senom da receçom sesgada que se fijo dele.