Mais um ano, o movimento popular recorda a proclamaçom da nossa I República em 1931, desta volta de mao do Projeto Estreleira. A data, já estabelecida no calendário, nom seria tam conhecida e celebrada sem os esforços de pequenos coletivos locais, alguns já desaparecidos, que na forma de “Festa pola República” fortalecêrom a memória arredista com umha proposta de lazer e irmandade. Resgatamos para leitores e leitoras aquela meritória iniciativa nascida em Ordes.

Corria o ano 2010 quando as associaçons Lucerna de Cerceda, Foucelhas de Ordes e a Revoltaina da Laracha dérom o primeiro passo num panorama ermo no que diz respeito à nossa memória de luita. A aposta foi a posta em andamento dumha romaria popular que tinha como motivo central a divulgaçom de feitos enormemente desconhecidos polo próprio movimento galego, Carlos C. Varela, na altura membro da associaçom Foucelhas, dera com um exemplar de “El Pueblo Gallego” no que, num titular inequívoco, lia-se: “Num grandioso comício revolucionário, é proclamado o estado galego.”

Cartaz de 2014

O primeiro passo das e dos convocantes foi editar um caderninho hemerográfico que recolhia como a imprensa da época recolheu os feitos: umha espetacular greve ourensana e seabresa, contra a paralisaçom das obras do caminho de ferro, que aginha derivou, dinamizada por sindicalistas e militantes galegos chegados da emigraçom, em movimento independentista. O seu ponto álgido foi a proclamaçom da República no compostelano Paço de Rajói, diante dumha multitude afervoada. As motivaçons que levaram os convocantes a tal trabalho de recuperaçom aparecêrom recolhidas numha completa entrevista que o digital Praza Pública fazia aos seus promotores e promotoras.

Umha festa comarcal e nacional

A festa, que se celebrou ininterrumpidamente desde 2010 a 2015 na velha estaçom do caminho de ferro da Pontraga, recuperava umha instalaçom abandonada, e ligava precisamente com umha das reivindicaçons fortes de 1931, ferrocarris para a Galiza. O evento combinava jogos, poesia, música e jantar, e diferentes associaçons do país aproveitavam para vender o seu materia ou pôr em valor “projetos que fam parte desde a prática da construçom da soberania”. As entidades organizadoras recolhiam sempre os múltiplos contributos coletivos que faziam possível o ato: “de Guitiriz a Compostela, de Laracha a Numide, de Arteijo a Boimorto, a Festa da República nom seria possível sem todas essas formiguinhas que vides cada ano de todos os recunchos da geografia galega. E como sabemos que nom é fácil saltar aos Sam Pedros que se celebram por aí adiante nesse mesmo dia, acordou-nos agradecervo-lo dando a conhecer um pouquinho mais as maravilhosas iniciativas.”

Despedida e relevo

A festa tivo umha especial intensidade em 2014, ano em que o novo rei borbom subiu ao trono, o que motivara grandes mobilizaçons republicanas galegas e espanholas em muitos pontos da Galiza e do Estado. O evento celebrou-se em 2015 e desapareceu no 2016, coincidindo com o debalar de muitas das iniciativas soberanistas no nosso país. As pessoas interessadas em conhecer como era aquele evento podem fazê-lo entrando neste video-documentário que registou umha das suas ediçons.

Um dos postos de venda de material na romaria

As e os organizadores despediam-se deste jeito: “este ano nom haverá Festa da República galega na Pontragha. Celebrar os dias nos que Galiza foi independente e republicana segue sendo tam necessário como há um ano (ou mesmo um pouquinho mais), e as organizadoras seguimos sendo tam bem levadas como sempre (ou mesmo um pouquinho mais). Porque, daquela, este parom? Pequenos republicanos que venhem em caminho, pessoal magoado, e trabalhos vários fam-nos ter que botar o freio de mao nesta ediçom, para garantir que a Festa, quando se faga, vos deixe e nos deixe o mesmo bom sabor de boca que sempre. Mas… nom vos enganedes. Isto é só um alto no caminho. Um ponto e coma.”

Esse ponto e coma traduziu-se num relevo no movimento popular: em anos seguintes, grupos de pessoas sem filiaçom mantiveram a romaria em Chaiám, às beiras do Tambre, logo reorganizada pola mocidade nas fileiras da MPI; em 2021, o Projeto Estreleira colheu o relevo com um ato no cúmio do Pico Sacro. Nesta ocasiom, às portas dos atos descentralizados do vindouro sábado, Estreleira reconhecia em redes sociais a sua dívida com os precedentes locais da data.