Reproduzimos a segunda parte da conversa que a mocidade independentista mantivera no ano 2009 com Luz Fandiño no centro social A Fouce, logo editada pola Escola Popular Galega no livro “Palavras sem maiúsculas. Experiências militantes na Galiza. (1970-2005)”. Se na primeira parte do parladoiro Luz contava a sua experiência de politizaçom na emigraçom, neste trecho narra como foi a sua implicaçom nos movimentos na volta à Terra, em 1979.

Quando voltas, que encontras aqui?

Eu cheguei pensando que íamos fazer a revoluçom.

Chegavam-che notícias de aqui?

Sim, Paco Sébio mandava-me todos os meses umha revista que se chamava “Ceive”.

E vinhas de visita aqui ou de férias?

Vinha, mas vinha um mês e nom me chegava a nada. A primeira semana ainda ia respirando mas depois começava a contar quantos dias me ficavam para voltar para a França, era terrível. Já conhecera Roberto Vidal Bolanho, Anselmo Lamela que era pintor. Através de Roberto e de Laura conhecim muita gente…

Quando chegaste aqui como contactaste com eles?

Antes de vir para aqui eu já tivera contacto com algumha gente como Roberto e Laura. Mesmo aguardárom por mim para casar! Eu conhecera Casal na Argentina, num coro chamado “Breogám”. Ele depois de eu partir para a França foi para os EUA, mas mantivemos o contacto. Ele queria que eu fosse pra ali, mas eu nom ia nem morta nem viva!

Estando eu de férias veu Casal à Galiza e fomos a umha manifestaçom. Eu ali estava entusiasmada berrando como berrava, porque se ainda berro agora daquela já vos imaginaredes… chegamos à Praça do Obradoiro e depois de um discursinho mui breve começou-se a cantar o hino. Para Casal e para mim isso era intocável. Ali havia uns rapazes e foi onde conhecemos o Paco Sébio e onde ficamos maravilhados com ele. E ele connosco.

Quantos anos tinham esses rapazes?

Vinte aninhos

Podíades ser quase os pais…

Pois sim, eram novinhos. Juntamo-nos com eles no Azul, onde estavam informando sobre a revista “Ceibe”, que eu já conhecia por referências.

Lembro que queria saber se havia algum sindicato onde meter-se, e eu perguntava mas ninguém sabia responder-me. Um vizinho dixo-me: “sim, há um ali ao lado, com umha gente mui estranha”. Eu logo pensei que aí tinha que estar a minha gente… Esse dia estava fechado, mas voltei incasavelmente a ver quando abriam até que um dia ali perto ouvim umha voz: “Luz!” E era Paco. Abraçámo-nos como pai e filho, com essa confiança que nos tínhamos. Loguinho entrei na ANPG e fum vendo como todo o mundo tinha cartom menos eu. Entom dixem ao Paco: “Paquinho serei suspeita de algumha cousa? Nom me dam o cartom… .” Ele, surpreendido, dixo: “como que nom che dam o cartom?!” e ao outro dia já o tinha. Daí a pouco entrei na UPG.

Ficaste desiludida quando chegaste? Pensaras que ias encontrar umha revoluçom?

Sim e nom. Surpreendia-me a gente que tinha memória das calamidades que tínhamos passado fosse a mais renegada…

E a juventude?

A juventude nom tanto porque rápido vimos que Franco deixara mui bem amanhado todo; aí estám os “bobones”, que som ilegais…

Mesmo em Paris havia emigrantes que se manifestavam com “Alianza Popular”! Eu e Casal tínhamos muitas desputas com essa gente, que diziam que éramos terroristas. Liam a revista “El Mundo Obrero” e diziam-me que a levasse, mas eu respondia que tinha outras cousas que ler. No ano 80 a manifestaçom do 25 de julho fijo-me crer que o galeguismo ia arrasar, mas dali a pouco expulsárom-me da UPG.

Podes-nos contar algo disso?

Podo; queriam que assinássemos um documento que ainda nom tínhamos lido sobre o 23-F; e eu neguei-me, como se negou muita gente.

Que ambiente havia nas organizaçons durante o 23-F? Alguém sugeriu a greve geral?

A gente começou a escapar para Portugal. Na rua havia gente a berrar, as lojas a fecharem… Começarom a recolher umha exposiçom de quadros e perguntárom-me se nom tinha medo. Eu dixem que nom: “isto nom é um golpe de estado, o golpe será a longo prazo. Eu nom creio neste golpe de estado”. Fum ao local do partido, que estava fechado, e as ruas estavam destertas. Todo o mundo assumiu que era um golpe de estado real e ninguém saiu para a rua, nom houvo análise. Calar, nom ver nem sentir.

Entom expulsam-te por esse motivo?

A célula da UPG queria que assinássemos esse documento, e eu, como já dixem, neguei-me. A mulher do Parracho -penso que assim se chamava- dixo-me que nom tinha nem ideia do que estava a falar, e eu dixem-lhe “é lógico que eu nom tenha nem ideia, mas tu por muitos estudos que tenhas nom me vas avassalar”. Ela, entom, anunciou que ia pedir a minha expulsom na próxima reuniom. Nessa reuniom estava Paco Rodrigues e Bautista Álvares. A reuniom demorou até as 5 da manhá (eu tinha que trabalhar às 7h30), e a expulsom foi às 6h.

Como viveste aquilo?

Mal, mui mal.

Afetou na tua vida?

Sim, porque eu nom tinha família. Essa luita, esses companheiros e companheiras eram a minha família. Era o meu modo de rebelar-me e conseguir algo.

Entom perdeste vida social?

Muita, e nom fum a única, tristemente.

Foi quando expulsárom os concelheiros em Compostela?

Foi.

E tu, sem a política, onde te refugias, que te dedicas a fazer?

Pois primeiro tivem vontade de deixar todo.

Ficaste na casa?

Nom

Ias polos mesmos locais?

Polos mesmos locais nom ia porque (risos) imagina como me receberiam! a paus!lógico que nom fosse… Também perdim o trabalho que tinha de limpadora na Cámara Municipal por culpa dos “sujolistos” (os “socialistas”) quando estava Esteves. Comecei a escrever muito.

Que fijo a gente que foi expulsa?

Houvo de todo, houvo quem se passou para os socialistas, gente que ficou isolada totalmente e outros que andávamos a vê-las vir.

Como continuas nesse momento a vida?

Nesse momento Paco falou-me da FPG e entreguei-me de novo totalmente…