Isidro Davinha Conde é corunhês do 1985, apaixonado pola meteorologia, e divulgador climatológico em galego nas redes sociais, onde analisa pontualmente os eventos de mares, céus e temperaturas com o perfil @Idavinha. Junto com um número crescente de novos e novas afeiçoadas à meteorologia que aproveitam todo o potencial das tecnologias para conhecer e divulgar, Davinha dá algumhas chaves para conhecermos um factor tam fundamental para a vida de qualquer sociedade, incluída obviamente a galega. Com ele falamos do presente climático e dum futuro de prováveis tensons e turbulências.
Como chega umha pessoa coma ti a esta paixom pola meteorologia?
Chego muito novo e sem eu saber bem a razom; nom som um profissional do sector (de facto som administrativo e formei-me academicamente como Técnico de Turismo). O caso é que tivem curiosidade desde cativo, e neste sentido podo contar umha anedota: aprendim os números mirando as temperaturas no jornal, e assim diferenciei de mui novo umhas cifras de outras. Considero-me umha pessoa com interesses mixtos entre as ciências e as letras, e tenho muito gosto por disciplinas como a Geografia, que som um ponto de encontro entre ambos mundos.
O clima é um fenómeno global, e porém tem umha evidente dimensom local ou nacional, ao conformar geografias e identidades. No teu caso, que combinas esta paixom com a identidade galega e a militáncia no nacionalismo, porque escala te decidiche?
Comecei no ámbito local e daí avancei até o europeu, e logo o mundial. É um processo nom contraditório, porque a medida que conheces o conjunto, conheces o próprio. Por exemplo, quando olhas para a Galiza, é inevitável contrastar com outros territórios.
Suponho que a eclossom das novas tecnologias deu novas possibilidades a esta dedicaçom, certo?
Sem dúvida, e por isso há pessoas, nom vou dizer muitas, mas um número significativo, que recorrem às novas ferramentas para, sem serem profissionais, conhecerem a fundo o tempo, situar-se nas suas coordenadas, tentar fazer perspectivas. Levemos em conta que hoje há webs que che permitem monitorizar o tempo de qualquer ponto do planeta apenas com umha conexom da rede; na primeira década do 2000, já nom digamos antes, isto era mui complexo, era informaçom privilegiada. Isto democratizou-se.
Passamos dumha etapa histórica onde a preocupaçom polo tempo era própria da gente do campo e do mar, que mesmo tinha bons saberes específicos sobre ele, a umha certa socializaçom deste conhecimento. Pensas que isto se deve à preocupaçom pola mudança climática?
Pode ser um elemento que conte, mas eu penso que o fundamental é a combinaçom de meios de comunicaçom e novas tecnologias. Hoje o tempo está mui presente nos meios, nos jornais, nas televisons, e isso provoca com que a gente fale mais disso, nom necessariamente da mudança climática. Recordo por exemplo quando chegou a televisom de satélite à Europa, chegaram canais temáticos como Canal Meteo, logo o Youtube permitiu canais divulgativos de todo tipo, desde os chamados ‘caça tormentas’ a pessoas que explicam a produçom agrária em relaçom com a meteorologia.
O da climatologia é um processo nacional e universal, e estas duas dimensons nom som contraditórias, porque a medida que conheces o conjunto, conheces o próprio. Por exemplo, quando olhas para a Galiza, é inevitável contrastar com outros territórios.
No caso galego, a nossa identidade nacional reforçou-se em boa parte com a força dum tópico climático que nos associa com um recanto verde e sempre chuvioso. Que há de certo nesta imagem, com os dados na mao, e com a nova realidade do quecimento global?
Temos muito que matizar disto. Primeiramente, e mudança climática à margem, o clima galego se por algo destaca é pola sua irregularidade: em qualquer época do ano podes atopar sem pautas mui estritas dias frios ou dias calorosos, sem terem que corresponder-se exactamente com inverno ou com verao. Isto deve-se à nossa peculiar situaçom geográfica, ao sermos o suroeste da Europa e o noroeste da Península Ibérica. Logo, é certo o tópico de sermos chuviosos, em termos da Galiza global (logo podemos precisar por comarcas), a nossa terra está em índices totais de precipitaçons à altura de certas zonas da Islándia e das Ilhas Británicas, por exemplo, por darmos um dado, temos mais chuva que Londres; olho que nom falamos de dias de chuva, falamos de cantidade acumulada. Que acontece? Que este é um tópico elaborado desde o centro político, de Espanha, e claro, como a nossa pluviosidade contrasta tanto com a das terras que nos rodeam na Península, pois isso remarcou-se.
Mas eu gosto de matizar por territórios: temos comarcas muito mais secas, quase mediterráneas, Ourense, o nosso surleste; e se em temperaturas vemos que os efeitos oceánicos suavizam muito as altas temperaturas, há áreas como o Minho-Sil, o sul da província de Lugo, a desembocadura do Minho, que podem ter temperaturas extremas.
Por riba de todo, somos um país climatologicamente mui diverso: a Marinha é tremendamente distinto de Ourense, Lugo nom é a Corunha, meteorologicamente, e nem Corunha é como Santiago. Eu sempre digo que num dia de verao pode haver umha diferença de 15º entre Viveiro e as Rias Baixas, por exemplo. É difícil dar com contrastes tam fortes em espaços geográficos tam reduzidos. Isto daria para umha tese.
Sobre a mudança climática, é um tema tam complexo que eu som prudente: há, é evidente, um patrom de elevaçom de temperaturas globais, mas como se vai plasmar em cada zona do planeta? Ao que parece, vai apontoar esta ideia que comentava antes de irregularidade: podemos ter temporadas acentuadas de chuvas intensas e temporais, e secas mais longas e intensas, com as que nom estamos familizarizados.
Logo duns anos de secas prolongadas e, mui recentemente, dum outono e inverno de chuvas persistentes, é habitual ouvirmos: “isto antes nom acontecia”, ou “nos velhos tempos chovia de outro jeito”. Que há de real na observaçom popular?
O trem de borrascas do que vimos de sair nom é nada raro entre nós. Certo que nom se dava todos os anos, mas era um fenómeno frequente com certa periodicidade; a inícios do século, por exemplo, em Compostela tenhem-se registado sequências de praticamente 80 dias seguidos quase sem dias solheiros; o patrom genérico de chuvas nom mudou, as nossas borrascas sempre venhem do oeste, som de carácter tropical ou polar. O problema com a memória climática é que é mui curto-pracista, e que está mui marcada com o que lemos. Fai um exercício: pergunta a várias pessoas como foi o passado verao. Verás que quase nom coincidem duas opinions. Todos subjectivizamos enormemente. Sobre o calor, pois é inegável, o patrom é de suba das temperaturas médias, e as nossas zonas historicamente mais quentes, pois estám a sofrer isto, num contexto geral, o galego, que parece estar a livrar das manifestaçons mais duras do cámbio, até o momento. Dito isto, claro que temos que ser cientes do problema. Há já regulado, pola vez primeira, um decreto de altas temperaturas que proibem trabalhar ao ar livre, por exemplo, e isso é um logro. Som contextos climáticos que se podem dar, que se estám a dar já em zonas do país como Ourense, e que afectam a gente trabalhadora.
Somos um país climatologicamente mui diverso: a Marinha é tremendamente distinto de Ourense, Lugo nom é a Corunha, meteorologicamente, e nem Corunha é como Santiago. Num dia de verao pode haver umha diferença de 15º entre Viveiro e as Rias Baixas, por exemplo. É difícil dar com contrastes tam fortes em espaços geográficos tam reduzidos.
Ante a mudança climática, parece que as posiçons se resumem, se simplificarmos, em duas: umha indiferença generalizada, que parte da noçom de que o tema é demasiado vasto e fundo para ser abordada, e umha posiçom catastrofista, que mesmo sinala perigo para a sobrevivência da espécie. A partir desta polaridade, onde te situarias?
Nom gosto de situar-me em nenhum dos extremos, e chamo a ter em conta os interesses políticos que medeiam; pois se fosse apenas um tema científico, de cifras, a realidade seria mais doada. Mas nom é assim. No miolo desta mudança, que é inegável, aparece o capitalismo verde, disposto a tirar lucro da nova situaçom. Pode haver um certo catastrofismo promovido por este sector, e que se pode ligar com umha doutrina do shock que pretende comover, que pretende alarmar, para logo as decisons tomadas serem aceites sem réplica. Entom, eu sem acentuar este catastrofismo, o que chamo é a olhar o problema em toda a sua dimensom, e ir preparando o país, a base de conscienciaçom social, de muita pedagogia: os efeitos vam estar aí, e cumpre luitar para paliá-los. Por exemplo, neste país, ainda que pareça extrano, pode faltar a água, nom é inesgotável. Cumpre preparar-se para novos cenários.
Poderias detalhar alguns deles?
Como dizia, nom se podem fazer prediçons locais com grande fiabilidade. Mas claro, há cousas que sabemos. Somos um país costeiro, o quecimento global vai causar desgelo, e boa parte da populaçom da costa pode ter problemas para manter o hábitat. Vam aumentar as secas, e isso fará mais virulento o nosso problema crónico com os incêndios florestais. Em geral, imos assistir a mais fenómenos extremos, como grandes temporais, nom é mesmo descartável que cheguem furacáns, ou o que eu chamo pseudofuracáns às nossas costas. Temos umha mui boa rede de estaçons meteorológicas na Galiza, e ultimamente essa é umha tendência que medem, a de refachos de vento cada vez mais fortes e cada vez mais frequentes.
Quais seriam as prioridades políticas neste campo para os movimentos e as organizaçons transformadoras nas instituiçons?
É um tema tam amplo que desborda, sobretodo porque é global. Cumpriria umha vontade política global, cumpririam protocolos para todos os países, que se vulneram seguido…possibilidades de acçom há, mas existe vontade? Recordemos que na pandemia, quando o mundo parou, em certo modo, notamos já vários efeitos de ralentizaçom do nosso dano ao meio, e mediu-se em certos parámetros. Claro, foi algo tam breve que nom tivo mais efeito. Entom, falta coordenaçom global, falta vontade, e logo ainda há quem tenha essa ideia de que “a mim nom me vai resultar problemático, porque o meu país nom é dos mais atingidos.” Neste sentido global, além da pedagogia e da conscienciaçom que comentava, nom podo dizer muito mais.
Entom, eu sem acentuar este catastrofismo, o que chamo é a olhar o problema do quecimento global em toda a sua dimensom, e ir preparando o país, a base de conscienciaçom social, de muita pedagogia: os efeitos vam estar aí, e cumpre luitar para paliá-los. Por exemplo, neste país, ainda que pareça extrano, pode faltar a água
Pensas que o nacionalismo e o independentismo estám abondo sensibilizados, e que actuam decididamente, num tema como este, ou há certa passividade?
A posiçom das suas organizaçons, no seio da sociedade galega, eu acho que é ponteira, que vai mui por diante, em companhia obviamente do ambientalismo, com organizaçons nacionais como ADEGA, mas mesmo também de organizaçons internacionais como Greenpeace. Ora, que acontece? Que o nível de conscienciaçom da sociedade galega com a mudança climática em geral é baixo. Em parte isto deve-se a um certo egoísmo, se queremos chamá-lo assi: por agora nom nos atinge tanto, as temperaturas por enquanto toleram-se. Entom, cada sociedade reage dum modo. Por que na Catalunha há tal conscienciaçom agora mesmo? Primeiro, por sofrerem o fenómeno com maior dureza; e segundo, por nom estarem afeitos e afeitas ao sofrerem, e assi, num prazo curto de tempo, terem que afrontar umha seca tam severa. Mas olho, fala-se de Catalunha, mas há outras zonas do Estado com umha situaçom bem pior, zonas sobrepovoadas e turistizadas que vivem isto de outro modo, porque há como certa familiaridade. Falo de zonas de Almería, de Murcia, do sul do País Valenciano. Estamos a falar de áreas, para vos fazerdes umha ideia, nas que se calhar choveu oito ou dez dias de outono a abril, e que recolhem em todo o ano o 10% das chuvas que se recolhem nas Rias Baixas. Som condiçons já subdesérticas. Umha certa assunçom do tema, quiçá certas técnicas para afrontá-lo (como a dessalinizaçom, a poupança de água) fam com que o shock seja menor, mas a realidade é dessa dureza.