No vindouro 16 de março, as entidades ferrolás Artábria e Bricarmos, com a colaboraçom do centro social Mádia leva, da Eira da Xoana e da Fundaçom de Estudos Ulhoáns, recordarám a esquecida batalha de Porto de Bois, e particularmente a figura de Fernando de Castro, o nobre galego que representou o último grande pulso do nosso reino medieval ao hegemonismo castelhano. Falamos com Marcos Abalde, um dos promotores do acto, para conhecer a dimensom deste feito histórico, e a importáncia de vindicá-lo para a nossa afirmaçom nacional.

Como xurdiu a ideia dumha jornada pola memória como esta?

O que nos levou a concretar a iniciativa foi umha reflexom encetada depois da leitura da obra de Francisco Rodríguez sobre o Reino da Galiza, nomeadamente do segundo tomo. Som praticamente mil páginas sobre a peripécia da dinastia dos Castro. Fiquei chocado do baleiro que existia sobre o nosso século XIV, que além de vir marcado por feitos político-militares, também supom o debalo da nossa lírica medieval. Ambos os feitos estám vinculados, claro, e Porto de Bois é o grande ponto de inflexom.

Nom semelha um feito nada conhecido, nem sequer nos entornos galeguistas e independentistas…

Nom o é, com efeito, o que supom um baleiro enorme na noçom que temos da nossa história. Por contraste, podemos dar um exemplo. Coincidiu-me a leitura do livro que citava com a visita a Portugal, onde visitei Aljubarrota, o campo de batalha do conhecido choque contra os exércitos castelhanos. Ali há um centro de investigaçom, houvo umha intervençom arqueológica que recuperou restos do enfrentamento e, como é sabido, os portugueses ergueram o mosteiro de Batalha, que precisamente comemora o triunfo português. Se hoje imos a Porto de Bois, o único que vemos som uns prados; nom há nem intervençom arqueológica, nem sinalizaçom histórica…o único que atopei foi umha pequena referência numha casa de turismo rural feita sem nenhum rigor histórico.

Para quem nom puido aceder ainda a este conhecimento. Podias sintetizar que supujo Porto de Bois para o Reino da Galiza?

As crónicas nom dam dados específicos, militares, sobre o enfrentamento. O que si sabemos é que supujo a derrota da nobreza galega petrista, ou castrista, após três anos de insurrecçom contra Henrique de Trastámara, o rival de Pedro I, alcumado ‘O Cruel’ polos seus adversários, e também ‘O Justiceiro’. A tradiçom nacionalista vinha reivindicando Pardo de Cela, sem reparar em que o verdadeiro ponto de inflexom, a derrota do Reino, dá-se em 1371, em Porto de Bois. Dá-se umha ocupaçom militar do território, começa a introduçom do castelhano nas classes dirigentes, que som substituídas. Com ódio e supremacismo castelhano, os vencedores começam um processo de substituiçom por alheios: do adiantado do Reino, do arcebispo. E este ponto de inflexom foi pouco compreendido.

Em que contexto histórico se dá esta batalha?

Como sabemos, batem-se polo trono de Castela Pedro I e o seu médio irmao. A rebeliom deste, que em termos gerais representava os interesses terratenentes castelhano-andaluzes, em aliança com a França, no quadro da Guerra dos Cem Anos, bate com um bando galego apoiado nas relaçons com Portugal e Inglaterra, isto é, no eixo atlántico ao que sempre aderiu a Galiza, e por isso a burguesia autóctone era petrista. Assassinado Pedro por Henrique, os concelhos galegos nom reconhecem o fraticida e proclamam Pedro Formoso, rei de Portugal, como rei da Galiza. Na crónica de Fernao Lopes vemos como entra em Tui e chega a Corunha, onde acunha moeda.

Castelo de Pambre. Imagem: wikipedia

Que dimensom tivo o petrismo na Galiza?

Muito grande. Apesar de que Fernando de Portugal recuou, Galiza segue sem reconhecer a Henrique por três anos, liderada por Fernando de Castro, um nobre com poder nas terras trastamaristas, em Lemos, em Sárria, e adiantado maior da Galiza. Quando a guerra remata em Castela, enviam à nossa terra a ao adiantado maior de Castela, Pedro Ruiz Sarmiento, com as chamadas ‘companhias brancas’, um exército de mercenários bretons e franceses. Som decisivos em Porto de Bois. Sabemos que os castelhanos e estes mercenários arrasam Castro Caldelas (cujo castelo constrói o pai de Fernando de Castro), que atacam Monforte…e sem termos a certeza, é mui provável que sigam o caminho francês, a auto-estrada da época, para passarem por Sárria e ter o enfrentamento final em Porto de Bois, na paróquia de Mato.

Que ideia sintética transmitirias destes feitos?

Trata-se do fim do esplendor galego. O fim dumha dinastia, a dos Borgonha, que se iniciara com Afonso Reimundes, nomeado em 1111 por Gelmires em Compostela, logo emperador Afonso VII, por umha nova, a dos Trastámara. O fim também dumha Galiza com poder e iniciativa, com relaçons internacionais de seu, que se exprimia em galego. É no século XIV quando nascem a diglossia e o auto-ódio.

Em que consiste o acto que convocades?

Trata-se dum acto para todos os públicos, aberto às famílias: em pequeno roteiro, deslocaremo-nos a um pequeno afluente do Pambre e ali falaremos sobre a batalha de Porto de Bois e o seu contexto. Com a colaboraçom de Francisco Pardo, do Instituto de Estudos Ulhoáns, conheceremos a figura de Gonçalo Ozores de Ulhoa, outro petrista, preso polos henriquenhos, ele também nobre galegofalante, que é o primeiro construtor do castelo de Pambre. Haverá lugar para o lazer, porque com a colaboraçom da Eira da Xoana organizamos um jantar e umha foliada para o serao.

Que possíveis novas iniciativas pensas se poderiam lançar para espalhar o significado de Porto de Bois?

Cumpre repetir mais actos como este, implicar a mais associaçons, e claro, seria bom ponher um cartaz no lugar dos feitos. Algum companheiro apontava a necessidade de darmos palestras nos centros sociais sobre a figura de Fernando de Castro, e eu concordo, obviamente, mas acho que o Reino da Galiza precisa de lugares físicos para ser reivindicado; Porto de Bois é um lugar de resistência, marca nem mais nem menos que o ponto álgido de três anos de insurrecçom galega.