Dani Palleiro nasce em 1985, na Corunha. Actualmente reside nessa cidade e é livreiro na Tobeira de Oça, especializada em livros de velho. Milita em Refuxios da Memoria e é pesquisador da história anarquista. Falamos com ele sobre a recente criaçom do Seminário de Estudos Libertários Galegos, que este passado fim de semana encetou a sua primeira jornada formativa e apresentou um novo e ambicioso projecto de educaçom política popular.

Como nasce o Seminário de Estudos Libertários Galegos?

Nós temos um colectivo chamado Refuxios da Memoria com o que trabalhamos a memória anarquista galega e a história do movimento libertário. Levamos anos a trabalhar mais a questom da memória e achamos interessante dar um passo à frente e começar a trabalhar também a questom das ideias libertárias, da tradiçom libertária, focando-a para o presente e para o futuro, sem ficar apenas em questons mais históricas, digamos do passado; senom dar um bocado de actualidade a estas ideias e averiguarmos que vigência tenhem, e como podemos aplicá-las ao presente.

Levamos já vários anos, com as companheiras de Ardora e outras anarquistas do país, também com a nossa editorial, que é Bastiana, pensando em fazer algum espaço para grupos de autoformaçom, com debate de ideias, clube de leitura por volta das ideias anarquistas… e xorde um pouco disto todo; o assunto ia-se adiando, e este ano decidimos pôr em andamento o formato do Seminário de Estudos Libertários Galegos, que entronca aliás com a Feira do Livro Anarquista que organizamos na Corunha desde há três anos. Cada ano dedicamos esta feira a um tema, no ano passado foi “anarquismo e ecologismo”, e este ano íamos dedicá-la a “anarquismo e organizaçom”, mas ao cabo decidimos geri-lo também através do Seminário, para que em troca dum acontecimento de fim de semana fosse um tema a tratar ao longo de todo o curso; assi, inclui diferentes encontros, e liberta a feira do livro, que já nom é temática, senom que será umha feira de livro ao uso, com colectivos que venhem apresentar os seus livros.

Quais som os objectivos deste Seminário?

Para além do que dixem antes, a intençom era gerar um espaço de encontro, entre anarquistas e também pessoas interessadas polas ideias libertárias, ainda que nunca leram um livro de história ou de teoria anarquista; porque do nosso ponto de vista, nom existe um espaço de socializaçom destas ideias; há na Galiza algumhas organizaçons, sobretodo sindicatos e colectivos de memória, mas dedicam-se a cousas muito concretas, como som a memória histórica ou conflitos laborais; polo que falta um espaço de encontro de individualidades e organizaçons para abordarmos temas mais genéricos. Ou podemos ainda dizer, para pensarmos a Galiza desde as ideias libertárias, nom apenas dimensons do país, como a dimensom laboral ou a histórica.

A intençom era gerar um espaço de encontro, entre anarquistas e também pessoas interessadas polas ideias libertárias, ainda que nunca leram um livro de história ou de teoria anarquista; porque do nosso ponto de vista, nom existe um espaço de socializaçom destas ideias

Quais som estas jornadas das que nos falavas, e quando se vam desenvolver?

Há quatro datas nas jornadas, cada seminário inclui quatro sessons, e logo umha iniciativa que denominamos grupos de auto-formaçom libertária. A primeira das quatro sessons do seminário é o sábado 24 de fevereiro, que chamamos “O socialismo libertário na Galiza”, e nela pretenderá-se estabelecer o quadro genérico. A ponente é a historiadora catalá Dolors Marín, que vai colocar as linhas básicas sobre a história anarquista: como chegaram estas ideias à Península Ibérica, e os conceitos básicos sobre o movimento. A continuaçom participa Eliseo Fernández arredor dos modelos organizativos do anarquismo na Galiza, como se originou, como penetrou no movimento obreiro galego, e que estruturas adoptou. À tarde tem lugar umha mesa redonda de três militantes libertárias que falarám em termos gerais dumha perspectiva do país da óptica deste ideário. A sessom encerrará-se com um concerto.

Logo, a segunda sessom decorrerá o 6 de abril, com o título “Organizando a resistência I: anarcosindicalismo”; haverá militantes e historiadoras a abordarem esta questom, e imos tentar ter a presença de todas as organizaçons anarcosindicalistas do país.

A terceira decorrerá no dia 18 de maio, intitulada “Organizando a resistência II: modelos e experiências organizativas do sindicalismo social libertário na Península Ibérica”, e contaremos sobretodo com militantes de colectivos libertários que trabalham no ámbito social: sindicatos de vivenda, plataformismo, anarquismo de bairro ou acçom social…

Para acabar, o 20 de julho terá lugar “Sementes de emancipaçom I: movimento libertário, auto-governo e território”, e irá reflectir sobre a história do país, sobre por que na Galiza as ideias libertárias fôrom bem recebidas, e sobre as experiências deste tipo que houvo no país. As quatro sessons som mais unidireccionais, porque vem gente a dar palestras e celebram-se mesas redondas; mas entre sessons, nesse período de arredor de dous meses, imos fazer na Corunha um grupo de autoformaçom libertária: veremo-nos nas quintas feiras para debater estas ideias, a ampliarmos o campo de debate com mais leituras e discussons. Gostaríamos este modelo se replicar em outros lugares do país, nalguns há certo interesse, assi que imos ver como se desenvolve.

Dia das Mapoulas Libertarias, na Corunha. Fotografia de Diego Veiga

Que temas de actualidade consideras importante serem abordados polo anarquismo?

Na última mesa da primeira das sessons tocamos blocos amplos de debate, muito transversais: um deles focava-se no ecologismo, no extractivismo e o quecimento global, detendo-se na possibilidade a Galiza ser um refúgio climático no futuro. Analisamos neste ponto como luitar contra o ecofascismo, e como vam atingir essas mudanças climáticas ao nosso país, desenhando que respostas se podem dar desde o anarquismo… Nom deixamos de parte questons de direitos básicos e serviços públicos, como podemos analisar desde o mundo libertário questons como a sanidade pública… complexizando, evitando cair nos tópicos dum anarquismo que se desentende disto todo.

Tampouco deixamos à margem o debate sobre o território: a Galiza rural e a Galiza urbana, se ambas as duas se contraponhem ou nom…como vemos este aspecto, e se a acçom libertária se deve fazer apenas desde as cidades ou tem umha lógica também rural. A mesa redonda também inclui questons económicas e laborais, como a do modelo económico, a da luita sindical…

Existem debates enormememente polémicos, caso da prostituiçom. Como achas que se poderiam afrontar para serem produtivos?

É um tema muito complexo sobre o que nom sei que dizer, desde que no mundo libertário há ideias muito encontradas, até mesmo incompatíveis. Pessoalmente, acho que ver os debates é sempre saudável. Até o de agora, havia posiçons absolutamente definidas e pouca capacidade de diálogo. Penso que cumpre dar tais debates desde a compreensom das posturas contrárias, porque som assuntos complexos e devêssemos ter a capacidade de tratá-los com mais acougo. Suponho que isto madurará com o tempo, quiçá agora está o debate muito polarizado e no futuro vai ser mais produtivo. De todos jeitos, isto corresponde às companheiras, aos homens o que nos corresponde aqui é escuitar.

Como vês a saúde do movimento anarquista galego na actualidade?

Penso que no país há muito interesse polas nosas ideias, vemo-lo por exemplo com motivo das actividades que organizamos em Refuxios da Memoria ou desde a Editorial Bastiana e a feira do livro anarquista. Vemos mesmo gente sem muita formaçom específica polo mundo libertário que se achega a estes eventos com simpatia e interesse. O que acontece é que nom som muitos os espaços onde socializar este conhecimento, e portanto muita gente reflecte individualmente, sem poder levar isso à acçom. O nosso objectivo é tratar de gerar esta rede e estes espaços, para eles multiplicarem-se polo país adiante. Por umha parte, observo que faltam esses espaços, quando som muitos e muitas as anarquistas na Galiza. Por outra detecto muitas organizaçons e sindicatos libertários no país, vejo que nos últimos anos há um rexurdimento das nossas ideias e estes movimentos. O que falta, provavelmente, som organizaçons sociais e políticas, que si existem em outros lugares do Estado e do mundo, mas entendo que provavelmente acabem por xurdir aqui também.

Detecto muitas organizaçons e sindicatos libertários no país, vejo que nos últimos anos há um rexurdimento das nossas ideias e estes movimentos. O que falta, provavelmente, som organizaçons sociais e políticas, que si existem em outros lugares do Estado e do mundo, mas entendo que provavelmente acabem por xurdir aqui também.