Como cada ano, a Fiscalia Geral do Estado espanhol fai público um informe em que, entre outros aspectos, repassa a dissidência política baixo o epígrafe de “terrorismo”. Numha definiçom crescentemente abrangente, a justiça espanhola passou de qualificar como tal o enfrentamento armado com um Regime a todo acto questionador do quadro legal ou do sistema, incluída a mera propaganda. Nesta ocasiom, no informe que analisa o ano 2022, e pola vez primeira, o sector mais activista do ecologismo passa a engrossar a lista do “terrorismo” no que se inclui também o independentismo galego.
Mais um ano, o que o poder espanhol define como “independentismo radical galego” figura na longa lista de inimigos internos do Estado, junto com o independentismo “radical” basco e catalám, o anarquismo, ou o que a fiscalia engloba como “GRAPO” (em alusom a núcleos comunistas e antifascistas). Agora, em 2023, com a crise climática evidenciando-se a olhos de toda a populaçom, a segurança do Estado amplia a sua espionagem e perseguiçom a um novo agente social e político: o que denomina “ecologismo radical”.
Jovem activismo climático, considerado “terrorista”
A popularizaçom de teses científicas avaladas pola ONU, produzidas polo painel internacional do IPPC, tem elevado o nível de alarma social sobre a crise climática na década que andamos, considerando-se seriamente a possibilidade de abrirem-se cenários climáticos incompatíveis com a vida humana. Como consequência, abrolhou internacionalmente o movimento Extinction Rebellion, que pom em valor na sua declaraçom de princípios “a acçom directa nom violenta”.
A dinámica de tal movimento, assim como o de outras ramificaçons do que a fiscalia chama “ecologismo radical” tem chegado ao sul da Europa, e as suas acçons intensificárom-se paralelamente às mostras mais evidentes do colapso climático, tais como mega-incêndios, longas secas ou anegamentos. Na linguagem militar própria dos serviços de inteligência, reproduzida pola fiscalia, dedica-se um epígrafe a analisar “o estado da ameaça”. O Estado espanhol reconhece que “os colectivos ecologistas incrementárom notavelmente a sua actividade, quer quantitativa, quer qualitativamente, passando das habituais acçons reivindicativas de “desobediência civil nom violenta” a realizar acçons de maior calado.” Neste apartado, o Estado alude a intervençons propagandísticas, normalmente através de lançamento de pintura ou bloqueios, contra infraestruturas dos mega-ricos, tais como iates, jets privados ou carros de lazer de alta cilindrada.
Como consequência do incremento das acçons, o informe recolhe que no passado ano se produziram 26 detençons em território do Estado espanhol, derivadas de curtes de vias de comunicaçom, concentraçons ou danos com pintura. O Estado reconhece também no informe que se detém as pessoas que comunicam através de redes sociais as acçons de protesto.
Cientistas no alvo
O movimento climático, agora no alvo da repressom, tem certas singularidades que o diferenciam dos que Espanha considera os seus “inimigos históricos”. É transnacional, nutre-se fundamentalmente de mocidade, e tem umha participaçom destacada de cientistas, que disponhem dumha estrutura própria, Scientist Rebellion. O informe fai referência assim à detençom de cinco cientistas de nacionalidade espanhola em outubro de 2022 na cidade de Múnich, ao realizarem protestos contra a indústria do automóvel, que os levárom a prisom preventiva, e os situa agora a portas dum juízo com petiçom de multas ou cadeia.
Nas suas perspectivas para o imediato futuro, a fiscalia antecipa a continuidade do activismo, reconhecendo que “é previsível” as acçons continuarem ou mesmo incrementarem-se, dado que “cada dia se incorporam mais jovens a estes grupos que defendem modelos de sociedade sostível”.