Eles pernoitam nos afters porque nom tenhem casa. Nom estám neles para drogar-se, ligar, curiosear ou bailar. Simplesmente, nom tenhem onde dormir.

Da gente que passou por algum decadente bar de altas horas e que nom é de pago, pouca se deu conta. Esses homens que estám sentados nos sofás, cos que nom te paraches a falar ou falaches de brincadeira, nom estám ai por jogar. Nom estám a beber nada porque nom tenhem nem querem. Observam o mundo desde outro prisma, um prisma com o que é difícil empatizar realmente.

No estado espanhol existem lugares de extrema violência e empobrecimento, e existem realidades sémi-ocultas para parte da populaçom. A dos cárceres é um bom exemplo.

Nestes momentos podem estar dous presos a enfrentar-se cum pincho por umha bolsa de tabaco. Nom é que enlouqueceram, que também, polo microssistema de merda onde estám. É que nom tenhem nada. Nada vem sendo nada. Nem roupa própria apenas. Nada vem a significar viver ao dia. Nom por gosto, porque alguns tenhem responsabilidades económicas familiares. Vem a significar que comem o rancho diário mas nom tenhem para chamadas telefónicas, nom tenhem para advogadas e nom tenhem para um café. Na rua som carne de canhom para as máfias ou estám metides na dinámica da supervivência, às vezes delinquencial. A situaçom agrava-se sendo mulheres, e pior ainda, mulheres trans. Nom som dous presos que pelejam quem estám nessa situaçom. Som milheiros.

Nom todas as migrantes pernoitam nos afters, nem todas estám em situaçons de extrema violência. A realidade de nom poder ter um contrato de aluguer, direito à segurança social, contrato de trabalho… é também umha realidade violenta muito mais comum do que pensamos. Quando um tipo progre opina sobre racismo ou sobre questons que atingem às migrantes esquece isso. Esquece isso porque nom o viveu de perto e nom convive ou conviveu. Trata de brincar com casar cumha “sem papeis”, e brinca e polemiza em tom racista (sim, racista) sobre dúzias de questons mais. Esquece isso porque na sua borbulha de ideologia estám cobertas certas questons como sanidade, teito ou trabalho, por melhoráveis que estas forem. Como na roda do hamster, a ideologia progre, que é a ideologia do Estado, separa teoria da prática e intelectualiza-o todo negando realidades e formas de viver afastadas do que se espera dum cívico e correto cidadao médio.