Por Jorge Paços /

Um jornal madrileno de grande tiragem intitulava há uns anos umha sua reportagem : “Ourense, o Congo espanhol”. O cabeçalho aludia explicitamente aos jazigos de coltám que acobilham as terras de Viana, no coraçom montanhoso da Galiza. O subconsciente do redactor, porém, semelhou traiçoá-lo, alumando com fidelidade a imagem espanhola sobre a nossa terra : um país afastado, pobre, disposto a acolher com os braços abertos qualquer oferta empresarial de gigantes económicos. O modelo mineiro vigente, com efeito, equipara-nos a latitudes mui arredadas nalgumhas fasquias.

Há duas décadas que as mais poderosas oligarquias do planeta se desputam as reservas de columbita e tantalita (que se fundem no coltám). Som os minerais que alimentam a revoluçom tecnológica ; e para levá-la adiante, as transnacionais nom duvidárom em promover guerras, saqueios e desfeitas ambientais no Congo. A face oculta da híper-conectividade -e da nossa suposta limpeza moral como consumidores livres- é umha indizível acumulaçom de sofrimento.

Produtivismo e expólio na Galiza.

Agora, esse ouro do século XXI foi descoberto na comarca galega de Viana. A Galiza somaria-se assim ao carro de países do centro da economia mundial que produz coltám (junto com a Austrália ou o Canadá). Ainda, a nossa peculiar inserçom periférica no capitalismo espanhol garante para nós umha listagem bem longa de prejuízos.

Conhecidos geólogos perguntam-se como se manterá a actual corrida tecnológica assim que o coltám se esgote ; enquanto tal cousa nom aconteça, o capitalismo lança-se a planos que desconhecem o logo prazo. É esta visom a que vai dominar na sua exploraçom na Galiza, onde corporaçons mineiras canadianas vam de braços dados com o PP. “Galiza é umha mina”, afirmava-se com pouco pudor numha das campanhas promocionais da administraçom autonómica.

Se tomarmos só como referência o território CAG, a Galiza é a séptima comunidade autómoma por extensom, mas a quarta em produçom mineira. Som mais de 520 as exploraçons em funcionamento, e boa parte delas acumulárom queixas e denúncias por atentados ao meio e à saúde pública. Sem darmos exemplos exaustivos, diremos que a pedreira que fornecia areia para a Cidade da Cultura (obra megalómana a cuja construçom se opujo o independentismo em solitário) fora clausurada por carecer de licença ; as louseiras de Valdeorras ou Quiroga tenhem devorado rios e deitado entulhos em Pena Trevinca e o Courel ; e só há uns dias vinha a tona o verquido de materiais tóxicos em balsas desbordantes em Touro.

Penouta de novo.

No interior da Galiza, de 1971 a 1986, em Penouta, milheiros de toneladas de estanho fôrom extrazidas pola empresa Holding de Bilbao e logo por Rumasa. O estanho alimentava a indústria armamentística, e os salários pagados pola empresa dérom umha miragem de prosperidade : os bares, construçons, escolas, negócios…esmorecêrom tam aginha como a empresa se retirou, no clássico modelo de capitalismo colonial, onde a produçom nom se vencelha a nenhum ciclo produtivo fechado na própria comarca. Desde aquela, Penouta seguiu o ciclo do êxodo de todas as bisbarras do interior. A empresa nunca restaurou a desfeita nos montes que causou em três lustros, como se comprometera a fazer. As balsas de Rumasa ainda descansam ao pé das montanhas, sem que se saiba dos seus efeitos para a saúde humana.

Novas falsas promessas.

Pacific Strategic Minerals, do Canadá, e sem vencelho económico nem social com a nossa terra, pretende repetir o engano. Começou por pagar 7000 euros anuais de aluguer de terras enquanto realizava as catas de terra ; agora prometem um cento de postos de trabalho e recuperaçom populacional.

Nenhum processo industrial de transformaçom estará sediado na Galiza : a empresa já reconheceu que as concentraçons de estanho e tántalo irám a fundidores da Alemanha e Canadá ; os feldespatos extrazidos de Viana irám à Europa e a Sudamérica.

Riqueza colectiva esbanjada.

A imprensa comercial, como sempre situada num papel apologético dos seus financiadores, preocupou-se com deixar na sombra os enormes valores -nom monetários- dessa comarca que assoma às terras orientais da Seabra. A Sociedade Galega de História Natural lembrou que a zona está num espaço protegido e pediu “prudência” aos exploradores ; no informe de impacto ambiental nom aparecia referência nenhuma a este feito.