Se bem a política institucional se converteu numha campanha eleitoral permanente, com os principais partidos centrados em como melhorar nos inquéritos e ganhar as seguintes eleiçons, esta noite iniciou-se oficialmente a campanha das municipais, que culminará com as votaçons do domingo 28.

Nesta ocasiom, a luita polo controlo dos governos locais fica centrada no nosso país, de maneira maioritária, nos partidos tradicionais: PP, BNG e PSOE. Deles, o Partido Popular é o único que consegue, mais umha vez, apresentar-se nos 313 concelhos da Galiza autonómica, confirmando que é a força política com maior penetraçom social e territorial, com votantes de todas as camadas sociais e tanto nas cidades como concelhos mais pequenos. Essa força do PP em vilas cabeceiras de comarca e nos concelhos mais pequenos, em contraste com as dificuldades para governar na Galiza urbana que os inquéritos parecem confirmar, é também umha das chaves do seu domínio nas eleiçons autonómicas e do seu controlo da Xunta, e ajuda a explicar o trato esquisito dado pola direçom galega do PP a Manuel Baltar, presidente da Deputaçom de Ourense, sem importar o ruído gerado polos seus constantes escándalos nem os seus pactos com a Democracia Ourensana de Pérez Jácome. Para o partido da direita espanhola estas eleiçons cobram grande importáncia, por tanto, nom só para manter o seu poder a nível local na maioria do concelhos, mas também para encarar com força as eleiçons gerais em que Feijó tentará atingir o governo espanhol e para tentar reter o governo autonómico o ano que vem.

O objetivo de governar a Xunta é, também, o que motiva o BNG a tentar melhorar os seus resultados eleitorais nas municipais. A frente soberanista precisa sair destas eleiçons apresentando umha imagem de força em ascenso e de verdadeira alternativa ao PP para tentar presidir a instituiçom autonómica por vez primeira na história, e esse apelo a “derrotar o PP na Xunta” tem tanto peso no discurso pré-eleitoral nacionalista como as próprias propostas e reivindicaçons para o ámbito local. De momento o BNG conseguiu incrementar o número de candidaturas apresentadas a respeito de anteriores eleiçons locais, atingindo as 265. Para que o objetivo de governar a Xunta seja visto como algo possível, o BNG nom só deve manter os governos municipais que agora detenta, senom também somar outros novos e, sobretodo, conseguir avançar de jeito notável no ámbito urbano, verdadeiro calcanhar de Aquiles do nacionalismo nos últimos anos.

Para a sucursal galega do PSOE as municipais sempre fôrom as eleiçons mais importantes. O partido é habitualmente visto como um conglomerado de agrupaçons locais sem nengum projeto galego, determinado polo peso de alcaldes localistas como Abel Caballero em Vigo ou Francisco Vázquez na Corunha. Com efeito, o poder local do PSOE é destacável, governando desde 2019 as cidades de Compostela, Lugo, Vigo e a Corunha e presidindo também as Deputaçons de Ponte Vedra, da Corunha e de Lugo. E esse poder municipal e provincial é o que aspira a consolidar, com o apoio do BNG onde for preciso, pensando mais em ajudar a manter Pedro Sánchez no governo do Estado do que numhas autonómicas para as que nem sequer tem candidato/a ainda.

Outros atores políticos do 28-M

Para além das três forças principais da política institucional galega, estas municipais também contam com a participaçom doutros atores cujos resultados podem ser mais ou menos relevantes à hora de conformar governos ou de cara a futuros processos eleitorais, entre outras questons.

Assim, estas eleiçons locais som também um teste para um espaço em crise e recomposiçom como o das confluências da esquerda reformista espanhola, que na Galiza, como é sabido, contárom com a participaçom de Anova e atingírom um notável êxito nas municipais de 2015 através de candidaturas como Compostela Aberta, Maré Atlántica ou Ferrol em Comum, que lográrom as alcaldias de Compostela, a Corunha e Ferrol. Só oito anos depois, o que fica da autodenominada “nova política” e do municipalismo “rupturista” parece ter umhas perspetivas bastante mais humildes. Este espaço político apresenta-se mais dividido e sem o impulso de um Podemos que antes ilusionava e agora vive um claro devalo político, após ter canalizado a maré de protesto e rebeldia geradas pola crise de 2008 cara as pedras da frustraçom institucional no seio do regime monárquico espanhol.

Umha outra questom a comprovar nestas eleiçons é o resultado da extrema-direita de Vox na Galiza. Se bem até o momento nom atingiu grandes resultados no nosso país, é destacável o facto de ter passado de 13 a 39 candidaturas a respeito das anteriores municipais, 40 se somamos a de Cangas Unido, encabeçada polo ex-coordenador de Vox no Morraço. Fora da Galiza administrativa, também há candidaturas de Vox em Návia, em terras eu-naviegas, na Ponte e Benuça (Cabreira), e em Ponferrada, Vila Franca e outros 5 concelhos do Berzo. Apesar desse crescimento, o número de candidaturas da extrema-direita explícita na Galiza é menor que a média de Vox no conjunto do Estado, o que quiçá é umha prova indireta da fortaleça do PP galego e da sua capacidade para manter integrados diferentes setores ideológicos.

Finalmente, e voltando à comarca do Berzo, cumpre atendermos também à candidatura da Coligaçom polo Berzo, formaçom a iniciativa da qual o BNG apresentava em 2021 umha proposiçom nom de lei no Parlamento galego que defendia o direito da regiom berciana a se reintegrar na Galiza, se assim o decidir a sua populaçom. A força política bercianista apresenta listas em 30 dos 38 concelhos da comarca.

Sem candidaturas do independentismo

Com o independentismo a olhar mais cara dentro do que cara fora após anos de crises organizativas e de resistir a repressom espanhola, desta volta nom haverá candidaturas surgidas do movimento.

Se recapitulamos sucintamente a história do independentismo nas últimas décadas, dentro da luita eleitoral e institucional, o ámbito mais local foi o que ativou maiores esforços, apesar da discontinuidade e de uns resultados polo geral cativos. Assim, temos exemplos como o das eleiçons de 1979, quando a agrupaçom eleitoral Galicia Ceibe, impulsionada polo Partido Galego do Proletariado, atinge uns destacáveis 1.926 votos em Vigo, enquanto outros militantes conseguem ser concelheiros participando noutras candidaturas nacionalistas como independentes (assim sucedeu em Monforte, Vila Boa, Melide ou Compostela).

Em 1991, com um independentismo dividido e com a luita armada do EGPGC ainda ativa, a FPG alcança também uns bons resultados em dous dos concelhos em que se apresenta: Cangas (4 concelheiros e 16% dos votos, por cima do BNG) e Carnota (2 concelheiros). Nessas mesmas eleiçons a Assembleia do Povo Unido (APU) apresenta candidaturas em Compostela, Vigo e Ferrol, se bem com uns resultados testemunhais nas três cidades.

Mais recentemente, enquanto a FPG se converte em pioneira das candidaturas de confluência com a esquerda reformista espanhola na Alternativa Canguesa de Esquerdas (2007), outros setores do independentismo ensaiam candidaturas que, se bem nom se apresentam como abertamente arredistas, sim procuram abrir um espaço para o independentismo no ámbito local, como pode ser o caso da Candidatura do Povo em Compostela (2011) ou de Vigo de Esquerda (2007), Ponte Areias de Esquerda (2007 e 2011) e Porrinho de Esquerda e Salvaterra de Esquerda (2011), estas últimas da mao de Nós-Unidade Popular. Projetos que, porém, nom conseguírom consolidar-se e continuar.

Haverá que esperar a outra ocasiom para comprovarmos se o movimento independentista retoma os intentos de abrir o seu espaço político e social mediante o municipalismo e a luita institucional a nível local ou se opta por centrar os esforços noutras frentes da luita política.