A minha avoa tinha umha má hóstia que te cagas, e seguramente com razom. Podo lembrá-la e idealizá-la como mulher ruda e dura, labrega, de aldeia, estirpe de fortaleça, bastom na mao, sempre no seu sítio. Até umha idade mais longeva dos 80 anos agachava-se para colher patacas na leira ou para atender a vaca ou os porcos.
O meu avó era carpinteiro. Fora disso, acho nom podo idealizá-lo com nada mais. Sei que devia saber de shiatsu, pois com a mao fazia fregas na calva e também bailava com os dedos sobre o mármore para relaxar-se e dar tranquilidade. Até umha idade mais longeva dos 80 anos arranjava as ferramentas de lavrança, e também com essa idade caminhava vários quilómetros para ir botar partidas de dominó à taberna.
Todo o malo que tinham estas avoas vai ficar nas hipóteses e no recordo, e nom nestas letras. Todo o bom, tem que ver com umha madeira, um aquele, umha forma de perceber a morte e o sofrimento. Tem que ver cumha força e saúde física com diferença abismal maior que a que se adoita ter nos nossos dias com essas idades. Força de raiz de carvalho, inteireza, força do convívio com a Terra e atençom aos ciclos estacionais. Sensibilidade e fussom ante a natureza, cautela e cepticismo ante a modernidade tecnológica. E todo o bom que tinham tem também que ver com a sobriedade com a que afrontavam as dificuldades e as situaçons de urgência.
Penso que tal vez recolher o bom de quanto bebemos/vivemos é a fórmula para medrar e progredir. Si, queria falar destas avós, mas também dalgumhas herdanças que podam fazer fortes umha comunidade.