Rebeca Martins e Ugio Caamanho som militantes de longo percurso no independentismo e em vários movimentos populares do País. Graças a um trabalho intenso de vários meses, venhem de desenhar, para as Escolas Semente e o Projeto Estreleira, o jogo online ‘Logaliza’. Umha original iniciativa que pretende combinar o divertimento com o conhecimento da nossa esquecida geografia. Falamos com ambos para afondar numha iniciativa que, apresentada no Culturgal, soma já milhares jogadoras.

Como se vos ocorreu a ideia deste jogo?

UGIO: A ideia é devedora do WorldLe, um jogo mui popular que consiste em identificar países do mundo. Rebeca aficionara-se a ele e ensinou-no-lo a várias amizades. Os dous gostamos muito da geografia do mundo, de facto seguimos a jogar todos os dias. Mas do que nos demos conta é de que conhecemos muito melhor a geografia exótica que a galega. Podíamos situar facilmente países como Laos, Burkina Fasso ou Surinam, mas nom sabíamos nada do Savinhao ou de Póvoa de Trives. Que sentido tem isso? Está claro que nos faltava muito auto-conhecimento como país, e nom só a nós dous.

REBECA: Ao princípio jogava eu sozinha. Erras, acertas… e amanhá é outro dia. O que me decatei é que quando jogas com mais gente cria-se umha tensom distinta e daquela já nom é apenas curiosidade, começas a estudar! Ademais, nom só é que posiciones no globo onde está esse território, tés a possibilidade de clicar na ligaçom da Wikipédia e aprender mais cousas. Demo-nos conta que era umha oportunidade para o autoconhecimento nacional que havia que aproveitar. 

Qual é a sua principal utilidade?

UGIO: Eu diria que tem duas virtudes. A primeira, que se aprende muito. Jogar é a maneira mais eficaz de aprender cousas, e em poucas semanas de jogo diário qualquer pessoa terá um domínio mui completo da geografia comarcal galega. A segunda, que graças a estes “passeios” polo país, engrandece-se o amor por ele e a autoestima como povo. Que imensa, variada e formosa e a nossa terra!

REBECA: Dizia o Piaget que nada mais sério pode fazer umha criança que jogar, eu extenderia também ao mundo adulto. Jogar, ponher-te a prova, melhorar… é um jeito de seguir construindo-te como pessoa. Umha das cousas que me chocou, é que o tema da geografia interesava-lhe mais a homens que a mulheres. Atopei um sesgo de gênero que nom aguardava. Seguramente vém polos temas desportivos com os que a maioria dos nenos som socializados, nom o sei, mas gostaria de animar às mulheres que se lancem a jogar ao LoGaliza.

Que dificuldades topastes no processo de elaboraçom? Que contributos técnicos e intelectuais precisou?

UGIO: A maior dificuldade técnica foi encontrar um programador que convertesse em código as nossas ideias tolas. Buscamos e rebuscamos entre as amizades, organizaçons, conhecidos distantes… até que umha amiga nos apresentou ao Iván, providencial, que pujo a peça que faltava ao projecto. Além disso, quase nada do mérito do LoGaliza é nosso: o programador do WorldLe, um francês chamado Teuteuf, disponibilizou o código com licença livre, o qual é umha mostra de generosidade maravilhosa e estamos muito obrigadas por isso; o mapa comarcal foi criado coletivamente no seio da organizaçom independentista NÓS-UP, alá polo 2003; e os brasons comarcais som obra de Estreleira, especialmente de Heitor Picallo e Helena Penas. 

REBECA: Mas, víamos que com 51 comarcas logo havíamos começar a repetir… assim que o Ugio pensou que podiamos meter mais pistas que a silueta: um dado geográfico, um cultural, umha luita…(a cabeça nom para! iremos surprendendo com mais pistas) e aqui começárom as complicaçons e o trabalho de documentaçom. Nom havia intençom de complicar-se: umha foto e umha ligaçom que falasse do que apareceria na foto. Mas a rede está muito carente de conteúdos em galego, nem sequer aspirávamos que mantivesse umha normativa concreta, seria impossível! Mesmo assim, nalgumha houvo que passar o tradutor por riba, porque nom conseguíamos nem umha só entrada que falasse sobre o tema na nossa língua… Além do linguístico também está o tema de género. Do que nom se fala nom existe. É fundamental sacar à luz a história das mulheres bravas que deu a nossa terra e que nem sequer nos nossos ambiêntes, que muito gostam de dizer-se feministas, temos presentes. Isto foi umha complicaçom engadida, se há poucas entradas na nossa língua, atopar artigos que pugeram em valor ou simplesmente nomearam mulheres nos feitos históricos, em muitos casos resultou umha quimera.

Em que medida pensades que a iniciativa de brasons comarcais republicanos ajuda a interessar-se pola geografia nacional?

UGIO: Conhecemos mui pouco de geografia galega, em geral, muito menos que da espanhola ou da mundial. Mas a nossa ignoráncia é ainda superior em relaçom às comarcas, porque tendemos a interiorizar as entidades institucionais como se forem as únicas reais, e para o Estado espanhol, as comarcas galegas simplesmente nom existem. Por isso fai falta um esforço suplementar para dar entidade simbólica a esta realidade. Nesse sentido, os brasons comarcais som umha ferramenta mui poderosa.

REBECA: É muito interessante a condensaçom de informaçom que existe num brasom. Também é abrir umha porta ao conhecimento dumha simbologia que para muitas era-nos alheia.

Nom pensades que a insistência independentista polas terras orientais pode chocar, ou mesmo dissuadir parte da populaçom menos politizada?

UGIO: Pode ser, mas as comarcas acho que ajudam a focar o problema: que o Estado espanhol nom reconheça algo nom significa que nom exista. É óbvio que existe a comarca de Bergantinhos, por exemplo, igual que é óbvio que a gente da Cabreira é culturalmente galega. Reconhecer isso nom deveria ser problemático para ninguém: o Estado nom cria a realidade mediante decretos, os povos som anteriores a ele. 

REBECA: Pessoalmente reconheço que sempre me produziu um pouco de conflito (ou seja que nom é só nas pessoas nom politizadas!). Umha sensaçom de repetir práticas imperialistas, como querer reivindicar como galego um espaço  que o povo dessa zona nom quigesse… mas, depois de ir vendo artigos e acontecimentos históricos… como ao longo da história houvo  movimentos  esixindo integrar-se em território galego… creio que  temos bastante desconhecimento do vigor cultural e incluso linguístico (com toda a dificuldade que temos em algumhas zonas da Galiza autonómica a este respeito) que existe nesta faixa. E do relevantes que fôrom estas comarcas na nossa história, as comarcas do Berzo e da Seabra, por exemplo. 

Como valorades a acolhida nestes poucos dias de publicitaçom da iniciativa?

REBECA: Eu som tam fam do WordLe que estava segura que o LoGaliza tinha que gostar! Ademais, temos algo que nom têm o jogo original: umha comunidade socializadora. O que me está a surpreender é a acolhida em gente nom politizada. Que nom pensei chegaramos a ela já no segundo dia…

UGIO: Está sendo todo um sucesso! Eu tinha certas dúvidas porque  nunca sabes se umha ideia vai funcionar ou nom, mas de momento está a ter umha acolhida mui boa. Mais ainda pensando que nom figemos publicidade nengumha, só o apresentamos no CulturGal perante um grupinho pequeno de pessoas.

Que possibilidades tenhem as e os interessados em Logaliza para jogarem e competirem?

UGIO: Pode-se jogar de forma competitiva ou individual, isso é cousa de cada um. Nós dous gostamos de competir, e picamo-nos um ao outro com as estatísticas do jogo: que percentagem de acertos levamos, qual é a racha mais longa de acertos, etc. Isso dá muita vida ao jogo, até o ponto de incentivar o estudo.

REBECA: A diferença do WorldLe, grande parte da comunidade do LoGaliza conhece-se, isso é um incentivo para competir desde logo, mas simplesmente jogar sem partilhar resultados é entretido e pedagógico.

Pensastes nalgum possível uso educativo?

UGIO: Eu diria que qualquer uso do jogo é educativo, e nom se me ocorre melhor maneira de aprender geografia galega que jogar diariamente ao LoGaliza. Se te referes a um uso escolar, eu nom o vejo, já bastante conexom à internet há nas escolas. Ora bem, justo este curso que a Xunta suprimiu a matéria de Geografia e História da Galiza do Bacharelato, é mui satisfatório fornecer de ferramentas para que a rapazada poda seguir conhecendo o país. Pode que algumhas professoras queiram promocioná-lo entre o alunado precisamente agora, nom é? 

REBECA: Estou com o Ugio, nom atopo jeito de jogar ao Logaliza sem aprender algo, estou segura que vai haver dados dos que nom tinhamos conhecimento. Respeito ao uso escolar… penso que na secundária pode ser interessante, animaria ao professorado a que o empregara. O formato fai que todo o mundo poida participar: há umha listagem polo que nom tés que conhecer as comarcas previamente, se che apetece clicas em saber mais e senom nom o fas, polo que nom estás “raiando” com dados nos que nom tinham interesse, mas também é possível que queiram saber o porquê de algumha das fotos e voluntariamente acudam à explicaçom; e sobretudo, é um jogo simples, muitos dos jogos -ainda por riba de ser pouquíssimos- que há no país som muito difíceis. Mesmo para as adultas. Ninguém gosta de sentir-se umha ignorante total! O LoGaliza é progressivo, vás vendo a melhora dia a dia. Isto fortalece o amor de seu, pessoal e pola terra.