Hoje, as ruas do nosso País, como as de boa parte do mundo, serám cenário das reivindicaçons feministas do 25 de Novembro. Desde 1999, a data é comemorada como ‘Dia Internacional contra a Violência contra as Mulheres’. A ONU decidiu estabelecer tal dia em recordo das irmás Mirabal, revolucionárias à ditadura dominicana de Trujillo, cujo assassinato desatou umha vaga de conscienciaçom sem precedentes. Eis a sua história.
Patria, Minerva e Teresa Mirabal eram três irmás mui novas (entre os 25 e os 34 anos), com umha implicaçom muito funda na luita antiditatorial na República Dominicana. Rafael Leónidas Trujillo levava já três décadas no poder o dia que elas foram assassinadas, e assentou o seu domínio numha prática sanguinária, inicialmente apoiada polos Estados Unidos, que o converteu num dos primeiros exemplos de autoritarismo anti-comunista, dos que posteriormente se iam extender por todo o Continente. As três irmás compaginavam a militáncia com a criança de cinco filhos; a mais velha, Patria, nom tinha o nível de implicaçom das outras duas, mas secundava-as em labores logísticos, como a armazenagem de armas.
Irmás Mirabal: as origens
As irmás Mirabal procediam dum meio rural abastado, e o seu pai, Enrique Mirabal, era um capitalista exitoso. Recebêrom educaçom privada e religiosa num colégio espanhol, e sobressaírom como alunas. Polas suas posiçons políticas, a família perdeu toda a sua fortuna quando Trujillo ascendeu ao poder. Esse feito foi marcante, e fijo evoluir as irmás para posiçons defensoras dos direitos e liberdades, e simpatizantes com teses insurreccionais.
Agrupaçom Política 14 de Junho
A ditadura trujillista, umha das mais temperás na América Latina, lançou-se decididamente à aboliçom das liberdades civis, o culto à personalidade, e a acumulaçom de riqueza no ditador e no seu contorno político-empresarial; funcionou como um autêntico processo desorganizador, muito violento, de todo o tecido soberanista e esquerdista na época. Inaugurou também a triste prática das ‘desapariçons’, execuçons extra-judiciais em que o cadáver dos opositores nom aparecia; ou, como no caso das irmás Mirabal, camuflava-se como acidente.
A Agrupaçom Política 14 de Junho foi umha das respostas populares ao trujillismo; o seu nome comemora a expediçom insurgente que, em 1959, procurou sem sucesso o derrocamento do ditador; as irmás Mirabal, que já levavam mais de dez anos de compromisso às suas costas, envolvem-se na Agrupaçom, e duas delas som encarceradas junto com os seus companheiros. Após serem julgadas ‘por atentar contra a segurança do Estado’, fôrom condenadas a três anos de prisom.
O assassinato
Numha decisom argalhada pola inteligência dominicana, o Estado decide libertá-las da cadeia muito antes de cumprirem as suas condenas; para além dum lavado de cara do regime, pretendia-se submetê-las a um estreito seguimento em liberdade, averiguar os seus contactos e, chegado o momento eliminá-las, como assim aconteceu.
Poucas semanas depois da sua liberdade, as suas reunions políticas eram vigiladas, e dada a situaçom de fraqueza do regime, o ditador e os seus assessores securitários apostam no assassinato, que executará o Serviço de Inteligência Militar. O 25 de novembro de 1960, um esquadrom da morte segue o carro em que viajavam as irmás após irem de visita à cadeia, enquanto outro intercepta a estrada. Conduzidas a umha vivenda, som enforcadas, e posteriormente, metidas de novo no carro, que se guindou por um barranco para fingir um acidente de tránsito.
As consequências
Se bem a ditadura achava que desartelhara um solvente núcleo rebelde, as consequências fôrom imprevistas. A maioria da populaçom entendeu o acontecido como um crime de Estado, e o feito de que as assassinadas foram mulheres que vinham de visitar companheiros em prisom, acendeu ainda mais o mal-estar. O medre da oposiçom socialista e comunista na República Dominicana chega a preocupar os Estados Unidos, que revendo de maneira calculada os seus passos iniciais, colaboram com a execuçom de Trujillo, levada a cabo por um comando com armamento norteamericano em 1961.
O assassinato das irmás Mirabal tivo tal alcanço que o Estado dominicano viu-se na obriga de sentar no banco dos acusados os seus assassinos, condenando-os a penas de entre vinte e trinta anos (se bem estas nom se cumprírom por umha fuga amparada por militares trujillistas).
A memória
Hoje, a província de Salcedo, da que eram naturais as militantes, é chamada oficialmente ‘Hermanas Mirabal’. O seu lugar natal converteu-se num museu no seu honor, e dispom aliás de umha biblioteca, umha livraria e umha loja de recordos.
Desde inícios da década de 80, o feminismo latinoamericano toma a data do 25 de Novembro como referência: em 1981, realizou-se o primeiro Encontro Feminista de Latino América e as Caraibas em Bogotá. Há que aguardar ao século XXI para que o alcanço da data se faga mundial, e para que na Galiza, um feminismo com peso crescente convirta o dia numha cita obrigada para o movimento popular.