Alberte é um elo da cadeia. Ele sabe levar as contas. As suas contas. Também os de arriba o sabem. Situam-no. Situam-se: nom é o mesmo vender no ambiente pijo que vender no ambiente reivindicativo; nom é o mesmo porque ao final todo som grandes e pequenas decisons políticas marcadas desde arriba: deixar passar isto ou aquilo, introduzir isto ou aquilo, sacar informaçom de X ou Y, manipular tal ou qual entorno.

Alberte flutua, simplesmente, como as culturas musicais ou estéticas. Está lá onde o chamam, mas está também onde tem que estar. Retroalimenta-se e regozija-se na cultura do espectáculo, mas também, por extensom, na da violaçom; Alberte sabe das bulhas, dos sensabores das noites de dous dias, dos segredos dalguns “revolucionários” indiscretos, mete mao onde pode –metafórica e literalmente– mas à vez fala como um paisano. Porque, no fundo, Alberte nom é mais que um paisano, ainda que quando maneja crê-se um Oubinha ou um destes com dez ou cinco chalés. Ele nom tem muito mais que um piso onde leva a quem pode levar e às vezes, ou muitas vezes, graças à sua condiçom de vendedor de coca.

A Alberte conhecem-no em toda a cidade, e leva anos assim. Nunca é detido e nunca o será, provavelmente, porque cairám outros, ou cairá quando interesse. Alberto falará, ou nom, o que já sabem, porque as cartas venhem já marcadas, e como dizia o narco aquele “neste mundo nom há amigos”. Alberte é amigo das nossas festas todas e vai igual ao lado do punki, do rapeiro, do cultureta ou mesmo da feminista. Porque a ele suda-lha, no fundo e no princípio, porque o que precisa é dinheiro nos petos, e vai em sintonia com a música de moda a sua filosofia impotente (tem também algumha Viagra para vender). Muitos meios-dias almoça vendo porno, e muitas madrugadas tem “sexo” por gramos. Também gosta dos coches, tem algumha camisola do Escárnio e Maldizer, e luvas de peom. Porque Alberte também foi peom de obra, a diferença de todos esses estudantes que o chamam cada quinta-feira. Interessam-lhe as histórias de cárcere, e de seguimentos policiais, porque é a sua adrenalina, e também consome e se consome numha longa história de aculturaçom capitalista.