Antelo (o seu nome era outro, mas por respeito a ele e à família imos ponher este) era o borracho oficial do povo.

Claramente, nom era o único borracho. Mas polas suas características –solteiro, excéntrico, antisocial, dançarino– sim era o único que merecia, a olhos do resto, esse nome.

Dim que em todas as aldeias há, ou havia, algum/ha. Ignoramos se a estas alturas da modernidade na que se diluem certos roles e tal vez atopemos aldeias nas que todos os membros som hominhos assim; pois o progresso capitalista colonial transformou na nossa Terra o rural num espaço social amorfo, castrado e fantasmagórico.

Ao conto: o que sempre chamou mais a atençom do Antelo era quando se celebravam as romarias da paróquia ou paróquias lindeiras. Ali estava ele, dando-o todo, sentindo-se umha superestrela, acarinhando o ar com os seus movimentos oníricos. E a questom é que, dentro dele, como teria acontecido a qualquer que colhera algumha vez umha boa bebedeira, seguramente assim fosse. Mas a realidade era ruim: ele, a sua solidom, e o seu ademám de bailar numha companhia coletiva que nom era tal, mas ao contrário, a vergonha dumha coletividade que, durante as festas, o aborrecia e mesmo o usava de bode expiatório. 

O movimento popular galego e qualquer movimento dentro dele que pretenda subverter a ordem das cousas, corre o risco de atuar assim: olhando-se o umbigo numha ebriedade que o impede avançar. Se tomarmos distáncia, veremos que para o poder nom implica mais que um punhado de moscas movendo-se arredor da merda, sendo a merda o poder.

O rol da espetadora, seja no virtual, nos espaços e eventos públicos ou onde for, é difícil de romper. Também o é nom cair na crítica fácil do auto-ódio. 

Antelo era o nosso Antelo, até que um autocarro o atropelou. Mas era um trabalhador da terra que ninguém nunca criticou nesse ámbito, e ninguém ousou meter-se com ele, nom se tem notícia de ter este faltado ao honor a ninguém, ao menos no espaço público, sendo respeitado na sua labor labrega.

Se é que somos como Antelo, e sem deixar de bailar –que nunca é malo bailar– si é bom cuidar-se olhando-se desde umha certa perspectiva e, como dizia o outro, sermos focos de luz e nom lámpadas a médio fundir.