O carro nom funciona e devemos estacioná-lo na gasolineira. Chamamos à asseguradora e enviam umha grua. Pouco comum, mas é umha mulher quem conduze. A viagem, quase um monólogo dela porque os anos à estrada passam fatura. E as palavras dela vam acompanhando-nos a cada quilómetro:
-Eu gostava de ir a um regato que há perto da minha vila. Para chegar, há que atravessar caminhando umha cheia de lugares de difícil aceso. É um lugar inóspito… Logo, coa pandemia encheu-se de gente. Agora… nem umha alma! Melhor!
Assim podo ler livros e livros. Eu soa, ai, no rio… A ver, que também se pode ler em companhia, como se leva a fazer desde sempre nas bibliotecas.
Mira, quando era mais nova, e na minha aldeia ainda havia vacas… Eu era ainda umha cria! As minhas avós debulhavam as espigas de milho ou faziam os labores que forem, cos capachos aos pés, e eu, com leituras de todo tipo. De política, o que atopara!
E páginas a passar, e o milho a cair, e umha tranquilidade que hoje nom a há, e pequenas conversas, aos poucos, do que estava proibido que se falasse.
E “pareses umha ministra!”, diziam-me as avós!
Esta sociedade precisa pessoas que se acompanhem umhas a outras procurando o bom viver dentro do mal viver. Tal vez precisemos de redes de formas infinitas para criar umha outra realidade, e esta nunca se deixe de criar fora da obediência, com os seus passos atrás e os seus passos adiante. Saberes de distinto tipo a comunicar-se nesse aparente eterno cubo de rubik impossível de resolver que é a vida.