Erguemo-nos nestes dias com várias notícias diferentes mas interrelacionadas: temperaturas de arredor de 40º em parte do território galego, avisos da política oficial dum outono tumultuoso, confirmaçom de que a térmica das Pontes -um dos maiores focos poluintes da Europa- volta a abrir, desconsiderando toda a alegada preocupaçom verde. Para tentarmos compor as peças deste puzle, que nos fala dumha crise sistémica, traduzimos para o galego um breve e brilhante texto.

1. Fecha os olhos e imagina que queres tomar umha maçá dumha árvore.

2. Imaginache-te subindo a tua mao e pegando na maça da pola mais baixa da maceira? Ou imaginache-te a gavear pola árvore, ou termando dumha escada para alcançar a maçá que está mais alta. Imaginache-te umha maçá sá e lustrosa ou peteirada polos paxaros?

3. As pessoas movemo-nos pola lei do mínimo esforço energético. Acontece quando entre várias alternativas, e em ausência de outros factores, tomamos sempre o caminho que implica um menor esforço, ou um menor gasto energético.

4. A produçom e extracçom de recursos naturais funcionam do mesmo jeito. Em ausência de outros factores, os recursos mais acessíveis e que requerem dum menor esforço (energético) som os que se extraem primeiro.

5. Conforme se esgotam os recursos mais acessíveis e de melhor qualidade, os mais doados de extrazer, vai-se a polos que requerem dum maior trabalho (mais investimento energético) ou som de pior qualidade.

6. Eis o que está a acontecer com a produçom petroleira. Os jazigos de cru dos filmes, aqueles dos que fazias um buraco no chao e começava a brotar petróleo cru, há muito tempo que se esgotárom.

7. Ao diminuir a produçom de petróleo convencional, as petroleiras tivérom que procurar petróleo nom convencional, muito mais difícil e custoso de obter, e nom tam versátil como o dos primeiros poços. Nom tam rendível energeticamente (e tampouco economicamente).

8. No exemplo da maceira, ao se acabarem as da parte de abaixo cumpre gastar mais energia e ir polas maçás de acima. E as que antes deixávamos porque quiçá estavam danadas agora parecem-nos gorentosas.

9. O ‘milagre tecnológico’ do fracking nom é apenas raspar o fundo do copo para obter un petróleo ligeiro que precisa muito mais trabalho (energia) e nom é tam versátil. A técnica conhece-se desde há décadas, mas apenas se utiliza desde que o petróleo bom devala.

10. O mesmo com outros ‘milagres’, como as areias bituminosas de Alberta, ou o petróleo extra pesado de Venezuela. Isso nom é petróleo, é sucedáneo do petróleo.

11. O mesmo com o carvom. Ao início extrazeu-se carvom de melhor qualidade e mais poder calorífico. O mais acessível. Nom é por acaso que a Inglaterra, a grande superpotência da revoluçom industrial, tivera as melhores minas de carvom a céu aberto.

12. Assim que se esgotárom as minas de carvom mais acessíveis, começou-se a extrazer o mais custoso e o de pior qualidade. Na Europa a maioria das minas de carvom já som ruinosas e tenhem que subvencionar-se por parte do estado.

13. O mesmo com o gas natural. Apenas aqueles países que nom podem aceder a gas natural por tuberia o tenhem que trazer em forma liquada, o que conleva grande custe energético, liquefacçom, transporte em barco metaneiro, perdas…só se fai porque nom resta mais opçom.

14. O mesmo com o Uránio. Vocês acham que se houvesse Uránio abondo para fornecer os sonhos nucleares de alguns iam desmantelar-se bombas nucleares ou iam-se trazer de países como Kazajistám?

15. Metais e terras raras. O MESMO: primeiro extrazem-se as minas com a melhor lei e mais acessíveis. Assim que estas se esgotam, a extracçom e o refinado viram mais custosos. É pura termodinámica. O metal está mais disperso, exige-se mais energia para obtê-lo.

16. Aliás gera mais refugalho. Conforme se esgotam as minas boas, cumpre gerar mais refugalhos e geri-los para obter a mesma cantidade de metal. Há pouco alguém dizia que nom é que a China tenha mais terras raras, senom que é a única que assume a poluiçom que geram.

17. Acontece o mesmo com qualquer recurso natural, também o renováveis: assim que se esgotam os aquíferos, ou os bancos de pesca, ou os melhores lugares para instalar renováveis, cumpre ir aos que restam, (…), que som os piores, ou estám mais longe, etc.

18. Disto falamos quando falamos de pico dum recurso (como o do petróleo). E isto é o que aconteceu. Ainda que por enquanto alguns nom o entendem, e dim que ‘o petróleo nom se esgotou’.

19. A presente crise energética é umha crise de esgotamento de recursos, mas nom por se acabarem, senom porque cada vez som mais caros, menos rendíveis, mais poluintes, de pior qualidade.

20. Acabárom-se as maçás boas e acessíveis. As que nos restam som as picadas, com verme, e nas copas das árvores mais arredadas e dispersas. E há umha negra trovoada no horizonte. É o PEAK EVERYTHING.

*Publicado como fio na conta de twitter @limites1972. Traduçom do Galiza Livre.