Entrevistamos duas pessoas fundamentais no percurso do Novas da Galiza nestes vinte anos: Aarom L. Rivas e Carlos Barros. Ex-diretor o segundo e diretor o membro desde 2010 do Conselho de Redaçom deste projeto comunicativo que se converteu numha referência para o reintegracionismo, a esquerda e o soberanismo no nosso país.

Como nasce este projeto jornalístico do Novas da Galiza?

Carlos: Tivem a sorte de viver essa época. O Novas concebeu-se ao longo do ano 2001. Juntamo-nos umha série de pessoas coa ideia de lançar um meio de comunicaçom que entendíamos que era necessário no abano informativo da sociedade galega. Unimo-nos pessoas representativas do jornalismo ativista, soberanista, do independentismo que se tentava reorganizar naquela altura. Era a época prévia ao que depois foi o Processo Espiral. Escolheu-se a José Manuel Aldea como o primeiro diretor, que provinha da Gralha, um dos referentes mais diretos para lançar o Novas. Umha iniciativa que despertava ilusom na militância quanto a comunicaçom e vertebraçom das iniciativas que iam saindo. Um referente sobretodo para o reintegracionismo. O Novas tencionava ser um periódico que herdasse esse caráter rupturista e reintegracionista da Gralha, mas concebido mais em sentido amplo, para toda a sociedade. Embora num sentido crítico de investigaçom e denúncia, nom só lingüístico como era A Gralha.

Nesse 2001 escolhe-se a fórmula da sociedade limitada como Minho Média porque se acha a mais ajeitada ao que poderia ser o Novas. Em Fevereiro-Março de 2002 sai o número um e essa vontade já se materializa em algo sólido e tangível. Começa umha aventura que continua até o dia de hoje.

Carlos Barros. Foto de Miguel Auria

Que variou daquele Novas ao de hoje?

Eram tempos em que a internet nom estava tam omnipresente nas nossas vidas. O Novas começou tendo um apartado de correiros. Havia que ir todas as semanas ali. Tanto optençom como a organizaçom da informaçom nom era tam acessível como é a dia de hoje. Sim que já utilizávamos a rede para a nossa comunicaçom, mas também empregávamos disquetes. Era um pouquinho mais difícil que o de agora. Nom era como quando ainda andavam com os tipos a montar as páginas nos oitenta. O nosso era já doado, mas menos doado do que é agora. Havia um Conselho de Redaçom, que é algo do que o Novas se pode orgulhar à hora de pensar em fazer um produto que responda a demanda que merece. As e os jornalistas estivérom presentes no Conselho e tivérom umha voz determinante nele. A medida que se avançou no tempo, melhorou-se até serem a grande maioria no Conselho. Num início, eu lembro que a chefa e Redaçom, Marta, era umha reputada pioneira do galego na rádio, que ainda que nom era estritamente jornalista sim que tinha essa mentalidade à hora de coordenar um produto editorial. Isso serviu para que pessoas que estavam na Faculdade de Jornalismo vissem no Novas um modo de se realizar no jornalismo que gostariam sem ataduras.

Em que etapas estruturaríades a história do Novas nestes vinte anos e que fitos salientaríades?

Carlos: O primeiro fito é já fazê-lo realidade. Meter dinheiro num periódico, num projeto a cegas, é já um fito de seu. Acho que a primeira etapa evidente é a da direçom de Aldea, os seis primeiros números. Nesse momento o Novas é bimensal e com conteúdos oscilantes. Podes colher o primeiro e o segundo número e nom tenhem nada a ver. Por isso no sexto se fai umha pausa de reflexom de quatro ou cinco meses. A partir dela, com Ramom Gonçales como diretor, começamos a cadência mensal que mantemos até o dia de hoje. Velaí outro fito. Aliás, aumentamos o número de páginas, passamos a 16 mensais, 32 cada dous meses. O próprio facto de tirar um periódico mês a mês provocou que estivéssemos mais atentos à realidade e ao dia a dia. Tivemos que construir umha agenda própria com os conteúdos que íamos abordar e planificar dum jeito sustentável no tempo umha linha de investigaçom. Penso que com os poucos recursos que tivemos conseguimos bastante e nalguns casos muito.

Tentávamos realizar umha forma de resistência jornalística. Nós sabíamos que havia muitos aspeitos que mudar no nosso país e que o Novas também tinha que contribuir como um agente de transformaçom social. Tocava-nos assinalar aqueles que estavam a ser hostis ao desenvolvimento do nosso país. O novas procurava sacar à luz aquilo que realizavam para se manter nesse status de poder. Sondamos como se articulava o poder empresarial e o poder político na Galiza nas suas diferentes formas de corrupçom. Demos descoberto dados que indicam que valeu a pena aquilo que figemos e assim se pode comprovar na hemeroteca. Isto foi o que nos permitiu atingir um certo prestígio dentro do nosso mundo e chegar a mais de 800 subscritores nalgum momento.

O projeto robusteceu-se deste jeito e permitiu que gente como o Aarom se aproximasse.

Aarom: Eu entrei em 2009 ou 2010, quando o Carlos era diretor. Fum dessa geraçom proveniente do estudantado de Jornalismo que via no Novas um referente. Tanto o movimento estudantil como o político permitia daquela esta comunicaçom. Aliás, nós figéramos um periódico também desde os CAF e a própria experiência no movimento acabou-nos trazendo aqui.

Carlos: Era o nosso sonho, que vinhessem novas camadas da faculdade.

Aarom: Entramos Joám e eu, depois o outro Carlos, Olga… Primeiro de letras. Depois chegou um momento em que todas e todos éramos jornalistas. Mais tarde produz-se a transiçom da época de Carlos para a nossa com umha reforma organizativa bastante drástica. Quiçá um dos fitos foi o do crowfounding para voltarmos após o parom. Aí crescemos com bastante força. Tivo muita visibilidade e isso ajudou a dar a conhecer o projeto. Fora umha decisom mui difícil a de parar e depois estivemos mais dum ano a refletir sempre com a ideia de voltar. Suponho que desde fora a sensaçom era que todo terminara mas a equipa durante esse ano e pico nunca parou de cavilar em como queríamos a maqueta nova. A reflexom leva o seu tempo. Realmente nunca chegou a parar.

Carlos: Quiça o fito do número 100 assinalou o momento em que o Novas gozava de maior fortaleça estrutural. Nele, quanto a conteúdos, pode-se ver qual é o espírito de cobertura e também se manifesta dalgumha maneira essa comunidade nacional que nos acompanha. Aquela foi umha época potente para o Novas e, como costuma acontecer, também vinha arrufada por um momento álgido para o movimento socio-político que o acompanhava, estávamos em 2011.

Aarom: Nós a nível organizativo provínhamos da cultura do movimento estudantil, mui libertária. À hora de articular o Conselho decidimos prescindir de direçom. Influiu que nom se olhava um liderado claro e que queríamos experimentar com a estrutura decissória. Nom resultou umha mudança enorme, mas sim que marcou umha das atualizaçons. Era já umha época em que todo estava na rede, no mundo virtual. Por isso procuramos situar o foco em conteúdos que oferecessem perspetiva e forçassem a sair do narcisismo das redes, de escuitar o que queres. Análises de situaçons complexas e vozes que nós cuidávamos legítimas dentro do movimento. Acho que foi assim um pouco como evoluiu desde essa etapa de investigaçom e denuncia a um outro em que parece que tens que estar a recompor peças de informaçom dum movimento esfarelado.

Nos últimos tempos fomos tendendo para esse papel. Sim, mantemos o jornalismo de denúncia, mas focamos os recursos que temos para sair das lógicas que se vem nas redes. Eu vejo a trajetória como umha unidade e que o Novas se foi adaptando aos tempos. Como um meio de comunicaçom do independentismo e dos movimentos. Ao cabo, às pessoas que o integramos cumpriu-nos a adaptaçom ao novo mundo da comunicaçom com umha estratégia mais apropriada.

Para mim a etapa de jornalismo de investigaçom que se realizou é brutal e é um orgulho participar num periódico que denunciou essas cousas. Mas a nossa geraçom viu a necessidade de fazer um trabalho mais de aglutinante. Para mim é um logro que todos os meses saia o Novas. Um periódico que segue a ser o mais outsider do outsider, em reintegrado, com as subscriçons que há e sem publicidade praticamente. Sim que é certo que ultimamente tivemos que reduzir páginas, mas já simplesmente a sua existência para mim é um fito.

Aarom L. Rivas. Foto de Miguel Auria

Carlos: Segue a estar em todos os quiosques do país. Temos compradoras na Fonsagrada ou em Vilarinho de Conso que podem aceder a ele porque tem a capacidade de chegar.

Após duas décadas, qual é o segredo da permanência? Nom é habitual nos coletivos sem dependência institucional.

Aarom: Pois dedicar-lhe muito tempo ao longo da semana.

Carlos: Sem esforço e persistência é impossível. Algumha gente tem-se que sacrificar contra uns condicionantes tam adversos como os que tem o Novas em frente. Ainda que essas energias que gastas também che dam recompensas mês a mês. Quando vas vendo que paga a pena o que fas, isso fornece-che a motivaçom necessária para o dia a dia. Tens fontes de recompensa imprescindíveis para manter-te. Para que um projeto perdure cumpre umha coluna vertebral que o sustenha de jeito resiliente. Contra o que vinher e mantendo-se em pé com certa dignidade.

Um fator que tanto no Novas de ontem como no de hoje nos ajudou a continuar foi que a equipa humana estava debrocada no projeto e no horizonte que esse projeto devia ter por cima dos interesses particulares. O amor polo projeto Novas, polo que lhe cumpria ser além do mundo político que o rodeiava foi o princípio que nos deu legitimidade cara ao exterior, cara a dentro e certa coesom de pessoas mui diversas. Estávamos cómodos porque tínhamos um interesse comum em que qualquer um podia achegar algo. Isso permitiu que essa equipa humana se mantivesse estável. Eu creio que, ainda havendo momentos de tensom, o Novas foi das casas melhor feitinhas, um dos espaços humanos mais saudáveis do panorama que olhamos arredor.

Aarom: Divisons há e houvo sempre, discrepâncias. Porém, acho que existiu sempre confiança avonda para discreparmos abertamente sem que isso miguasse a força do grupo para nada. Cumpria procurar a perspectiva correta para o projeto e sabíamos que muitas vezes nom ia ser a de nengumha das pessoas no concreto.

Carlos: O de conseguir que o que fagamos seja o resultado do conjunto um periódico pom-no-lo fácil. Mas nós tínhamos vontade de fazê-lo e isso notava-se. Vias essa macedónia fresca. Penso que isso era formoso e enriquecedor.

Que objetivos nom se atingírom ou estám pendentes de atingir?

Aarom: Acho que estamos numha nova etapa e muitas cousas que temos que conseguir. A dia de hoje o Conselho está algo fraco de gente. A nível organizativo temos bastante que melhorar. Preocuma-nos que ainda nom déssemos encontrado esse relevo que encontrastes vós nas faculdades e no movimento estudantil. Sim que está a entrar gente nova mesmo na parte de administraçom mas nom o estamos a alcançar. Sobretodo, porque temos essa exigência de perfis jornalíticos e custa muito um relevo que chegue com força. Esse constitui o gram repto.

Carlos: Eu creio que objetivos por conseguir som umha maior incidência social e um maior conhecimento da sociedade. Partíamos com essa ideia e por umha parte atingimo-lo, mas por outra nom. Era difícil pola própria escolha normativa e temática. Supom um desafio que continua aí.

A hegemonia dos mídia é mui abafante. Embora a rede nos fornece umha sensaçom de diversidade, de acesso à informaçom que quigermos. Se calhar agora mandam mais os meios ao serviço dos capitais de sempre, mas dumha maneira mais disimulada, menos visível. O nosso público, tal e como está modelado o esquema das redes, está mui assentado. Mas sairmos desse público resulta mui complexo. Esse repto continua e segue a constituir um repto complicado. Cumpre um peso importante para que a sociedade galega te tenha como referencialidade. Para enteder o que é o sistema comunicativo na Galiza: Nós Diário está a ganhar umha referencialidade mas nom todo o mundo o conhece. Daquela, se umha aposta com milhons de euros de orçamento nom é quem de o fazer, quanto mais o Novas. Contodo, cuido que é um objetivo que deveria ter o Novas e qualquer projeto comunicativo. Ao cabo é o que che vai dar capacidade de incidência.

Já a jeito de conclusom gostaria de fazer um chamado às leitoras e leitores do Galiza Livre. O que nos motivou a nós para lançar o Novas ou ao Galiza Livre a sair à luz é umha causa mais presente cada dia que passa. Cumpre deixarmos de chorar por como nos maltratam os mídia, criar os nossos próprios meios e profissionalizá-los. Isso constitui a melhor garantia de estarmos informadas e informados. Nós também podemos converter-nos em agentes comunicativos e fazê-lo bem. Aquelas pessoas que gostam da comunicaçom ou estudam jornalismo devem saber que também através da comunicaçom se podem mudar as cousas. Temo-lo que fazer nós mesmas.