Na passada semana contatárom comigo desde a Plataforma Via Galega para saber se contavam com o meu apoio para umha campanha que reclama a oficialidade das seleçons galegas. Encaminhárom-me a o manifesto “Galiza, um povo, umha seleçom” onde se reclama para Galiza o direito a poder conformar seleçons galegas em todos os desportos para competir a nível oficial e internacional. Também se reclama que as desportistas podam competir baixo a bandeira galega e exibi-la quando sobem ao pódio, além de galeguizar o desporto e impulsar a igualdade de género. Eu nom podia estar mais de acordo e, portanto, assinei o manifesto.
O manifesto foi apresentado oficialmente na terça feira por representantes da Plataforma que estavam acompanhados de desportistas e outras personalidades vinculadas ao desporto galego. O manifesto forma parte dumha campanha mais ampla a favor das seleçons galegas que será apresentada proximamente.
A minha experiência
A causa disto lembrei-me de quando era mais novo, recém cumpridos os dezoito anos, e ainda tinha interesse em competir a nível internacional. Eu som remeiro e agora compito em trainheiras, mas daquela praticava também a modalidade de remo olímpico, ou banco móvel, que é a que se pratica a nível internacional.
No início da pré-temporada daquele ano fui convocado pola Federaçom Espanhola para formar parte da equipa sub-23. Já nom era a primeira vez que isto acontecia, pois na temporada prévia já fora convocado para o equipo júnior em várias ocasions e já competira em competiçons internacionais. Assisti a esta nova concentraçom de umha semana de adestramentos e testes físicos. Ao rematar a semana, antes de marchar, notifiquei a um dos adestradores que nom me volvessem chamar, que nom seguiria remando porque começara os estudos universitários e nom disporia de muito tempo para adestrar. Era mentira, mas na altura pareceu-me umha boa escusa para nom ter que dar mais explicaçons.
O motivo tampouco era a disciplina ou a exigência física que requere formar parte dumha equipa destas características. Eu vinha de viver dous anos no Centro Galego de Tecnificaçom Desportiva (CGTD) de Ponte-Vedra compaginando as duas sessons diárias de treinos com os meus estudos de bacharelato. Certamente, eu estava mui a gosto vivendo naquele centro e gostava de adestrar e competir. O motivo era outro.
Era umha questom mais pessoal. Eu sentia-me molesto naquele equipo sub-23, o mesmo que me sucedera quando estava no equipo juvenil. Notava um fingimento constante estando naquele grupo. Ter que falar diferente, mesmo com os companheiros que estiveram comigo nos anos prévios em Ponte-Vedra. A língua, as conversas, os gostos, eram outros. E as realidades também. A mesma gente que estivera comigo em Ponte-Vedra era diferente quando estava no ‘equipo nacional’ e eu nom desfrutava estando lá metido. Era umha impostura. Só queria que rematassem as concentraçons, e despois daquela concentraçom decidi deixa-lo. Nunca mais volvi a competir na modalidade olímpica e centrei-me no remo a banco fixo e no meu clube.
Na altura atribui aquela sensaçom a um problema próprio, a umha questom pessoal: o problema estava em mim, que nom era quem de mudar a minha personalidade para adaptar-me ao grupo. Mas com o passo do tempo, e na medida em que fum formando-me politicamente, cai na conta que o problema era outro. A minha língua era outra, a minha idiossincrasia era outra, a minha cultura era outra, e para encaixar naquele grupo tinha que renunciar a elas. Nom se me proibia explicitamente que me manifestara como galego, mas na prática era o que acontecia. Aquele desconforto tinha a origem nesta amputaçom dos meus sinais de identidade. Como escrevia Marcos Abalde: “A Galiza tem direito à plena saúde física, mental e social. Os três aspectos estám intimamente ligados. (…) História e língua próprias reconstituem a comunidade, despregam a consciência, nutrem mais e melhores vínculos afetivos”.
O pessoal também é político. Por isso, detrás do meu mal-estar individual havia umha raiz politica. Além dos símbolos (de bandeiras, hinos, cores ou ídolos), eu também botei em falta um grupo com vontade de sermos nós próprias. Agora sei-no. E independentemente do sucesso que pudesse alcançar no plano desportivo, botei em falta umha seleçom galega que ajudasse a reforçar a minha (nossa) autoestima.