Neste Sábado de Formaçom propomos um texto de 1941 de Mao Zedong em que comenta erros de funcionamento do Partido Comunista Chinês mas aplicáveis a qualquer organizaçom contra-hegemónica. Neste texto fundamental, o revolucionário, no meio dumha luita de liberaçom nacional e social, identifica a pequena burguesia, a classe média colonial, como fonte principal dos comportamentos criticados pola sua abundância na organizaçom comunista e propom as medidas precisas para os corrigir.
O camarada Cai Fum acaba de enunciar o objetivo da reuniom de hoje. Eu gostaria agora de falar de como o subjetivismo e o sectarismo se servem do estilo de cliché do Partido como instrumento de propaganda ou modo de expressom. Se, ao combatermos o subjetivismo e o sectarismo, nom liquidamos também o estilo de cliché do Partido, estes encontrarám ainda refúgio e poderám portanto esconder-se. Mas se liquidamos igualmente o estilo de cliché do Partido, isso contará como xeque-mate final ao subjetivismo e sectarismo, o que deixará à plena luz a face real desses dous monstros, os quais, como os “ratos que atravessam umha rua sob os gritos de ‘mata! mata!’ ”, serám facilmente eliminados.
As cousas nom preocupariam muito se os que escrevessem no estilo de cliché do Partido o figessem apenas para si próprios. Mas mostrando os seus escritos a outros, o número de leitores já fica dobrado e o prejuízo causado deixa entom de ser pequeno. E se, além disso, tais escritos som afixados nas paredes ou policopiados, publicados em jornais ou editados em livro, o problema torna-se sério porque podem influenciar muita gente. Os que escrevem no estilo de cliché do Partido querem sempre ser lidos por muitos. Assim, torna-se absolutamente necessário denunciar e liquidar esse estilo de cliché.
O estilo de cliché do Partido é ademais umha variedade do “estilo de cliché estrangeiro”, contra o qual se ergueu Lu Sun há já muito(1). Por que razom pois o designamos por estilo de cliché do Partido? Porque, além do seu sabor estrangeiro, tem um certo cheiro de solo nativo. Talvez se queira também considerá-lo como umha espécie de criaçom! Quem poderá entom pretender que nenguma obra de criaçom se realizou entre nós? Aí está umha! (Gargalhadas.)
O estilo de cliché tem umha longa história no nosso Partido, chegando a constituir por vezes um problema muito grave, sobretudo no período da Revoluçom Agrária.
Encarado historicamente, o estilo de cliché do Partido é umha reacçom contra o Movimento de 4 de Maio.
Na época do Movimento de 4 de Maio, os homens ganhos às novas ideias combateram a língua escrita clássica e preconizaram o estilo da língua falada, combateram os velhos dogmas e preconizaram a ciência e a democracia. Tudo isso estava inteiramente correto. O movimento era, na época, dinâmico, progressista e revolucionário. As classes dominantes educavam os estudantes na doutrina de Confúcio, obrigavam o povo a crer no sistema confuciano como num dogma religioso e todos os escritos eram redigidos na língua clássica. Numha palavra, os escritos e o ensino das classes dominantes e seus acólitos eram na época, quer no conteúdo quer na forma, do gênero cliché e dogma. Eram os velhos clichés e velhos dogmas. Um dos maiores méritos do Movimento de 4 de Maio foi o ter mostrado ao povo todo o fedor dos velhos clichés e velhos dogmas, e tê-lo levado a combater tudo isso. Outro grande mérito, ligado ao precedente, foi a luita que o movimento travou contra o imperialismo, mas a luita contra os velhos clichés e os velhos dogmas permanece numha das suas grandes realizaçons. Mais tarde, porém, o estilo de cliché estrangeiro e os dogmas estrangeiros figérom a sua entrada em cena, e certos camaradas no nosso Partido, contrariamente ao Marxismo, desenvolveram-nos até convertê-los em subjetivismo, sectarismo, estilo de cliché do Partido. E assim temos os novos clichés e os novos dogmas. Estes enraizaram-se tom profundamente no espírito de tantos dentre os nossos camaradas que precisamos atualmente de despender grandes esforços no trabalho de transformaçom. Assim resulta que o movimento dinâmico, progressista e revolucionário do período do “4 de Maio”, dirigido contra os velhos clichés e dogmas feudais, foi transformado por alguns no seu contrário e deu lugar a clichés e dogmas novos. Estes últimos já nada tenhem de vivo, som mortos, nada tenhem de progressista, som retrógrados, nada tenhem de revolucionário, som um obstáculo à revoluçom. Isso significa que o estilo de cliché estrangeiro ou o estilo de cliché do Partido som umha reacçom contra a própria natureza do Movimento de 4 de Maio. Mas o Movimento de 4 de Maio apresentava também as suas debilidades. Muitos dos seus dirigentes nom possuíam ainda um espírito crítico marxista, os seus métodos eram geralmente burgueses, quer dizer, formalistas. Tinham muita razom em rebelar-se contra os velhos clichés e os velhos dogmas e preconizar a ciência e a democracia, mas ao tratarem as situaçons do seu tempo, a História e as realidades do estrangeiro, faltava-lhes o espírito crítico próprio do materialismo histórico e viam as cousas más como absoluta e inteiramente más e as boas como absoluta e inteiramente boas. Essa maneira formalista de abordar os problemas afetou o curso ulterior do movimento, o qual, no seu desenvolvimento, se dividiu em duas correntes. Um setor herdou-lhe o espírito científico e democrático e transformou-o na base do Marxismo; foi o que figeram os comunistas e alguns marxistas nom-membros do Partido. Outro setor embrenhou-se na via da burguesia, e foi o escorregar do formalismo para a direita. Mas mesmo no interior do Partido Comunista a situaçom nom era uniforme; alguns membros nom dominaram firmemente o Marxismo, desviaram-se e caíram em erros de formalismo, isto é, caíram no subjetivismo, no sectarismo e no estilo de cliché do Partido; foi o escorregar do formalismo para a “esquerda”. O estilo de cliché do Partido constitui pois, por um lado, umha reacçom contra os elementos positivos do Movimento de 4 de Maio e, por outro lado, umha herança, um prolongamento ou desenvolvimento dos elementos negativos desse movimento; de modo nengum é fenômeno fortuito. É bom que compreendamos isso. Tal como, na época do Movimento de 4 de Maio, a luita contra os velhos clichés e os velhos dogmas era revolucionária e indispensável, hoje é também revolucionário e indispensável criticar, à luz do Marxismo, os novos clichés e os novos dogmas. Sem essa luita travada durante o Movimento de 4 de Maio, o povo chinês nom teria podido libertar-se ideologicamente da sua submissom aos velhos clichés e aos velhos dogmas e a China nom poderia ter esperanças de liberdade e independência. Essa tarefa ficou apenas começada no período do Movimento de 4 de Maio, tornando-se ainda necessário, atualmente, um enorme esforço — colossal trabalho na via da remodelaçom revolucionária — para habilitar o povo a libertar-se totalmente da dominaçom dos velhos clichés e dogmas. Se nom combatemos hoje os novos clichés e os novos dogmas, o espírito do povo chinês ficará prisioneiro doutra espécie de formalismo. Se nom nos desembaraçamos do veneno do estilo de cliché e dos erros de dogmatismo de certo setor dentre os camaradas do Partido (apenas um setor, claro), será impossível fomentar um vigoroso e vivo espírito revolucionário, extirpar o mau hábito de adoptar umha atitude errada com relaçom ao Marxismo, e propagar e desenvolver amplamente o Marxismo autêntico; além disso, nom seremos capazes de combater com energia a influência exercida sobre o conjunto do povo polos velhos clichés e velhos dogmas, nem a influência exercida sobre muitos dos nossos compatriotas polos clichés e dogmas estrangeiros, sendo-nos impossível eliminá-los completamente.
O subjetivismo, o sectarismo e o estilo de cliché do Partido som, os três, antimarxistas; nom respondem às necessidades do proletariado mas sim às das classes exploradoras. Som um reflexo da ideologia pequeno-burguesa no Partido. A China é um país onde a pequena burguesia é umha classe muito numerosa, encontrando-se o nosso Partido rodeado por essa vasta classe; um número considerável dos nossos membros som oriundos desta e trouxérom inevitavelmente consigo um maior ou menor caudal de ideias pequeno-burguesas para o Partido. Se o fanatismo dos revolucionários pequeno-burgueses e a sua visom unilateral das cousas nom som contidos e corrigidos, podem facilmente engendrar o subjetivismo e o sectarismo, de que um dos modos de expressom é o estilo de cliché estrangeiro ou o estilo de cliché do Partido.
Nom é fácil liquidar esse fenômeno e eliminar-lhe todos os vestígios. A tarefa deve cumprir-se de modo adequado, quer dizer, com esforço de argumentaçom convincente. Se os nossos argumentos som bem expostos e formulados a propósito, serám eficazes. A argumentaçom consiste antes de mais em sacudir fortemente o doente, gritando-lhe: “Estás doente!”, para que, chocado, transpire de medo, e depois, dizer-lhe gentilmente que siga um tratamento.
Analisemos agora o estilo de cliché do Partido e vejamos onde reside o mal. Combatendo o veneno com o próprio veneno, vamos proceder, como o cliché da “dissertaçom em oito partes”(2), a um requisitório em “oito pontos”, a que poderíamos chamar oito pontos de acusaçom.
Primeiro crime do estilo de cliché do Partido: entregar-se a fraseologia interminável e vazia de sentido. Alguns dos nossos camaradas gostam de escrever artigos muito longos, mas sem substância, exatamente iguais às “longas e malcheirosas ligaduras de pés das damas preguiçosas”. Por que razom escrevem artigos assim tom longos e tom vazios? Só pode haver umha explicaçom, é que estom bem decididos a nom ser lidos polas massas. Como os artigos som intermináveis e vazios de substância, as massas abanam a cabeça ao primeiro olhar que deitam sobre eles; como haveriam de querer lê-los? Tais artigos só servem para enganar ingênuos, entre os quais exercem má influência e fomentam umha aquisiçom de maus hábitos. No dia 22 de Junho do ano passado, a Uniom Soviética começou a travar umha gigantesca guerra contra a agressom, e no entanto a alocuçom feita por Estáline no dia 3 de Julho nom foi mais longa que um editorial do nosso Quiefanjepao. Se qualquer desses nossos senhores tivesse de redigi-la, cousa terrível, constaria no mínimo de várias dezenas de milhares de caracteres. Nós estamos em plena guerra, temos de aprender a escrever artigos curtos e substanciosos. Embora nom haja guerra em Ien-an, as nossas tropas batem-se diariamente na frente, e a retaguarda está muito sobrecarregada de trabalho; se os artigos som excessivamente longos quem haverá que os leia? Alguns camaradas da frente gostam também de escrever longos relatórios. Dam-se a grandes penas para escrevê-los e enviam-nos para cá para que leiamos. Mas quem terá coragem para lê-los? E se os artigos longos e vazios nom som bons, serám porventura melhores os curtos e vazios? Claro que nom. É preciso acabar com toda a tagarelice vá. Mas a tarefa principal, primordial, é atirar para o lixo as longas e malcheirosas ligaduras de pés das damas preguiçosas. Alguns perguntarám: “E O Capital nom é acaso muito longo? Que fazer então?” A resposta é simples: continuar a lê-lo. Há um provérbio que diz: “Muda-se de montanha muda-se de canção” e um outro, “Ajustar o apetite às provisons, e a vestimenta à estatura”. Tudo que fazemos tem de fazer-se de acordo com as circunstâncias, e o mesmo acontece quando se trata de redigir artigos ou fazer discursos. Somos contra os clichés intermináveis e vazios de sentido, mas isso nom quer dizer que tudo tenha de ser curto para ser bom. Em tempo de guerra necessitamos de artigos breves, e é certo que necessitamos ainda mais de artigos com substância. Os artigos sem conteúdo som o que há de mais injustificável e condenável. O mesmo vale quanto aos discursos; devemos acabar com as tiradas vazias e intermináveis.
Segundo crime do estilo de cliché do Partido: tomar ares afetados e pretensiosos destinados a intimidar as pessoas. Alguns escritos em cliché som nom só intermináveis e vazios de sentido como também cheios de pretensons que visam, deliberadamente, a intimidar as pessoas; contêm um veneno dos mais perniciosos. A tagarelice interminável, vazia, sem substância, ainda pode considerar-se infantilidade, mas o recurso a esse ar afetado e pretensioso para intimidar as pessoas já nom é infantilidade, é desonestidade pura e simples. Criticando os que atuavam assim, Lu Sun disse umha vez que “insultar e intimidar nom é seguramente combater.”(3) Aquilo que é científico nunca receia a crítica, pois a ciência é verdade, de modo nengum teme a refutaçom. Ora, o subjetivismo e o sectarismo, tal como os encontramos nos escritos e discursos do estilo de cliché do Partido, sentem um medo terrível da refutaçom, som extremamente cobardes, razom por que a sua única saída é tomar ares pretensiosos para intimidar as pessoas, crendo poder assim tapar a boca dos outros e “regressar à corte triunfalmente”. Tal pretensom nunca poderá refletir a verdade, é apenas um obstáculo à verdade. A verdade nom tem que recorrer à pose de intimidaçom; impom-se por palavras e atos sinceros. Há duas expressons que aparecem com frequência nos artigos e discursos de inúmeros camaradas: umha é a “luita crua” e a outra, os “golpes despiedados”. Essas medidas som absolutamente necessárias contra o inimigo e contra a ideologia inimiga, mas usá-las com relaçom aos camaradas é incorreto. Acontece frequentemente que inimigos e ideias próprias ao inimigo se infiltrem no Partido, como se di no ponto 4 da conclusom do Compêndio de História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS. Aí, contra tais inimigos, nom há dúvida que devemos recorrer à luita crua e aos golpes despiedados, já que som exatamente esses os meios que tal canalha emprega contra o Partido, e, se formos tolerantes, caímos nas armadilhas que nos preparam. Mas as mesmas medidas nom devem aplicar-se com relaçom aos camaradas que tenham ocasionalmente cometido erros; com eles há que adoptar o método da crítica e autocrítica, como se indica no ponto 5 da conclusom do Compêndio de História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS. Se, no passado, certos camaradas passaram à “luita crua” e aos “golpes despiedados” contra outros, foi porque nom analisaram, por um lado, o caso daqueles com quem tratavam e, por outro lado, procuravam intimidar tomando ares pretensiosos. Esse método é inadmissível, seja com quem for que se estiver tratando. De todo inoperante contra o inimigo, a tática de intimidaçom nom pode mais que causar prejuízo com relaçom aos camaradas. É cousa habitual entre as classes exploradoras e entre o lumpemproletariado, mas o proletariado nom precisa disso. A arma mais cernelha e eficaz para este nom é outra senom a atitude científica, séria e militante. A vida do Partido Comunista nom; se baseia na intimidaçom mas sim na verdade do Marxismo-Leninismo, na busca da verdade nos fatos, na ciência. Quanto a querer obter fama e posiçom por meio de pretensom, nem vale a pena falar, é desprezível. Numha palavra, quando os organismos tomam decisons ou avançam diretivas, e quando os camaradas escrevem artigos ou fam discursos, devem todos apoiar-se na verdade do Marxismo-Leninismo e servir propósitos úteis. Só assim poderá garantir-se a vitória da revoluçom. Tudo o mais é vam.
Terceiro crime do estilo de cliché do Partido: disparar ao chou, sem ter em conta o auditório. Há alguns anos vi nos muros de Ien-an a palavra de ordem seguinte: “Operários e camponeses, unide-vos para conquistar a vitória na Guerra de Resistência contra o Japom!” O conteúdo da palavra de ordem de modo nengum era mau, mas na palavra 工 人 [cunjen=operários], o caráter 工 [cun=trabalho] estava desenhado 五, com o traço perpendicular em zigue-zague; quanto ao caráter 人 [jen=pessoa] tinha-se convertido em 友, três pequenos traços oblíquos cortando-lhe a perna direita. O camarada que os escreveu era sem qualquer dúvida discípulo de velhos letrados, mas escrever tais caracteres nos muros dumha cidade como Ien-an, na época da Guerra de Resistência, é cousa incompreensível. Possivelmente ele tinha-se prometido nom se fazer entender polas pessoas comuns pois é de fato difícil encontrar outra explicaçom. Os comunistas que desejam efetivamente fazer propaganda, devem ter em conta o auditório, pensar naqueles que ham de ouvir-lhes e ver-lhes os artigos, a caligrafia, os discursos e as intervençons. Doutro modo estám realmente decididos a nom serem lidos nem ouvidos por ninguém. Muitos imaginam com frequência que o que escrevem ou dim é compreensível para todos, quando de fato as cousas nom som nada assim. Como poderám as pessoas entender o que eles escrevem ou dim em estilo de cliché do Partido? O ditado “tocar lira para búfalos” traduz a zombaria em relaçom ao auditório. Mas se, polo contrário, o interpretamos no sentido do respeito polo auditório, a zombaria recai sobre o executante. Por que razom se obstinará ele em tocar sem considerar o auditório? E o pior é que o estilo de cliché do Partido tem tudo do crocitar do corvo e nom deixa de insistir em moer as massas populares com os seus grasnidos. Quando se arremessam flechas impom-se visar o alvo, e quando se toca lira há que pensar no auditório. Como pois escrever artigos e fazer discursos sem ter em conta os leitores e os ouvintes? Suponhamos que queremos estabelecer amizade com alguém; poderá chegar-se a umha amizade íntima sem que as partes se compreendam, ignorando cada umha o que a outra tem no fundo da alma? Os nossos propagandistas nom chegarám a resultado nengum enquanto nom figerem mais que tagarelar sem procurar saber quem é o seu público, sem estudá-lo, sem analisá-lo.
Quarto crime do estilo de cliché do Partido: usar linguagem monótona e insípida, que lembra um piessan(4). O tipo descarnado e feio a que os xangaienses chamam “pequeno piessan” assemelha-se muito ao estilo de cliché do Partido. Se um artigo ou discurso nom fai senom repisar uns quantos termos, em tom de sala de aula, sem alma nem vigor, nom será de fato um piessan, monótono, insípido e repelente de aspeto? Se alguém entrou para a escola aos sete anos, passou polo liceu na adolescência, concluiu com mais de vinte anos os estudos universitários mas nunca estivo em contato com as massas populares, nada haverá de estranho se a sua linguagem for pobre e monótona. Nós somos um partido revolucionário, trabalhamos para as massas; se nom aprendemos a língua das massas nom podemos levar a bom termo o nosso trabalho. Muitos dos camaradas que se ocupam atualmente da propaganda tampouco estudam a língua; a propaganda que fam é insípida, e som poucas as pessoas que se disponhem a ler-lhes os artigos e ouvir-lhes os discursos. Por quê estudar a língua e despender nisso grande esforço? Porque umha língua nom se domina facilmente, necessita-se grande esforço. Primeiramente, há que estudar a língua junto das massas. O vocabulário do povo é muito rico e vivo, reflete a vida real. Como muitos dentre nós nom aprendérom a fundo a língua, os nossos artigos e discursos contenhem poucas expressons vivas, precisas, pujantes; apenas lhes restam uns quantos tendons ressequidos, como um piessan horrível de magreza, de modo nengum se trata dum corpo saudável. Segundo, é preciso assimilar das línguas estrangeiras aquilo que necessitamos. Nom devemos utilizar as expressons estrangeiras mecanicamente, abusivamente, mas sim extrair das línguas estrangeiras o que é bom e útil para nós. Como o velho vocabulário chinês é insuficiente, muitas das palavras do nosso vocabulário atual som assimiladas das línguas estrangeiras. Por exemplo, hoje estamos procedendo a umha reuniom de campu [quadros], ora, a palavra campu véu do estrangeiro. Há que assimilar ainda mais o que é novo no estrangeiro, nom somente ideias progressistas, também termos novos. Terceiro, deve-se também aprender o que há de vivo na língua clássica chinesa. Como nom nos aplicamos suficientemente ao estudo da língua clássica chinesa, nom fomos capazes de utilizar plena e racionalmente o muito de vivo que nela resta. Claro que nos opomos resolutamente à utilizaçom de expressons ou alusons mortas, isso está assente, mas o que é bom e ainda útil importa recolhê-lo como herança. As pessoas mais intoxicadas polo estilo de cliché do Partido nom se dam ao trabalho de estudar tenazmente o que há de útil na língua popular, nas línguas estrangeiras e na língua clássica chinesa, razom por que as massas nom acolhem favoravelmente a sua propaganda monótona e insípida, e nós tampouco temos necessidade de propagandistas assim medíocres e incompetentes. Quem som os nossos propagandistas? Os nossos propagandistas nom som apenas os professores, jornalistas, escritores e artistas, som todos os nossos quadros. Por exemplo, consideremos os comandantes do exército. Embora nom fagam declaraçons públicas, eles tenhem de falar aos soldados e entrar em contato com o povo; ora, o que será isso senom propaganda? Assim que umha pessoa se dirige a outras, fai propaganda. E a nom ser que se seja mudo, há sempre algo para dizer. Por isso se torna imperioso que os nossos camaradas estudem todos a língua.
Quinto crime do estilo de cliché do Partido: alinhar os pontos a tratar segundo umha ordem de cabeçalhos como nas farmácias tradicionais chinesas. Passem os olhos por qualquer farmácia chinesa e olhem para os armários de muitas gavetas, cada umha com o seu rótulo: angélico, dedaleira, ruibarbo, salitre, tudo quanto pode existir. Esse sistema foi também adoptado polos nossos camaradas. Nos seus artigos e discursos, nos seus livros e relatórios, utilizam primeiro os números chineses em caracteres maiúsculos, logo em minúsculos, a seguir os caracteres para os dez celestiais, depois os caracteres para os doze ramos da Terra e entom as maiúsculas A, B, C, D, as minúsculas a, b, c, d, os números árabes e sei lá que mais! Que fortuna terem os antigos e os estrangeiros criado todos esses símbolos, de tal maneira que hoje podemos abrir umha farmácia chinesa sem o mais pequeno esforço! Um artigo que, abarrotado de tais símbolos, nom levanta, nom analisa e nom resolve o menor problema nem se pronuncia por ou contra seja o que for, feitas todas as contas nom é mais que umha farmácia chinesa, nom tem conteúdo determinado. Eu nom digo que os símbolos como os dez celestiais, etc., nom devam ser utilizados, somente essa maneira de abordar os problemas é que está errada. Muitos dos nossos camaradas ganharam agora o gosto polo método da farmácia chinesa que, na realidade, é o mais terra a terra, infantil e vulgar de todos os métodos. E um método formalista que classifica as cousas polos aspetos externos, e nom polos laços internos. Se umha pessoa agarra num montom de conceitos nom relacionados internamente e os alinhava em artigos, discursos ou relatórios, atendendo apenas aos aspetos externos dos fenômenos, está a jogar com os conceitos e pode até induzir outros a entrar no mesmo jogo, com o resultado de nom usarem os seus cérebros para pensar os problemas e penetrar na essência dos fenômenos e contentarem-se com umha simples lista de fenômenos segundo a ordem A, B, C, D. O que é um problema? E umha contradiçom num fenômeno. Onde quer que exista umha contradiçom nom resolvida há um problema. Sempre que há problema há o dever de tomar partido por um lado e contra o outro lado, e impom-se levantar o problema. Para levantar um problema é preciso, antes de mais, proceder à investigaçom e estudo gerais sobre os dous aspetos fundamentais do problema, isto é, da contradiçom, a fim de ser possível entender a natureza mesma da contradiçom; esse é o processo de pôr em evidência o problema. Fazendo a investigaçom e o estudo sobre o problema nas suas linhas gerais, pode-se pô-lo em evidência, levantar o problema, mas nom ainda resolvê-lo. Para resolvê-lo é necessário passar à investigaçom e estudo sistemáticos e minuciosos; é o processo de análise. Definir um problema também exige análise, doutro modo ‘ nom é possível, num montom confuso e disparate de fenômenos, ver onde está o problema, quer dizer, a contradiçom. Mas o processo de análise de que se trata aqui é o processo de análise sistemática e minuciosa. Acontece frequentemente que, levantado um problema, nom se pode resolvê-lo porque nom se descobriram os laços internos dos fenômenos, nom se submeteu o problema a umha análise sistemática e minuciosa, e por isso ainda nom se veem claramente os aspetos do problema nem é possível fazer já a respetiva síntese nem dar-lhe soluçom adequada. Todo o artigo ou discurso, quando importante e indicador dumha direcçom a seguir, levanta sempre um problema, analisa-o e procede à respetiva síntese, a fim de definir-lhe a natureza e estabelecer o processo de resolvê-lo; o método formalista de modo nengum serve. Ora, como o método formalista, infantil, terra a terra, vulgar e de preguiça mental está a generalizar-se no Partido, o nosso dever é denunciá-lo, para que cada um poda aprender a utilizar o método marxista quando abordar, levantar, analisar ou resolver os problemas. Só assim poderemos levar a bom termo o nosso trabalho, só assim poderá a nossa causa revolucionária triunfar.
Sexto crime do estilo de cliché do Partido: nom assumir as responsabilidades e causar prejuízos onde quer que se manifeste. Todo o mal enunciado acima deve-se, por um lado, à ingenuidade, e, por outro, ao deficiente sentido das responsabilidades. Tomemos como ilustraçom a lavagem do rosto. Todos lavamos diariamente a cara, havendo até quem o faga mais dumha vez ao dia, olhando-se ao espelho, como investigaçom e estudo (gargalhadas), receoso de que algo nom tenha ficado bem. Que elevado sentido das responsabilidades! Se escrevêssemos artigos e fizéssemos discursos com o mesmo sentido das responsabilidades, nom atuaríamos assim tom mal. Nom se deve apresentar aquilo que nom é apresentável; há que ter sempre em mente o fato de os nossos artigos e discursos serem capazes de influenciar o pensamento e a acçom dos outros! Se alguém nom lava o rosto durante um ou dous dias, nom há dúvidas de que isso nom está bem, e se, quando se lava, deixa ainda um ou dous traços de sujidade na cara é claro que também nom é agradável. Contudo, nom se trata de algo que represente maior perigo. Mas as cousas já som distintas com os artigos e os discursos, destinados especificamente a influenciar os demais. Nom obstante, os nossos camaradas avançam nisso com leviandade, o que significa colocar o trivial acima do fundamental. Muitos escrevem artigos ou fam discursos sem estudo prévio, sem preparaçom, e assim que terminam os artigos publicam-nos apressadamente, sem dar-se ao trabalho de relê-los várias vezes, como cuidariam de observar-se ao espelho após a lavagem do rosto. O resultado traduz-se frequentemente nisto: “Escrevem mil palavras num riscar da pena e ficam a dez mil do tema”. Muito talentosos na aparência, esses escritores o que fam é mal a toda a gente. Há que corrigir esse mau hábito, esse fraco sentido das responsabilidades.
Sétimo crime do estilo de cliché do Partido: envenenar todo o Partido e prejudicar a revoluçom. O oitavo crime está em, com a sua difusom, demolir o país e arruinar o povo. Esses dous crimes som tom evidentes que dispensam comentário. Dizendo por outras palavras, se nom se elimina o estilo de cliché do Partido, se se lhe permite livre curso, as consequências poderám ser muito graves. O que se esconde no estilo de cliché do Partido é o veneno do subjetivismo e do sectarismo e, se tal veneno se espalha, será um desastre para o Partido e para o país.
Estes oito pontos de acusaçom constituem o nosso chamamento às armas contra o estilo de cliché do Partido.
Como forma, o estilo de cliché do Partido é nom somente inconveniente para traduzir o espírito revolucionário como até apto para extinguir esse espírito. Para que o espírito revolucionário se desenvolva, torna-se necessário renunciar ao estilo de cliché do Partido e substituí-lo polo estilo marxista-leninista, vivo, transpirando frescura e vigor. Este existe de há muito mas nom foi ainda enriquecido e propagado por toda a parte. Quando tivermos eliminado o estilo de cliché estrangeiro e o estilo de cliché do Partido, poderemos enriquecer e popularizar o nosso novo estilo, o que fará avançar a causa revolucionária do Partido.
O estilo de cliché do Partido nom se limita apenas aos artigos e discursos, revela-se também na maneira como se conduzem as nossas reunions: “1. abertura; 2. relatório; 3. discussom; 4. conclusons; 5. encerramento”. Esse proceder mecânico, repetido por toda a parte em cada reuniom grande ou pequena, acaso nom é exatamente umha forma de cliché do Partido? Os “relatórios” apresentados nas reunions contenhem frequentemente tais pontos: “1. situaçom internacional; 2. situaçom interna; 3. situaçom na regiom fronteiriça; 4. situaçom na nossa secçom de trabalho”. As reunions vam com frequência da manhá à noite, e mesmo os que nada tenhem a dizer avançam com intervençons, como se, calando, faltassem ao seu dever frente aos demais. Resumindo, despreocupando-se das circunstâncias concretas aferram-se às velhas formas e costumes. Acaso nom deve também corrigir-se tal fenômeno?
Actualmente, som muitos os que preconizam umha transformaçom total no sentido nacional, científico e popular, o que é muito bom. Mas “transformaçom total” significa mudança da cabeça aos pés, interna e externa; ora, há quem nom tenha feito sequer a mais “pequena mudança” e esteja no entanto a clamar pola “transformaçom total”! Eu gostaria pois de aconselhar a esses camaradas que começassem por impor-se umha “pequena mudança” antes de passarem à “transformaçom total”, pois, de contrário, continuarám presos ao dogmatismo e ao estilo de cliché do Partido. Isso pode definir-se como “visar demasiado alto para débeis recursos”, “grandes ambiçons para diminuto talento” e a nada pode conduzir. Assim, aqueles que muito falam de “transformaçom total no sentido dum estilo de massas” quando na prática se limitam aferradamente ao seu grupinho, precisam de fazer muita atençom, pois, um dia, alguém dentre as massas poderá saltar-lhes ao caminho dizendo: “Senhor, mostre um pouco da sua transformaçom total, por favor!”, com o que receberom um xeque-mate. Se eles nom estám apenas pregando, mas querem realmente umha transformaçom total no sentido dum estilo de massas, devem ir de fato ao povo e aprender com este, pois de contrário a sua “transformaçom total” permanecerá cousa no ar. Há gente que fica berrando pola transformaçom total no sentido dum estilo de massas mas é incapaz de dizer três frases na língua da gente comum. Isso mostra como nom estám realmente determinados a aprender junto das massas. O seu espírito continua confinado ao seu reduzido grupinho.
Foi distribuída nesta reuniom umha brochura, intitulada Guia de Propaganda, que contém quatro artigos; eu aconselho os camaradas a lerem e relerem tal brochura.
O primeiro desses textos compom-se de extratos do Compêndio de História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS e trata do modo como Lénine fazia o trabalho de propaganda. Entre outros pontos descreve como Lénine redigia um panfleto:
“Sob a direcçom de Lénine, a ‘Uniom de luita pola Libertaçom da Classe Operária’ de Petersburgo foi a primeira organizaçom que procedeu, na Rússia, à fusom do socialismo com o movimento operário. Assim que estalava umha greve numha fábrica, a ‘Uniom de Luita’, que conhecia perfeitamente a situaçom nas empresas através dos membros dos seus círculos, reagia logo com a publicaçom de panfletos e proclamaçons socialistas. Esses panfletos denunciavam a opressom de que eram vítimas os operários por parte dos fabricantes, explicavam como os operários deviam luitar pola defesa dos seus interesses e enunciavam as reivindicaçons operárias. Os panfletos proclamavam a inteira verdade sobre as chagas do capitalismo, a vida miserável dos operários, a intolerável jornada de doze a quatorze horas de trabalho e a sua situaçom de párias. Os panfletos avançavam também reivindicaçons políticas adequadas.”
Notem bem: “conhecia perfeitamente a situação” e “proclamavam a inteira verdade”!
“Com o concurso do operário Babuchkin, nos fins de 1894, Lénine elaborou o primeiro desses panfletos de agitaçom e um apelo aos operários grevistas da fábrica Semianikov de Petersburgo.”
Para redigir um panfleto torna-se necessário consultar os camaradas que conhecem a situaçom. Era na base de tais investigaçons e estudos que Lénine escrevia e trabalhava.
“Cada um desses panfletos ajudava poderosamente a elevar o espírito dos operários. Estes apercebiam-se de que os socialistas estavam a ajudá-los e a defendê-los.”(5)
Estaremos nós de acordo com Lénine? Se estamos, devemos trabalhar segundo o seu espírito. Quer dizer, devemos agir como Lénine agia e nom encher páginas de fraseologia interminável, vazia de sentido, nem disparar ao chou, sem ter em conta o auditório, ou crer-nos infalíveis e pomposos.
O segundo texto é composto de extratos dum discurso de Dimitrov ante o VII Congresso da Internacional Comunista. Que dizia Dimitrov? Dizia isto:
“Há que aprender a falar às massas, nom na língua das fórmulas livrescas, mas na língua dos combatentes da causa das massas, cujas palavras e ideias refletem, cada umha, os pensamentos e sentimentos de milhons.”
E ainda:
“… a assimilaçom das nossas decisons polas grandes massas é impossível se nom aprendemos a falar umha língua compreensível para as massas. Estamos longe de falar sempre com simplicidade, concretamente, servindo-nos de imagens familiares e compreensíveis para as massas. Ainda nom somos capazes de renunciar às fórmulas abstratas aprendidas de cor. Efetivamente, olhem para os nossos panfletos, jornais, resoluçons e teses, e verom como som frequentemente redigidos numha linguagem tom pesada que até os nossos militantes tenhem dificuldade em compreendê-los e, com maior razom ainda, os simples operários.”
Bem? Nom terá entom Dimitrov posto o dedo no nosso ponto fraco? Como é evidente, o estilo de cliché do Partido existe tanto no estrangeiro como na China, sendo pois umha doença bastante generalizada. (Risos.) Mas seja como for, nós precisamos de curar-nos o mais rapidamente da doença, de acordo com as indicaçons do camarada Dimitrov:
“Cada um de nós deve assimilar a fundo, como lei, lei bolchevista, a seguinte regra elementar: Sempre que escreveres ou falares, mantêm constantemente no espírito os operários de base * que devem compreender-te, que devem convencer-se do teu apelo e estar prontos a seguir-te! Há que pensar naqueles para quem escreves ou falas.”(6)
Essa é umha receita prescrita pola Internacional Comunista para que nos curemos da doença. Há que observá-la. Tomemo-la pois como lei!
O terceiro texto, selecionado das Obras Completas de Lu Sun, é a resposta desse autor à revista Petoutsatche (Ursa Maior)(7), em discussom sobre o como escrever. Que dizia Lu Sun? Formulava oito regras a observar polos que escrevem, algumas das quais gostaria de referir aqui.
Regra 1: “Atentar detidamente nas várias espécies de fenômenos; observar no máximo, nom escrever se apenas se observou um pouco.”
O que dizia era “atentar detidamente nas várias espécies de fenômenos”, nom apenas em um só fenômeno ou metade de fenômeno. Dizia “observar no máximo”, nom apenas dar umha olhadela ou meia olhadela. E que fazemos nós? Acaso nom fazemos exatamente o contrário e nos lançamos a escrever após termos observado apenas um pouco?
Regra 2: “Nom empenhar-se em escrever quando nada se tem a dizer.”
Que fazemos nós? Nom é verdade que nos esforçamos a escrever muito, mesmo quando é de todo evidente que nada há nas nossas cabeças? Constitui pura irresponsabilidade pegar na caneta e “empenhar-se em escrever” sem investigaçom nem estudo prévios.
Regra 4: “Depois de se ter escrito algo, ler polo menos duas vezes o que se escreveu e fazer o máximo por cortar sem perdom as palavras, frases e parágrafos nom indispensáveis. Mais vale condensar a matéria dum romance num conto que alongar a matéria dum conto por todo um romance.”
Confúcio aconselhava a “refletir duas vezes”(8) e Han Iu dizia que “o êxito deve-se à meditaçom”(9). E isso era nos tempos antigos. Hoje, as cousas tornaram-se muito complicadas e muitas vezes já nem bastam três ou quatro reflexons. Lu Sun falava em “ler polo menos duas vezes”. E quantas no máximo? Isso ele já nom disse mas, em minha opiniom, nom será prejudicial ler mais de dez vezes os artigos importantes, e revê-los cuidadosamente antes da publicaçom. Os escritos som um reflexo da realidade objetiva, que é intrincada, complexa, devendo ser estudada repetidamente até que poda ser adequadamente refletida; ser negligente nesse domínio é ser ignorante das noçons elementares sobre a arte de escrever.
Regra 6: “Nom fabricar adjetivos ou outros termos incompreensíveis para todos exceptuado o próprio autor.”
Nós “fabricamos” demasiadas expressons que, em resumo, “ninguém entende”. Por vezes, umha só afirmaçom alonga-se por quarenta ou cinquenta caracteres embrulhada em “adjetivos ou outros termos incompreensíveis para todos”. Muitos que incansavelmente proclamam que seguem Lu Sun som exatamente quem lhe vira as costas!
O último texto da brochura é extraído do relatório sobre o processo de desenvolver um estilo nacional de propaganda, adoptado pola Sexta Sessom Plenária do Comité Central eleito polo VI Congresso do Partido Comunista da China. Nessa sessom, realizada em 1938, nós dixemos que
“toda a afirmaçom sobre Marxismo, desligada das caraterísticas específicas da China, é apenas Marxismo abstrato, Marxismo no vácuo.”
Quer dizer que devemos opor-nos a toda a afirmaçom vazia sobre o Marxismo, e os comunistas que vivem na China devem estudar o Marxismo ligando-o às realidades da revoluçom chinesa.
“Há que acabar com o estilo de cliché estrangeiro, devemos cantar menos cançons vazias em toadas abstratas e deixar a dormir o dogmatismo, para deixar lugar a um ar e estilo chineses, plenos de frescor e vida, agradáveis ao ouvido e à vista das pessoas simples do nosso país. Separar o conteúdo internacionalista da forma nacional é prática dos que nom compreendem cousa nengumha sobre internacionalismo. Contrariamente, nós temos que ligar estreitamente umha cousa à outra. Nesse aspeto há graves erros nas nossas fileiras, erros que devemos conscienciosamente superar.”
Esse documento exigiu a liquidaçom do estilo de cliché estrangeiro mas, na prática, certos camaradas continuam ainda a fomentá-lo. Exigiu que se cantem menos cançons vazias em toadas abstratas, mas certos camaradas persistem em cantarolar mais do que nunca. Exigiu que se deixasse a dormir o dogmatismo mas certos camaradas desejam fazê-lo sair da cama. Resumindo, muitos deixárom que o relatório adoptado pola Sexta Sessom Plenária lhes entrasse por umha orelha e saísse pola outra, como se se opusessem deliberadamente a ele.
O Comité Central decidiu agora que devemos desembaraçar-nos inteiramente do estilo de cliché do Partido, do dogmatismo, etc., essa é a razom por que falei longamente. Espero que os nossos camaradas pensem e analisem quanto dixem, e que cada um faga umha análise do seu próprio caso. Cada um deve examinar-se cuidadosamente, discutir com os amigos íntimos e os camaradas à sua volta sobre os pontos que tiver esclarecido e eliminar realmente os seus defeitos.
Notas de rodapé:
(1) O estilo de cliché estrangeiro, desenvolvido e propagado por intelectuais superficiais da burguesia e pequena burguesia após o Movimento de 4 de Maio de 1919, manifestou-se durante muito tempo nas fileiras revolucionárias dos trabalhadores da cultura. Em vários ensaios, Lu Sun combateu o estilo de cliché estrangeiro entom existente nas fileiras, e condenou-o nos termos seguintes: “Uma limpeza completa deve fazer-se de todo o estilo de cliché, tanto velho como novo. . . Por exemplo, constitui também umha espécie de cliché, “injuriar”, “intimidar” ou mesmo “lavrar sentenças”, reduzindo-se a copiar velhas fórmulas e a aplicá-las indiscriminadamente a todos os fatos, em vez de, especificada e concretamente, usar fórmulas originadas da ciência para explicar os novos fatos e fenômenos que surgem diariamente.” (“Resposta a Tchu Siu-sia”.)
(2) Dissertaçom especial que o sistema dos exames imperiais previa na China do século XV ao século XIX. A dissertaçom compreendia oito partes: introduçom, exposiçom do tema, teses gerais da dissertaçom, passagem à exposiçom, começo da exposiçom, meio da exposiçom, fim da exposiçom e conclusão. A “introduçom” compunha-se apenas de duas frases explicativas do tema. A “exposiçom do tema” eram três ou quatro frases que se seguiam à explicaçom dada na introduçom. As “teses gerais da dissertação” apresentavam, em resumo, o tema, marcando o começo do comentário. A “passagem à explicação” era umha fórmula de transiçom que se seguia às teses gerais. As últimas quatro partes — começo da exposiçom, meio da exposiçom, fim da exposiçom e conclusom — constituíam o comentário propriamente dito; o meio da exposiçom era a essência do trabalho. Cada umha dessas quatro partes compunha-se dumha tese e dumha anti-tese, o que, no total, perfazia oito secçons, donde a designaçom de “dissertaçom em oito partes” ou “dissertaçom em quatro pares”. Mao Tsetung refere-se aqui à exposiçom consequente do tema dumha “dissertaçom em oito partes , para mostrar dumha maneira imagética o desenvolvimento das diferentes fases da revoluçom. Geralmente, porém, recorre-se à expressom “dissertaçom em oito partes’ como metáfora irónica, subentendendo-se por isso o dogmatismo.
(3) Título dum ensaio escrito por Lu Sun em 1932, integrado na coletânea “Dialeto do Norte com Acento do Sul”, Obras Completas de Lu Sun, Tomo V.
(4) Em Xangai, chamava-se piessan aos vagabundos magros em extremo que, nom tendo profissom honesta, viviam da mendicidade e do furto.
(5) Compêndio de História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS, capítulo I, secçom 3.
(6) J. Dimitrov: pola Unidade da Classe Operária contra o Fascismo, discurso de encerramento no VII Congresso da Internacional Comunista, sexta parte: “Ter umha Linha Justa ainda nom Basta”.
(7) A revista mensal Petoutsatche (Ursa Maior) era editada pola Liga dos Escritores Chineses de Esquerda, em 1931-1932. O artigo de Lu Sun, “Resposta à Redacçom da Revista Petoutsatche’’, figura na coletânea “Dous Coraçons”, Obras Completas de Lu Sun, Tomo IV.
(8) Ver Confúcio, Conversaçons, Livro V, “Cungie Tcham”.
(9) Han Iu (768-824), escritor célebre da dinastia dos Tans. Na sua “Introduçom à Ciência”, escreveu: “O êxito deve-se à meditaçom e o fracasso à irreflexão.”