O Primeiro de Outubro tivo e tem um duplo sentido. Significa independência, a República da Catalunha, mas também significa o fim daquela Catalunha que alguns consideravam propriedade privada. Sua. Porque, superando essa visom patrimonial e com a tarefa compartilhada de construir um país independente, o Primeiro de Outubro pujo em marcha um projeto democrático, radicalmente democrático, em que nom uns poucos, mas a grande maioria, se soubo -fazendo-o realidade- senhores do nosso destino pola primeira vez.

É por isso que, por causa dessa consciência, que das tantas cousas que acontecérom ontem, a que mais me surpreendeu – nom sei se dizer “surpresa” é preciso davondo – foi a encenaçom disso que eles nos querem dizer de que se trata dumha nova etapa da Generalitat se realizasse justamente no cenário mais antigo e pré-1º de Outubro, mais pujolista, no sentido mais caricaturado possível da expressom, que ninguém poderia imaginar.

Porque, enquanto os Mossos prendérom um líder do ANC pelo Tsunami Democrático e os tribunais obrigárom o governo a avisar a todas as pessoas que realizam a seletividade de que podem fazê-la em espanhol, o presidente da “Generalitat Republicana” prestou homenagem, nem mais nem menos, que ao Conde de Godó, dono de La Vanguardia, jornal defendido por toda a Generalitat anterior, com dinheiro público malgastado e adulaçom. E fijo-o jogando na casa do unionista Foment del Treball e do braço de Sànchez Llibre – ai, mimá- que agora quer fazer política por trás e dar bençons, embora os cidadaos o tenham afastado da vida política regular ao negar-lhe os votos. E todos enfeitados nom coa senyera quadribarrada, mas com logotipos cada um mais perigoso que o outro: Naturgy, a nova marca do antigo Gas Natural do consigliere Giró –um verdadeiro paraíso para as portas giratórias do regime–, e Glovo, todo um referente para ser abatido pola esquerda social e militante quanto a justiça laboral. Ele fijo-o aplaudindo e sorrindo, deleitado e aparentemente satisfeito coas atençons dum presidente do governo espanhol que foi protocolariamente colocado umha e outra vez por riba sua. Aplaude e sorri o mesmo presidente que há um ano e meio tivo que deixar o Hospital Sant Pau co rabo entre as pernas e a metralhadora dos acompanhantes nas maos, enquanto os paramédicos clamavam pola liberdade dos presos políticos.

É claro que, numha sincronizaçom perfeita e bem estudada, um dos mais famosos presos políticos, Oriol Junqueras, saudou a visita e o aquelarre constitucionalista com um artigo mui oportuno do jornal Ara, no qual afirmou basicamente três cousas. Em primeiro lugar, rejeitou como “indesejável” qualquer via nom acordada com o Estado espanhol -a unilateral, portanto. Em segundo lugar, aceitou aquele mesmo perdom que numha entrevista há um ano e meio dixera que “podiam meter por onde lhes couber”. E em terceiro lugar, afirmou que umha parte importante da sociedade catalá nom entendera o Primeiro de Outubro como uma açom “plenamente legítima”. E é por isso que o líder do ERC dixo que queria “estender a mao a todos aqueles que pudérom ser excluídos”. E pum! Meu dito meu feito: Sànchez Llibre, Javier de Godó e Pedro Sánchez. Todos os três dumha vez e no mesmo dia. Como se o Principado repentinamente retornasse ao passado elitista dos happy few e a esquerda fosse mais direitista do que a direita e todo.

Eu dixem isto ontem, comentando sobre a virada positiva da batalha do exílio: parece que todo se vai acelerar muito nos próximos meses. Portanto, podedes tomar mui a sério que imos ver cousas extraordinárias acontecerem numha direçom e noutra, nas renúncias cada vez mais aceleradas e na consolidaçom da legitimidade do Primeiro de Outubro e no encurralamento da violenta reaçom espanhola.

*Publicado em Vilaweb o 07 de Junho de 2021